Advertisement

Entrevista completa a Luís Filipe Vieira

Advertisement

2012-10-01-benfica_luis_filipe_vieira2_lusa

O presidente do Sport Lisboa e Benfica Luís Filipe Vieira concedeu uma entrevista ao jornal “A Bola” onde falou de tudo um pouco.

B- Portanto, o Benfica vai deixar de fazer investimentos de 10 ou 12 milhões de euros em jogadores?

LFV- Na verdade, fizemos poucos investimentos em jogadores por esses montantes. Houve alguns, mas foram a exceção. Fizemos vários de 6,7 e 8, e esses também vão ter tendência a acabar, não apenas para nós, mas para todos os clubes portugueses.

B- Que espaço fica, no novo desenho, para a prospeção?

LFV- O mesmo espaço que tinha até aqui. Não podemos pensar que apostar na formação é ter jogadores da equipa principal no Benfica. Apostar na formação é criar as melhores condições de afirmação a jogadores formados no Seixal. Não podemos pensar que podemos ser competitivos, pelo menos no curto prazo, apenas com jogadores da formação. Vamos ter de continuar a acompanhar os melhores jogadores, estejam eles onde estiverem, e, se tivermos oportunidade de fazer um bom negócio, fazê-lo!E para isso precisamos de chegar primeiro.

B- O empresário de jovens como Ivan Cavaleiro, o Bernardo Silva ou o Cancelo não contradiz esta vontade de apostar na formação?

LFV- Não, apenas revela que é necessário encontrar a melhor solução na transição do futebol jovem para o futebol profissional, e seguramente essa solução não será a mesma para os todos os jogadores. alguns vão precisar de ficar e rodar um ano ou mais na equipa B, outros só vão conseguir atingir a sua maturidade saindo e jogando em outros clubes. É um debate em aberto e que não tem uma resposta única, mas o facto de emprestar não significa menor atenção ou que não sejam uma aposta do clube.

B- Vão regressar ao Benfica?

LFV- Têm vinculo com o Benfica e, se nada de anormal acontecer, é o que vai suceder. Há, no entanto, uma coisa que nunca podemos esquecer, é que o grau de exigência no Benfica é muito elevado e que às vezes não basta querer, não basta ter talento, têm também de ter cabeça e de ser pacientes.

B- Como compatibilizar esta filosofia formadora com a manutenção da competitividade?

LFV- Tendo os pés na terra e percebendo que a chegada de jogadores da formação à primeira equipa tem de ser gradual, que temos de lhes dar tempo de crescimento, de amadurecimento. Ter quatro ou cinco jovens na primeira equipa já será um salto significativo. Podem jogar menos e vão jogar menos do que jogam nos escalões de formação, mas, tendo a experiência de estar na equipa principal, vão ser obrigados a crescer. Mas há um aviso que eu quero deixar a todos: os jovens vão falhar, porque o processo de crescimento passa por isso, e quando falharem não podem ser crucificados pelas bancadas do estádio. Pelo contrário, têm de sentir o apoio de todos. Se os jogadores consagrados falham, porque razão os nossos jovens não podem falhar? Perder competitividade pode acontecer, mas não é uma inevitabilidade.

B- Há sustentabilidade para os clubes portugueses fora da formação?

LFV- Não podemos ser demagogos e pensar que a solução para todos os problemas está na formação. A formação só será uma solução se tivermos qualidade, e, desse ponto de vista, creio que fizemos um bom trabalho e vamos ter muita qualidade nos próximos anos. Mas, repito, vamos ter de continuar a ter jogadores brasileiros, argentinos, jogadores de talento a acompanhar o crescimento dos nossos jovens jogadores. A tendência e a nossa vontade é diminuir de forma progressiva a nossa dependência do mercado, mas o pior que podia acontecer aos jovens do Seixal era fazermos tudo de forma precipitada.

B- É um problema ou uma oportunidade ficar sem a PT nas camisolas a partir do final desta época?

LFV- Diria que nem uma coisa nem outra. Privilegiamos sempre uma boa relação com os nossos parceiros, e a PT é um parceiro que consideramos e que, independentemente de sair das camisolas, continuará a ser nosso parceiro. É uma opção da PT que temos de respeitar e, a partir daí, encontrar alternativas.

B- Já existem, já há novo “sponsor”?

LFV- Felizmente que já há alternativas, e quando assim acontece é porque o Benfica ganhou um prestigio e uma notoriedade que justificam haver várias marcas interessadas. Ainda não há nada fechado, mas seguramente que nos próximos meses iremos anunciar a nossa camisola.

B- Mas não pode dizer se é nacional ou internacional?

LFV- Dentro desse enquadramento há várias opções, portanto, não posso excluir um ou outra opção.

B- Como Liquidou o empréstimo obrigacionista de 50 milhões de euros?

O Benfica tem conseguido encontrar soluções com os seus parceiros financeiros, nomeadamente com o Novo Banco e com o Millennium BCP, no sentido de honrar todos os seus compromissos. Como já disse nesta entrevista, sempre cumprimos e nunca pedimos qualquer perdão de divida. Não posso entrar em detalhe sobre negociações em curso, mas posso dizer-lhe que o Benfica honrou o compromisso a que se refere.

B- Quando e como terá o clube condições para começar a abater o passivo?

LFV- Já começámos a abater o passivo. O passivo neste momento é inferior ao que era no fecho de contas no ultimo exercício. Vejo sempre toda a gente preocupada com o passivo, mas na verdade é que o passivo em si não é nenhum problema, todas as grandes empresas têm passivo, tivemos anos contínuos de investimento, e foi dessa maneira que conseguimos recuperar o clube, mas, sempre que leio as manchetes a dizer “o passivo é de X”, não vejo ninguém a dizer que ” o ativo é de Y”. Quando o passivo é gerivel, e no caso do Benfica é, não há razões para olhar para nós com desconfiança. Há dez anos faturávamos 40 milhões de euros, este ano superámos os 200 milhões. Somos um dos 20 maiores clubes europeus, estamos nos cinco melhores do ponto de vista desportivo. E estes dados não são valorizados.

B- Como é que o Benfica vai contornar a proibição imposta pela FIFA em relação aos fundos para a aquisição de jogadores?

LFV- Não é um cenário que nos tenha apanhado de surpresa. Aliás, há uma coisa de que me orgulho no Benfica: trabalhamos a médio prazo. Foi assim no Caixa Futebol Campus, na BTV, no Museu e também nas questões dos fundos. O Benfica Stars Fund foi uma solução inovadora que nos permitiu ceder parte do passe de alguns jogadores, mantendo esses mesmos jogadores no clube, ou seja, realizávamos o encaixe necessário sem ter de realizar a venda imediata. Mas queríamos igualmente que esta solução fosse transparente, e por isso fizemos questão de que o fundo estivesse sediado em Portugal e debaixo da supervisão da CMVM. Quando começaram os ataques aos fundos, e na dúvida de não sabermos até onde iriam esses ataques, antecipámos a decisão da FIFA e recomprámos os passes dos jogadores que estavam no fundo. Fechámos o Benfica Stars Fund. Foi um projecto que nos permitiu diversificar financiamento. Foi um instrumentos bem gerido com regras claras e informações prestadas à CMVM.

B- Os fundos devem ser banidos do futebol, ou cada caso é um caso?

LFV- Creio que não vale a pena alimentar a discussão. A FIFA decidiu, e é um assunto encerrado. Mas transformar os fundos, que foram um instrumento de financiamento importante para muitos clubes de países com menor capacidade financeira, no centro de todos os males é um erro e um falso problema. Há muitos fundos, nem todos são iguais e nem todos defendem o futebol, mas tratar por igual fundos diferentes foi o principio do erro. Os fundos foram um factor de equilíbrio desportivo entre clubes e países financeiramente muito distantes. Não perceber isso é insistir no erro!

B- Até onde irá o desenvolvimento do projeto do Seixal? vêm aí mais campos e a casa do jogador?

LFV- Ao mesmo tempo que consolidávamos processos e a estrutura da formação, fomos melhorando as condições físicas do Caixa Futebol Campus. Já nasceram mais três campos relvados resultantes do protocolo com a Câmara Municipal Do Seixal, vamos contar num curto espaço de tempo com um outro campo relvado, que vai resultar de um ajustamento no processo inicial, desenvolvemos o mais avançado simulador de futebol (360S), o que diz muito da nossa capacidade de inovar em todas as áreas, e, por achar que o Benfica tem responsabilidades sociais, gostaria de avançar com a Casa do Jogador. As nossas referências merecem ter um apoio, mesmo que seja básico, quando todos os outros apoios falharem. Temos tido conhecimento de muitos ex-jogadores que, por circunstâncias que a vida ditou, estão a passar dificuldades que não podem enfrentar sozinhos. E, nesse caso, o Benfica deve ter a preocupação e os meios de os poder apoiar.

B- Tem falado da possibilidade de estabelecer um colégio no Seixal…

LFV- Há uma área que gostaria de implementar no Seixal e que tem a ver com a vertente académica dos nossos jogadores mais jovens. É cada vez mais difícil compatibilizar o estudo com os treinos, e tenho sentido essa dificuldade no dia a dia dos nossos atletas, mas eu não quero que eles descurem os estudos, porque o ensino é uma ferramenta para a vida. Sei o valor que tem os estudos, por isso estamos a estudar a hipótese de avançar com um polo de ensino dentro do Caixa Futebol Campus.

B- Um polo de ensino secundário?

LFV- Secundário seguramente, mas admito a possibilidade de fazer um acordo com uma Universidade e implementar, igualmente, um polo universitário. Já temos jogadores a frequentar a universidade, mas sei a dificuldade que isso representa. Ter um polo universitário no Seixal facilitaria a vida dos nossos jogadores, mas permitiria a muitos alunos de fora conhecer e formar-se com base nas praticas e resultantes de um conhecimento feito da nossa experiência destes 8 anos. É um projecto em que quero apostar.

B- O que mudou nas relações entre Benfica e fc porto?

LFV- Essa pergunta tem por base um equívoco alimentado por pessoas que tinham e têm interesse em acenar com o fantasma de uma aliança que não existe. O que houve foi um acordo alargado entre a grande maioria dos clubes de forma a encontrar uma solução ao nivel da Liga de modo a poder “salvar” as competições profissionais. Nós participámos na solução, fomos parte da solução percebemos a gravidade da situação e estivemos onde tínhamos de estar. Os que acenam com a aliança são os mesmos que decidiram afastar-se de encontrar uma solução para a Liga. Ninguém afastou ninguém, ninguém excluiu ninguém, mas os que se excluíram são os mesmos que acusam os que ficaram de serem uns malandros. Mas malandros porquê? Porque resolveram um problema que ameaçava o futuro de todos?

B- Mas houve um entendimento com o fc porto que facilitou esse acordo alargado?

LFV- Diria de outra forma, é evidente que o Benfica e o porto, face à gravidade da situação, trabalharam em conjunto, como teriam trabalhado com o sporting se este não se tivesse excluído do processo. Mas o que verdadeiramente temos de destacar é que os clubes chegaram a um compromisso que permitiu ir ao encontro das melhores soluções. Nesta altura ninguém está a contar espingardas, estamos todos a falar a uma só voz, na figura do Presidente da Liga e é isso que se deve realçar. Os dirigentes do futebol português devem ser respeitados pelo que dão e pelo que fazem pelo desenvolvimento do desporto nacional, pelo que investem na formação, no futebol e nas modalidades, e, no caso do Benfica, ainda no projecto olímpico. Não podemos continuar a permitir que a classe política não reconheça o que fazemos pelo desporto nacional, e, já agora, pela economia, uma vez que o futebol português é das nossas industrias mais bem sucedidas.

B- O sporting acusa os dois clubes de estarem em “aliança” para prejudicarem os leões no negócio dos direitos televisivos?

LFV- Creio que a resposta anterior também responde a esta pergunta. Cada um é responsável por defender os interesses do clube que representa, mas para defender os interesses do clube tem de se estar representado nos centros de decisão. Talvez quem mais esteja a prejudicar o sporting sejam os que se excluíram de estar representados na liga.

B- A escolha de Luís Duque para a presidência da liga foi uma afronta ao sporting?

LFV- Nada disso, isso é uma completo absurdo. Quem disse isso ignora, por um lado, o impasse que havia e, por outro, desconhece por completo a personalidade de Luís Duque., que nunca se prestaria a tal coisa. Não era fácil encontrar uma personalidade que gerasse um consenso tão alargado, e eu recordo que era necessário pacificar a Liga face às posições mais extremadas de vários clubes. Houve vários nomes, alguns políticos, outros dirigentes desportivos, mas nenhum deles mereceu o consenso que teve Luís Duque. É ridículo pensar-se que o interesse dos clubes, em vez de resolver a grave crise que o futebol português atravessava, era o de provocar o sporting.

B- Que comentário lhe merece a queixa do sporting conta o Benfica, na Liga, a propósito de Miguel Rosa e Deyverson?

LFV- Nenhum comentário. Fizeram o que entenderam dever fazer.

B- O que trouxe de novo Bruno de Carvalho ao futebol português?

LFV- Essa é uma pergunta a que acho que há gente mais habilitada do que eu para responder.

B- Sente que há clubes a mais na I Liga?

LFV- A posição do Benfica é conhecida, manifestamos oposição a qualquer tipo de alargamento que não resultasse de um imperativo legal, que foi o que aconteceu. Este alargamento resulta de uma decisão tomada pelos tribunais administrativos. Se não fosse isso, na nossa perspectiva o quadro competitivo estava bem com estava.

B- Vai manter o mesmo nível de investimento nas modalidades?

LFV- Temos vindo a reduzir o investimento, o que não significa baixar competitividade. Não é um exercício fácil, mas temo-lo conseguido. E já que falaram no início da entrevista de formação no futebol, também é justo falar da formação ao nível das modalidades que tem sido uma aposta desta direção. Temos 1500 jogadores na Formação e até ao fim do mandato vamos ter cinco jogadores da Formação em cada equipa profissional, excepto voleibol que é uma modalidade sem tradição a sul e nos cria dificuldades adicionais. Portanto, a aposta na formação é algo transversal a todo o Clube e não apenas no futebol.

B- E do projecto Olímpico, há novidade, quando estamos cada vez mais perto do grande evento que vai ser o Rip 2016?

LFV- Temos vindo a reforçar a nossa aposta no projecto Olímpico, e a verdade é que seremos o Clube com mais atletas na comitiva nacional que se vai deslocar ao Rio de Janeiro. O nosso objectivo é ter 30 atletas nos jogos Olímpicos de 2016. Desde o Judo, ao Triatlo, passando pelo fundo e meio fundo e acabando na Canoagem, o Benfica tem assumido o papel que devia caber ao Estado: apoiar os atletas e dar-lhes condições de treino que que permitam a sua melhor preparação. Quem vai colher os frutos do investimento do Benfica é Portugal e eu fico feliz com isso, só lamento o pouco reconhecimento que os Clubes têm da parte do poder político em relação a este investimento.

B- Não havia maneira de segurar Enzo Perez?

LFV- O que vou dizer a seguir aplica-se ao Enzo, como a todos os jogadores. Mesmo que o Clube seja detentor do passe do jogador, quando ele quer sair é muito difícil contrariá-lo. O pior que podemos fazer é ficar com jogadores que, independentemente de gostarem do Benfica, já têm a cabeça noutro lado. E é evidente que o Benfica ou qualquer outro clube português não está em condições de competir financeiramente com alguns Clubes da Europa. Mas, também é bom que fique bem claro, que os jogadores não podem sair sem que os direitos do Benfica sejam salvaguardados. Tenho-me sempre batido por isso e assim vai continuar.

B- O Enzo já não estava com a cabeça no Benfica?

LFV- Quando se sabe que há uma oportunidade de se ganhar o dobro ou o triplo do que se está a ganhar é evidente que por muito profissional que o jogador seja, a sua vontade é sair. Podemos sempre obriga-lo a ficar mas o seu grau de compromisso nunca será o mesmo.

B- Com o Enzo de fora o objectivo do “BI” fica comprometido?

LFV- Porque haveria de ficar comprometido? Alguém disse um dia que o cemitério está cheio de insubstituíveis, e é uma verdade inegável. Quando o Javi saiu li e ouvi que seria um desastre, apareceu Matic, saiu Matic apareceu Enzo, e agora o nosso treinador saberá encontrar a melhor solução dentro do plano para substituir o Enzo. Temos um plantel de qualidade. Podemos não ganhar com nota artística, mas temos a obrigação de ganhar com querer, com determinação, com empenho. Acima do jogador A,B ou C está o grupo e o grupo é forte e tem qualidade para revalidar o título.

B- Os seis pontos de avanço são uma margem confortável para ter optimismo na revalidação do título?

LFV- O meu optimismo assenta no conhecimento que tenho da equipa, no facto de pensarmos jogo a jogo, no empenho que eu vejo nos treinos. Isso é mais importante que os seis pontos de vantagem. Possivelmente, como já disse, vamos ser uma equipa mais pragmática e menos artística, mas no que conta no final é o resultado. Os jogadores estão empenhados em revalidar o título e isso para mim é o mais importante.

B- Portanto, acha que a equipa não se vai ressentir da saída do Enzo?

LFV- Acho que a equipa vai demonstrar o que vale como equipa, o que vale acima de qualquer individualidade. Não estou com isto a dizer que o Enzo não é um excelente jogador, é claro que é, mas a verdade é que ele ganhou notoriedade numa posição na qual começou a jogar no Benfica e não na sua posição original. Ele cresceu muito no Benfica. Acho que o Enzo vai sentir mais a falta desta equipa do que a equipa a falta do Enzo.

B- Qual vai ser a estratégia do Benfica no que respeita a aquisições?

LFV- Vamos continuar atentos ao mercado, mas vamos reduzir o número de aquisições, o que não significa que o nosso departamento de prospeção deixe de acompanhar os melhores valores que a nível mundial se destaquem, mas se pudermos encontrar no Seixal solução para as saídas ou para algumas carências do plantel, então será o Seixal a fornecer a equipa principal. Os nosso melhores reforços de janeiro serão os jogadores lesionados que vão começar a voltar à equipa.

B- Jonathan Rodriguez, do Peñarol, tem sido muito falado para o Benfica…

LFV- Esse e mais 15, já assisti a várias novelas nos últimos meses. Jogadores em que o Benfica estava interessado, que fez proposta, que foram desviados. Já li tudo, Os jornais continuam a dar espaço aos que são seguidos, aos que podem interessar, aos que ninguém conhece e aos que nunca interessam. Vale tudo, porque não querem perder a notícia. E, para não perderem a notícia, dão 20 falsas.´

B- Imagino que também não vai falar de Loris Karius, que pode chegar, no verão a custo zero…

LFV- As contratações do Benfica não são tratadas nos jornais. Percebo o interesse, lamento a especulação e a credibilidade que dão a pessoas que não merecem e que apenas se aproveitam dos jornais para valorizar jogadores que representam.

B- Uma última questão em relação a jogadores falados? Mukhtar do Herta de Berlim. Interessa?

LFV- Já vi que não desiste. Vou responder de outra forma. A decisão de apostar mais no Seixal não nos limita a nossa capacidade de acompanhar talentos a nível internacional. É claro que estamos atentos, mas a decisão de contratar ou não obedece a diferentes variáveis, e como já disse anteriormente, essa gestão é feita dentro do Benfica e não nos jornais.

B- Então deixemos de falar de contratações para falar de jogadores já com contrato. Que jogadores vão ser emprestados na janela de janeiro?

LFV- Alguns serão emprestados para ganhar competitividade ou para poder jogar em função da sua pouca utilização. Haverá saídas seguramente, mas a seu tempo saberão.

B- Gonçalo Guedes fez 18 anos. Já renovou?

LFV- É um processo que está em curso e que acreditamos que venha a ser fechado nos próximos meses. Trata-se de um jogador enorme potencial e com o qual queremos contar no futuro. É normal que venha a ser emprestado nesta janela de janeiro de forma a ganhar maior competitividade, mas vai regressar em julho para integrar o plantel profissional.

B- Luka Zivkovic pode vir para o Benfica?

LFV- Mais um nome a somar aos outros 15 que falei atrás…

B- Vai ser oferecida renovação de contrato ao Jorge Jesus?

LFV- Antes de iniciar a época disse, e isso ficou registado, que o Jorge poderia renovar mantendo as atuais condições. ele entendeu que não era o momento, e eu respeito isso, portanto, vamos falar no final da época. E não comecem a dizer que é um tema tabu. No final da época, o Benfica e o seu treinador vão avaliar a continuidade do vínculo contratual, como sempre o fizeram até aqui.

B- Mas é verdade que já quis renovar, nomeadamente depois da eliminação europeia?

LFV- Não, não é verdade. Nem faria sentido. Deixei a porta aberta á renovação no início da época. Jesus entendeu, e volto a repetir, respeito isso, fazer a avaliação e discutir a renovação no final da temporada, e é isso que vai acontecer.

B- Até que ponto a nova conjuntura da banca influi na vida do Benfica?

LFV- A conjuntura da banca não influi em nada; a conjuntura económica global, sim, influi na vida de todos. Houve, como é sabido, uma alteração na estrutura de gestão do nosso principal parceiro financeiro, mas o Benfica sempre foi um clube cumpridor das suas obrigações e, desse ponto de vista, os entendimentos com os novos responsáveis do Novo Banco foi fácil. Vamos continuar como até aqui , a cumprir com as nossas obrigações.

B- O que mudou na condução do Benfica em função do fim do BES?

LFV- Nada de significativo. Cumprimos sempre com o BES e vamos continuar a cumprir com o Novo Banco, ou seja, continua tudo igual.

B- As imposições da troika à banca fizeram mal ao futebol? E tiveram uma justificação plausível?

LFV- Creio que as imposições da troika fizeram mal à população portuguesa em geral e, desse ponto de vista, é demagógico falar de qualquer tipo de prejuízo ao futebol. Acho, no entanto, que há medidas que são difíceis de entender, como, por exemplo, o IVA a 23% quando comparado com outras actividades que beneficiam de um IVA bem inferior, mas eu não sei se isso foi uma imposição da troika ou uma decisão do governo português. O futebol é das indústrias mais bem sucedidas em Portugal, e na maior parte das vezes os políticos encaram o futebol com algo negativo e pouco recomendável, e isso tem de mudar.

B- O afastamento das provas europeias foi um duro revés financeiro?

LFV- É sempre. Não apenas financeiro, mas ano nível da própria reputação desportiva. Mas a verdade é que nos dois anos anteriores fizemos o nosso percurso europeu fora da champions e, portanto, com proveitos muito inferiores aos da Liga dos Campeões. Só há uma maneira de fazer face a esse revés, que é a de continuar a otimizar ao máximo as nossas outras receitas.

B- Tem algum acordo estabelecido com Peter Lim, proprietário do Valência? Fala-se na saída de Gaitán em Julho…

LFV- Não, não é verdade. O único acordo que há é com o Gaitán e é para continuar a jogar o que sabe…

B- Como estão os processos de renovação de Salvio e Maxi Pereira?

LFV- No ponto em que devem estar. São dois jogadores fantásticos e com os quais gostaríamos de poder continuar a contar no futuro, nomeadamente com Maxi, que é quem acaba o contrato mais cedo, já este ano.
Vamos ver se é possível. Tudo tem o seu tempo, são matérias que obrigam a reserva e não devem ser tratadas nos jornais.

B- Admite abrir capital da SAD a investidores “privados” de referência?

LFV- Comigo como presidente do Benfica, isso não vai acontecer, porque isso seria adulterar a identidade do Benfica. O Benfica e dos seus sócios e assim deve continuar, é assim que está consagrado nos estatutos e é assim que eu penso. Se o Benfica passar a ser detido por um investidor, seja ele quem for, então teremos deitado fora 110 anos de história.

B- Está na presidência do Benfica há mais de 11 anos e quase há 15 no clube. O que sente que está por fazer? Quais os próximos passos?

LFV- É sempre difícil de dizer, a verdade é que este é um trabalho que nunca está completo. Há sempre novas coisas por fazer. Já passei por fases muito diferentes. Um primeiro momento em que o único projecto que tínhamos em cima da mesa era “salvar” o Clube, depois passámos à fase de dotar o Clube de infra-estruturas, depois foi o tempo de começar a olhar para o Futebol, e sinceramente creio que agora estamos na fase de consolidação de todo o projecto. É evidente que haverá sempre novos desafios, nomeadamente o polo de ensino de que falei e que é um grande desafio as nossas capacidades.

B- Quantas horas dedica por dia ao clube?

LFV- Não contabilizo as horas que dedico ao clube. Não estou aqui por obrigação, estou porque gosto, por paixão pelo clube e porque tenho sempre bem presente na memória a promessa que fiz ao meu pai. Sinceramente, acho que ele, se estivesse aqui, teria orgulho no trabalho do filho!

B- A sua vida empresarial ressente-se disso?

LFV- A minha vida empresarial é cada vez mais a vida do meu filho. Talvez ele se ressinta mais na minha falta do que propriamente a empresa.

B- Continua com ânimo para puxar pelo projecto ou por vezes sente que já fez o suficiente?

LFV- O ânimo e a vontade estão cá e enquanto sentir que posso ser útil ao Benfica ou continuar, na certeza que vou entregar a quem me suceder um Clube que nada tem a ver com o que encontrei e isso a história fará o favor de reconhecer.

B- A sua família já se habituou à concorrência do Benfica?

LFV- O Benfica não é concorrência, já faz parte da família, por isso ninguém estranha.

B- Os netos já são todos sócios?

LFV- Todos sem exceção.

B- Sente-se recompensado pelo esforço feito ao longo dos últimos 15 anos?

LFV- Sim. sinto-me recompensado cada manhã que entro no Benfica. Pensar no que era o Clube quando cá cheguei e no que é hoje é razão suficiente para sentir orgulho em todo o trabalho que foi desenvolvido ao longo deste tempo. Só de recordar os primeiros anos nesta casa, as dificuldades, as limitações de todo o tipo que tivemos de enfrentar, as desconfianças, as centenas de credores com quem tivemos de negociar, a falta de uma estrutura profissional, a degradação do estádio. Sinceramente, acho extraordinário o que conseguimos JUNTOS fazer nestes anos.

B- A Benfica TV Vai continuar a evoluir para ser uma canal pago de desporto, mais do que um órgão de comunicação do Benfica?

LFV- Vai continuar a crescer como até aqui, vamos continuar a trazer conteúdos relevantes para dentro do canal de forma a poder alargar a nossa base de subscritores. A BTV é, nesta altura, um excelente canal de Desporto e um excelente veículo de comunicação do Benfica. Provavelmente, só o tempo dirá, este equilíbrio poderá ser alterado no futuro.

B- Quais os próximos passos da BTV? A champions fazia sentido, mesmos sabendo os valores de investimento que implicava?

LFV- Sem dúvida que fazia sentido, como fez no passado a liga inglesa. Só podemos aspirar a crescer diversificando e adquirindo conteúdos de real valor. Ao fim de semana temos a grelha cheia de jogos, portanto, se conseguíssemos preencher a grelha a meio da semana com jogos com qualidade Champions, estaríamos a criar valor para os nossos subscritores. Fizemos contas, e teria compensado. E, sinceramente, creio que fizemos a melhor proposta, talvez o facto de sermos um canal de clube tenha influenciado a decisão final.

B- O Benfica fez bem em avançar para a BTV – que teve lucro de 17 milhões – em vez de ter vendido os jogos à oliverdesportos?

LFV- Sem dúvida, quer do ponto de vista da rentabilidade, quer do ponto de vista da independência editorial, a decisão foi acertada.

B- Mesmo tendo em conta que a oliverdesportos oferecia 22 milhões por ano?

LFV- No contrato que foi sugerido para um período de sete anos, a média proposta era de 18 milhões de euros por ano, e não 22. O facto de a BTV ter conseguido alcançar um lucro de 17 milhões logo no seu primeiro ano dá-nos perspectivas de que a partir daqui os valores vão ser superiores. Não podemos esquecer que no ano passado partimos do zero, partimos com zero subscritores. Este ano o nosso ponte de partida foi diferente, e isso, naturalmente, vai influenciar os resultados. Mas há algo que devo recordar: é que o lançamento da BTV e o facto de assumirmos os nossos direitos televisivos não podem ser enquadrados apenas na perspectiva económica. Houve e há uma componente estratégica que não pode ser esquecida.

B- A Liga vai avançar para uma proposta de centralização dos direitos televisivos. Qual é a posição do Benfica, por um lado, e, por ou, avançando a centralização, como fica a BTV?

LFV- O Benfica não está contra o princípio de centralização dos direitos televisivos. Pelo contrário, até acreditamos que essa pode ser uma boa solução para o futuro do futebol nacional, desde que os critérios de distribuição de verbas sejam os mais justos e, sobretudo, desde que sejam garantidos os princípios de uma livre concorrência entre candidatos a ficar com esses direitos. Há uma comissão dentro da Liga a estudar esse “dossier” e, sendo um tema que não terá resultados práticos no curto prazo, é necessário começar a preparar-se convenientemente. A centralização pode ser uma boa “revolução” para o Futebol português. Quanto à BTV, com ou sem centralização de direitos, seguirá o seu caminho. A centralização dos direitos não ditará o fim da BTV, pelo contrário, até pode ser um dos factores de afirmação.

Comentários

Botão Voltar ao Topo
A semana dos recados