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João Gabriel: "Não há monitorização de SMS, nem fichas de árbitros, nem GPS… não há nada!

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RECORD – Acompanha regularmente o Benfica no Dubai?

JOÃO GABRIEL – Sempre. O único jogo que não vi na época passada foi o jogo, de má memória, com o Boavista em casa [n.d.r.: 3-3].

R – Sente saudades do clube?

JG – Há saudades quando há uma quebra ou distanciamento, o que não é o caso. Acompanho e mantenho uma ligação próxima com muitas pessoas do clube…

R – Presidente incluído?

JG – Presidente incluído, claro.

R – Os tweets foram uma forma de manter a ligação ao clube?

JG –Nada disso. Essa ligação já existia antes de trabalhar no clube e continuará. Deixei de ter uma ligação profissional ao Benfica, mas não deixei de ser nem sócio nem adepto. Comento quando entendo, com a liberdade de qualquer sócio.

R – Luís Bernardo tem uma comunicação mais ‘low profile’. O Benfica precisava da mudança ou devia ter-se mantido mais aguerrido?

JG – Não devo comentar. Num clube como o Benfica, ninguém é consensual. Eu não fui, e seguramente que o Luís não o será. É normal. Seguramente que eu teria feito coisas diferentes, como ele também teria tomado decisões diferentes das que eu tomei nos meus oito anos. O que interessa são os resultados, e o Benfica foi tetra, portanto a comunicação funcionou.

R – Acha que marcou um ponto de viragem na comunicação dos clubes no futebol português?

JG – Não vejo as coisas dessa forma, fiz aquilo que entendi que devia fazer, adaptando-me ao meio, que para mim era uma novidade, às circunstâncias, às pessoas com quem ia trabalhar, e interpretando aquilo que no meu entender devia ser o desempenho do cargo.

R – Mas o diretor de comunicação em Portugal não tinha a importância que tem hoje nos clubes e essa mudança começou consigo…

JG – Possivelmente porque a comunicação não era assumida como parte essencial da estratégia dos clubes, mas a verdade é que essa perceção mudou. Até de mais. Hoje, caímos no extremo oposto. Comunicação não significa ruído, não significa uma intervenção diária, e acho que, nos dias que correm, parece haver essa confusão…

R – Houve muitos momentos de confrontos duros fora dos relvados durante os oito anos em que esteve no Benfica, e em alguns deles, foi protagonista direto…

JG – Admito que sim, não me ponho de fora, embora os episódios mais crispados tenham sido sempre reativos. Mas, olhando para trás, todos os meus excessos, à luz do que hoje vejo, seriam considerados intervenções moderadas.

R – Acha moderado classificar de ‘folclore’ uma declaração do presidente do Sporting?

JG – Quando nos assaltam a casa repetidas vezes, e as autoridades nada fazem, passamos a agir em legítima defesa.

R – Que autoridades?

JG – A Liga. Mas o que deu origem a essa troca de palavras foi o facto de ter sido acusado de pactuar com tarjas e ofensas à memória de Rui Mendes…

R – O adepto do Sporting que morreu na final da Taça de Portugal em 1996…

JG – Exatamente. Uma ideia errada que propositadamente fizeram passar. Nesse jogo, eu estava no Estádio Nacional, e depois estive no hospital a acompanhar a trágica situação. Nenhum jogo de futebol vale uma vida humana. Ofender a memória de quem morreu naquelas condições é falta de decência. A minha reação foi ao oportunismo de Bruno de Carvalho, nada mais.

R – Ultrapassou-se a fronteira a nível comunicacional?

JG – Entramos numa zona perigosa em que se pode perder o controlo com facilidade, o ambiente está muito degradado. Não me parece fazer sentido haver uma coligação negativa de clubes contra o Benfica, não me parece normal o presidente do Sporting fazer as declarações que fez à Bloomberg. É a irresponsabilidade no seu expoente máximo. A comunicação não pode ser leviana e muito menos irresponsável.

R – Há solução sem os clubes?

JG – Os clubes têm de fazer parte da solução e perceber que ninguém sai beneficiado deste clima de crispação, mas não são os únicos culpados. A multiplicação desenfreada de certos programas ditos de debate nas nossas televisões também não ajuda.

R – É contra esse tipo de programas?

JG – Na sua grande maioria, sim. Prejudicam o futebol. Percebo que para as TV seja barato e rentável do ponto de vista das audiências, mas eles alimentam um clima de guerrilha que não é sustentável.

R – O problema não é de agora…

JG – Não, mas a quantidade e o tom desses programas têm vindo a aumentar e a piorar.

R – Os clubes também se aproveitam desses programas?

JG – Não há inocentes, nem clubes sem cartilhas. O que eu digo é que, se continuarmos por este caminho, vamos pagar – todos – uma fatura elevada.

R – Já agora, tenho de perguntar-lhe pelo Pedro Guerra, um dos protagonistas nos últimos tempos…

JG – Não partilho, muitas vezes, nem da forma, nem do conteúdo, com que ele se expressa, e ele sabe-o. Não devemos fazer o que criticamos nos outros. Mas, não me revendo na sua prestação televisiva, não alinho na sua crucificação pública. O excesso de voluntarismo que o Pedro revela não pode resultar num excesso de moralismo, venha de onde vier. A grandeza do Benfica está na sua diversidade, e o Pedro faz parte desse universo, goste-se ou não.

R – Os benfiquistas têm razões de preocupação com estas acusações dos e-mails?

JG – Devem estar orgulhosos do que foi feito no clube nos últimos 14 anos. Do tetra, da formação, das infraestruturas. Não podem ficar com dúvidas em relação a isso. Não há monitorização de SMS, nem fichas de árbitros, nem GPS… não há nada!

R – Nada o preocupa?

JG – As insinuações são graves, mas infundadas. Primeiro foram os convites para membros do Conselho de Disciplina. O que foi omitido? Que os pedidos vieram todos da FPF. Depois vieram os SMS de Fernando Gomes. Por acaso, Fernando Gomes já sabia deles e sabe como surgiram. Nada têm a ver com o Benfica.

R – E como surgiram?

JG – Não vou por aí, mas o que digo é que o Benfica não teve nada a ver. Depois surgiu a nota de Rui Costa na época 2013/14. Outro escândalo. Esqueceram-se de referir que na mesma época, por reclamação do FC Porto, Pedro Proença, na altura considerado o melhor do Mundo – claramente um exagero – baixou 1,4 (de 3,7 para 2,3) na avaliação de um Sporting-Porto e, mais grave, todos os membros da Comissão de Análise e Recurso foram para casa no final dessa época.

R – Por ação do FC Porto?

JG – Não, aí estão inocentes [risos]. Quem não descansou até os substituir a todos foi quem se sentiu incomodado por descer 1,4…

R – Pedro Proença?

JG – É investigar, mas continuemos nos e-mails. Vejam o escândalo de o presidente do Benfica pedir ao seu diretor jurídico para dar “cabo da nota” de Rui Costa. Imagino a forma erudita e educada como Pinto da Costa terá pedido nesse ano para reclamar da nota de Pedro Proença. Em matéria de “dar cabo de notas”, todos o fazem…

R – Tem ideia de quantas notas o Benfica contestou nessa época?

JG – Se a memória não me falha, foram cinco. O curioso é o FC Porto passar a ideia de que o Benfica domina a arbitragem, domina o sistema. Mas então um clube que domina o sistema tem necessidade de reclamar notas de árbitros? Nesse ano, o Benfica reclamou cinco vezes; o FC Porto, três. Portanto, parece que o FC Porto estava mais confiante e tinha menos necessidade de reclamar…

“Benfica não se agarra à nulidade da prova”

R – Acha que o Benfica reagiu bem a esta polémica?

JG –É sempre difícil reagir bem a uma manobra tão baixa. Mas creio que o clube demonstrou serenidade e disse aquilo que tinha de ser dito: total disponibilidade para colaborar com as autoridades. Há uma coisa que tenho a certeza, o Benfica não se vai agarrar à nulidade da prova, como outros fizeram, e só isso traça bem a diferença dos casos.

R – Durante os oito anos em que trabalhou no Benfica, alguma vez ouviu falar de bruxos?

JG – [Risos.] Isso dá para alguns bons sketches televisivos e redes sociais, mas a única bruxaria que conheci no Benfica foi trabalho. O mais extraordinário é que quem traz isso à baila parece desconhecer o extenso historial do FC Porto nesse capítulo, e não é preciso recorrer a e-mails. Têm mais razões em preocupar-se com a maldição Vítor Pereira do que com o general Nhaga.

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