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LFV: «HOUVE COBARDIA NOS ATAQUES A VÍTOR PEREIRA»

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Luis filipe vieira

R – Teve uma postura discreta e fez uma única declaração ao longo da temporada, após o jogo com o Rio Ave, na Luz, onde elogiou Rui Vitória e falou de arbitragem…

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LFV – Acho que até fui mal compreendido. Está interiorizado no futebol português que os maus resultados são culpa dos árbitros. Eu não arranjo desculpas. Quando o Benfica perde sou o primeiro a aparecer, quero assumir sempre. Fui escolhido para dirigir o clube e a escolha de um treinador passa sempre por mim. Logo, o culpado sou sempre eu. Nesse dia ganhámos e, na nossa opinião, fomos severamente penalizados pela arbitragem em três ou quatro lances. E eu até fui mal compreendido, porque não chamei desonesto ao árbitro. O que quis dizer foi que, para os outros, quando há um erro, há sempre um roubo. E quando é para o Benfica… ninguém fala e até vem em letras pequenas. Há uma mágoa que tenho, da final da Liga Europa, com o Sevilha. A imprensa espanhola foi unânime em dizer que o Benfica foi prejudicado, com três penáltis visíveis. E as primeiras páginas dos jornais em Portugal falavam do herói disto e daquilo, falavam de tudo menos desses lances. Curiosamente, um nosso adversário foi prejudicado na Alemanha e na primeira página de um jornal vinha ‘roubo’. E ao falar disso pensaram logo que eu estava a falar em roubo. Nunca vou associar a derrota de um campeonato à arbitragem. Assumi isto e digo porquê: foi depois de ter visto uma reportagem do Pedro Proença a um canal televisivo. Aí, vi o grau de dificuldade para quem quer ser árbitro ou árbitro assistente. Compreendi a grande dificuldade da arbitragem. Esse programa devia passar diariamente para que as pessoas que falam constantemente das arbitragens pudessem ter um pouco de vergonha.

R – Esta foi uma época marcada também pela ‘guerra’ de palavras e pelas queixas do seu rival em relação às arbitragens…

LFV – É um hábito! Não vale a pena comentar isso. É um hábito em relação às arbitragens do futebol, do andebol, do hóquei em patins… Mas é bom, porque assim desresponsabilizam os seus próprios profissionais. É bom que continuem, achamos isso positivo, porque na derrota tem de aparecer sempre um responsável. No desporto há três resultados possíveis, e todos sabemos isso, mas também sabemos quando se é ou não inteligente. Reparem: recentemente tivemos um jogo bastante difícil na Madeira e vejam como se tentou condicionar uma arbitragem. Mas vejam também que houve uma expulsão, justa, do Renato Sanches e notem a forma como o Benfica se comportou na segunda parte. Se eu tivesse tido uma atitude de desresponsabilizar constantemente os profissionais do Benfica, aquela segunda parte não existia, de certeza absoluta! Dentro de campo é que temos de provar que somos melhores do que os outros e que queremos ganhar, que foi outra coisa que muita gente não realçou. Não foi só a capacidade dos jogadores e dos treinadores: a vontade também foi decisiva.

R – Como analisa os ataques constantes, por parte dos rivais, a Vítor Pereira, que agora deixa o cargo de presidente do Conselho de Arbitragem da FPF?

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LFV – O Vítor Pereira tem 10 anos de presidência do Conselho de Arbitragem. Curiosamente, ao longo deste tempo o Benfica ganhou quatro campeonatos. Ou seja, se formos pelo critério da desresponsabilização, os restantes seis foi a arbitragem que ganhou. E não foi. Ganhámos quatro com muito mérito, dois foram muito mal perdidos, e nos restantes o adversário foi superior a nós.

R – O que espera do sucessor de Vítor Pereira?

LFV – Acho que a maioria das pessoas que estão no futebol apreciaram o trabalho que o Vítor Pereira fez nos últimos anos. E houve alguma cobardia nos ataques que lhe fizeram. Agora, olhem para Inglaterra e vejam lá se veem alguém dizer que foi a arbitragem a proteger o Leicester? Mas se, em Portugal, o Braga fosse campeão, seria logo pela arbitragem, sem qualquer mérito. Como as pessoas não querem assumir os erros arranjam um bode expiatório. Mas, para nós, até é bom que o façam.

R – A divulgação dos relatórios dos árbitros, na próxima época, vai ser um fator positivo ou ajudará a criar mais suspeição?

LFV –Acho que é negativo para o futebol português, porque vai aumentar a perseguição aos árbitros. E as pessoas que tomaram essa decisão não têm a coragem de assumir. Os árbitros têm família, têm mulheres e filhos. Eu assumo os erros do passado, sobretudo nos primeiros três anos de Benfica, mas tenho cabeça e soube aprender com alguns erros. Hoje, depois de ter visto a reportagem do Pedro Proença, tenho muita dificuldade em falar de arbitragem. Não consigo! Sei que às vezes há lances que deixam muitas dúvidas, mas não estou a ver ninguém premeditadamente a querer prejudicar. Não podemos recuar uns anos na arbitragem, aí sim, havia muita coisa. Não foi por acaso que o Sr. Pedro Proença, quando se despediu, afirmou que esta geração nada tinha a ver com a do Apito Dourado. Não fui eu que disse… Acho que o Benfica não deve comentar muito, mas a minha opinião é que vão expor, cada vez mais, os árbitros e as agressões verbais ainda vão ser mais graves do que as deste ano.

«Nuno Gomes não fala muito e faz rápido»

R – Que balanço faz à temporada de arranque de Nuno Gomes como diretor do Seixal?

LFV – O Nuno começou a ser preparado para este lugar quando recebemos a notícia de que o Armando Jorge Carneiro iria sair. Nessa altura, aliás, tínhamos a noção muito concreta de que o Nuno iria ocupar em breve um lugar de topo no Benfica. Está a dar provas daquilo que entendemos ser o mais importante: é bastante trabalhador, discreto, não fala muito e faz rápido. De certeza que vai crescer muito. Neste curto espaço de tempo que leva no Seixal também já aprendeu a dizer ‘não’ a algumas coisas… E às vezes é mesmo importante saber dizer ‘não’.

R – Hélder Cristóvão vai continuar?

LFV – É nosso treinador e tem mais dois anos de contrato. É como lhes digo: connosco ninguém está em perigo. Mas há uma coisa que é importante: é preciso que as pessoas aprendam com os erros. De certeza que o Hélder, no meio disto tudo, também terá alguma responsabilidade pelo percurso que tivemos.

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