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André Ventura: “Se o Sporting não mudar de rumo deixará de ser um dos grandes”

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andré ventura
André Ventura é o coordenador do movimento “Benfica para a Frente, Vieira a Presidente”. Não há que enganar. Fala dos três grandes, sobretudo do Sporting.

É um dos coordenadores do Movimento “Benfica para a Frente, Vieira a Presidente”. Justifica-se a continuidade de Luís Filipe Vieira à frente do Benfica?

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Absolutamente. Quando Vieira chega ao Benfica, o clube estava à beira do desaparecimento. Os benfiquistas estavam desanimados, sucediam-se as contratações desastradas e o clube deixara de ter parceiros comerciais ou fornecedores: ninguém se queria envolver em qualquer espécie de negócios com o Benfica. O que temos, passado pouco mais de uma década, é incrível: o SLB voltou às vitórias, ao patamar europeu e as contas são o que se vê, com números de capitais próprios positivos a aparecerem sucessivamente nos relatórios financeiros.

Os três grandes clubes portugueses têm agora dirigentes à altura para termos sempre este tipo de campeonatos disputados e entusiasmantes?

Não é apenas por ser um dos coordenadores de um movimento para a reeleição do Presidente Luís Filipe Vieira que lhe digo isto. Di-lo-ia mesmo que não fosse sequer um ator interventivo no mundo do comentário desportivo: Sporting e Porto não têm, neste momento, dirigentes à altura da grandeza das instituições que representam.
Sobre Bruno de Carvalho, não é preciso alongarmo-nos muito: tanta polémica, tantas acusações e insinuações sobre tudo e mais alguma coisa para ficar, no fim, com uma mão cheia de nada. Os tão badalados “vouchers” foram arquivados pela Federação Portuguesa de Futebol, os litígios com a Doyen acabaram como sabemos, o negócio Carrillo foi desastroso e humilhante e o campeonato passou ao lado… assim como a Taça de Portugal, a Liga dos Campeões e a Taça da Liga. Se o Sporting não arrepiar caminho, dentro de dez anos haverá apenas dois clubes grandes em Portugal: Benfica e Porto.
Quanto a Jorge Nuno Pinto da Costa, é inevitável reconhecer-lhe o mérito de ter recriado completamente o FC Porto e de ter levado o clube às maiores glórias da sua história. Mas tudo tem o seu tempo e o atual presidente azul e branco já perdeu completamente o controlo das suas tropas – inclusive dos seus homens de confiança – e o norte da liderança. A entrevista que deu a responsabilizar Lopetegui e a desresponsabilizar-se pelos piores resultados de sempre da equipa são a prova evidente disso mesmo.

E porque não aparece ninguém a contestar seriamente as respetivas lideranças?

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No Sporting penso que aparecerá, e que até já se reúnem fundos e estratégias. No FC Porto, a questão choca-me profundamente: o clube não vence nada há três anos e ninguém tem coragem de enfrentar Pinto da Costa. Só se explica em função de um clima geral de intimidação que se vive em torno da atual liderança do clube azul e branco. Talvez alguns processos que correm na justiça consigam explicar esse clima…

Após o tricampeonato, já se fala numa série de jogadores que poderão ser vendidos: Ederson, Jardel, Lindeloff, Lisandro López, Talisca, Salvio, Jonas, entre outros. Não se corre um sério risco desportivo?

É um risco que encontramos em todas as grandes mudanças de paradigma. Os clubes portugueses têm de se adaptar a uma nova realidade financeira: o interminável financiamento bancário acabou e há regras de fair-play impostas pela UEFA que é necessário cumprir. Para além disso – e o presidente já o assumiu –, há um nível de passivo muito significativo que é necessário abater. A solução, por isso, não pode passar por outro processo senão por este: formar, valorizar e vender, de preferência com grandes margens de rentabilidade.
Depois, é preciso não esquecer que o Benfica tem um departamento de prospeção e análise de mercado extremamente eficaz. As saídas serão meticulosamente preparadas e darão origem, tenho a certeza, a subidas de jovens para a equipa principal e a contratações específicas, como os já anunciados Cervi e André Horta, dois jogadores de inegável valor e potencial.

Mas não é um risco para a época que se aproxima, desportivamente falando? Não estará Vieira a abusar da sorte?

Tem-se falado de muitos jogadores, mas anda por aí muita especulação. Na verdade, até agora, apenas Renato Sanches e Gaitán são saídas certas. Claro que, até porque estamos em ano de Europeu e Copa América, outros se sucederão com toda a probabilidade. Mas vamos a factos: alguém acha que 20 milhões por Jonas é um mau negócio? Ou por Talisca? Será um risco desportivo assim tão tremendo? No Benfica, não há insubstituíveis como mostram bem as saídas de Matic ou Enzo Perez… hoje já ninguém fala nisso! O Benfica tem um novo modelo de gestão desportiva e não pode abdicar dele.

Em caso de saída de alguns jogadores importantes do plantel, é possível que alguns valores da Academia do Seixal possam suprir estas ausências?

A ideia é essa mesma, assegurar uma linha de crescimento dos jogadores e aposta na respetiva formação que possa levar, em muitos casos, à equipa principal. Houve as transferências de Ivan Cavaleiro e Bernardo Silva. Mas veja-se o que aconteceu este ano, com a entrada em campo de jogadores como Renato Sanches, Gonçalo Guedes, Nelson Semedo, Lindeloff, Victor Andrade ou mesmo Nuno Santos e Clésio. Ao oitavo jogo da Liga 2015/16, Rui Vitória já tinha dado mais minutos aos miúdos da equipa B do que Jorge Jesus em temporadas inteiras. Por isso, a minha conclusão é inequívoca e afirmativa: apesar de alguns reforços pontuais (como Cervi), tem de continuar a aposta na formação e no trabalho nas camadas juniores e juvenis.

Há jogadores nas camadas jovens ou na equipa B com capacidade de jogar na equipa principal, com Rui Vitória?

Alguém pode ter dúvidas disso? Renato Sanches deixou de ser um desconhecido miúdo que começou a jogar na Musgueira para passar a ser um dos pilares do meio-campo do Benfica e, quiçá, da nossa Seleção. Foi transferido por uma fortuna para o Bayern de Munique, um dos maiores colossos do mundo do futebol. De resto, quem pode negar o talento e o gigantesco potencial de José Gomes, melhor marcador do Europeu sub 17, com 25 golos em 27 jogos, ou mesmo de jovens como João Lima, Hildeberto ou Raphael Guzzo? O Benfica tem um enorme futuro pela frente.

Em Alvalade, Slimani e João Mário são os grandes candidatos a deixar o clube. Que jogador será mais difícil de substituir?

João Mário foi, sem dúvida, um dos melhores jogadores deste campeonato, juntamente com Jonas e Renato Sanches. No entanto, Slimani foi de uma enorme eficácia na concretização. Salvou muitos jogos do Sporting que estavam intermitentes, difíceis de resolver. Penso que a saída de Slimani trará muito mais dificuldades para o clube na próxima época do que uma eventual venda de João Mário ou mesmo Teo Gutierrez.

Como comenta o facto de o presidente do Sporting afirmar que o clube não está, neste momento, vendedor?

É uma afirmação falaciosa e para desviar atenções da situação interna do Sporting. Claro que, por um lado, Bruno de Carvalho tinha de ceder às exigências de Jorge Jesus se queria manter o treinador e impedir a sua fuga para o Dragão. Por outro lado, temos de ser realistas: a verdade é que, para lá de toda a conversa e todas as manchetes de jornais desportivos, ainda não apareceu nenhuma proposta concreta por Slimani (que até tem uma cláusula de rescisão relativamente baixa) ou João Mário. Para já não referir o facto de, tanto quanto se sabe, devido ao acordo celebrado com os bancos, estes ficarem com 30% dos valores envolvidos. Juntando tudo isto, percebemos melhor porque razão o Sporting não é, neste momento, um clube vendedor.

O presidente Bruno de Carvalho e Jesus podem estar em rota de colisão por causa das transações?

É mais substituição, apagamento, do que colisão. Na verdade, parece-me que é Jorge Jesus que assume, em Alvalade, a direção do clube, numa espécie de treinador-presidente. A fumaça criada em torno da eventual transferência para o Porto e os elogios que lhe foram dirigidos por Pinto da Costa serviram como uma luva para os seus objetivos: forçar Bruno de Carvalho a dar-lhe “carta branca” e a ceder a todas as exigências. Com o cenário que foi sendo criado, sobretudo em abril e maio deste ano, Jesus deve ter dito ao presidente leonino algo como “ou tomo eu as decisões em torno do plantel e dos objetivos de comunicação ou vou para o FC Porto e o Sporting fica novamente arredado da luta pelo título”. Talvez por isso se compreenda a saída do diretor de comunicação e a manutenção do Octávio Machado.

Por José Carlos Lourinho e Vítor Norinha/OJE

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