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Entrevista de Rui Vitória

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O SL Benfica fez mais uma vez História! Após a conquista do Tetracampeonato Nacional, este último domingo ficou marcado pela conquista da 26.ª Taça de Portugal… ou seja, eis a 11.ª dobradinha do Clube.

Esta segunda-feira, dia 29 de maio, Rui Vitória esteve na BTV onde, durante cerca de uma hora, foi entrevistado. A emissão foi conduzida por Hélder Conduto, com a intervenção dos comentadores António Bernardo, Pedro Ferreira e Rui Amaro.

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https://youtu.be/lRPkDBmrkvY

Leia aqui toda a entrevista ao treinador das águias.

– Quando começou a temporada era isto que imaginava?

– Quando começamos uma época pensamos sempre em ter sucesso em todas as competições. Sabíamos que íamos ter um ano duro, mas acreditámos sempre na nossa capacidade coletiva e individual. Estamos aqui com este conjunto de Troféus e com a conquista do Tetra.

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– Após a conquista da Taça, foi tirada uma fotografia de final da época no balneário… Uma legenda?

– Antes desta foto estavam as duas taças e um espaço para a terceira. Criámos este desafio a nós mesmos e esta foto simboliza a forma como ganhámos, com união e coesão. A alegria é que nos conduziu.

– O festejo de Raul Jiménez com a máscara. O que achou?

– Faz parte do espectáculo, mas fiquei aborrecido porque levou o amarelo. São as leis. Ainda faltava muito tempo para o jogo acabar e tinha um jogador com cartão, mas faz parte do espectáculo e da promoção ao futebol.

– Já estava à espera de alguma alteração do V. Guimarães para a Taça de Portugal?

– Estava. O V. Guimarães deixou entrar bolas na defesa e na zona central no jogo do campeonato, algo que eu sabia que não ia acontecer na Taça. O Pedro Martins colocou o Rafinha. Com o V. Guimarães tem de se jogar de forma simples. Na primeira parte tivemos dificuldades nas laterais. Ao intervalo não nos preocupámos em fazer a jogada maravilha e o Jonas foi importante em soltar-se entrelinhas. Aí surge o remate do Jonas com o espaço que encontrou. Depois, o segundo golo, com o Jonas entrelinhas a descobrir o Nélson Semedo. O V. Guimarães reagiu mas ganhámos bem.

– Socorreu-se de alguma mensagem forte? Há quatro anos fê-lo no V. Guimarães?

– Apelámos aos jogadores. Esta época não podia terminar sem estes três troféus. Não podia ser. Tínhamos de aproveitar este contexto. Tivemos de transformar esta final num momento único e conseguimos que os jogadores vivessem istro como se fosse a Liga dos Campeões.

“Nunca deixo de ser o treinador do Benfica”

– O que traz de pai para o papel de treinador?

– Quando se fala da família no seio do grupo de trabalho não é um chavão. O que se transporta são os laços importantes e que existem nas famílias: os momentos difíceis, unirmo-nos nos momentos complicados… São estes pormenores que transportamos para o plantel. Os meus jogadores têm à-vontade no dia-a-dia, têm relação equidistante e intervenho quando acho que o tenho de fazer.

– Lembra-se de um momento complicado na época?

– As derrotas. A da Taça da Liga, a de Dortmund, no Estádio do Bonfim. Vamos levar com críticas. Sabemos que é assim.

– Partilha que o momento chave com os jogadores é o relacionamento tal como considera Carlo Ancelotti?

– Não partilho dessa opinião. Num Clube desta dimensão, o treinador tem de dominar várias áreas. Mesmo na vida pessoal nunca deixo de ser o treinador do Benfica. Não podemos descurar todas as áreas, a social, a mental, a comercial, a filosofia do Clube e do presidente, a essência do jogador. Há várias coisas com que o treinador tem de se preocupar sempre.

– Como é que se consegue chegar aos jogadores?

– Essa é a especificidade que é determinante. Estamos a falar com profissionais, mas todos temos problemas, fases boas ou más. Temos de entender isso. Não posso tratar todos por igual. Também é assim nas amizades. Dessa forma tento tomar as melhores decisões. O Luisão, por exemplo, tem motivações diferentes de um jovem de 18 anos. O Jonas, o ano passado poderia ser o melhor marcador em Portugal e na Europa. Este ano não podia, mas tentámos que poderia ser decisivo e trabalhámos isso junto dele.

– Como é que o Júlio César termina a época a abraçá-lo, tal como o Jardel, o André Horta…

– Isso deixa-me arrepiado ao recordar. Eu é que agradeci ao Júlio César pela capacidade que tem de estar no Benfica com esta postura. Eu é que lhe agradeço pela importância que tem no grupo. É o primeiro a ajudar o Ederson, tenta galvanizar a equipa e o público… Todos querem jogar, mas só podem entrar 11. Fico contente quando os jogadores percebem isso. Um dos aspetos importantes para o sucesso é a coerência, e eu tento sê-lo.

“Estou num Clube que tem um paradigma e eu sigo-o”

– Como é que o Rui Vitória se insere de época para época? Participa na formação do plantel, quer que seja decidido só por si ou aceita o plantel que lhe dão?

– Há uma sintonia perfeita entre as minhas ideias e as do presidente. Não tenho de viver exclusivamente para mim. Estou num Clube que tem um paradigma e eu sigo-o. Se queremos jogadores jovens o que é que me interessa querer jogadores com mais de 30 anos? E o contrário também é verdade. Temos de falar uns com os outros e a sintonia existe. Por isso é que houve as últimas vendas e poderão acontecer outras. Não minha forma de pensar também há espaço para variabilidade de plantel. Podia haver dois “Mitroglous”, mas há um Mitroglou e um Raúl Jiménez. Essa é uma das maiores riquezas para vencer os adversários.

– É preciso mais tempo para os reforços explodirem? É que terminou a época só com um a titular.

– As contratações que foram feitas não são produtos acabados. Temos de dar tempo à adaptação. Ele vai entrar na nossa fábrica, vai ver como trabalhamos e depois aparece mais tarde ou mais cedo. Estamos a falar do Zivkovic, no Cervi…

– Nas alas foi onde mexeu mais…

– Porque tenho muitas e boas soluções para as alas. Tenho cinco futebolistas de qualidade, que trabalham bem e que mereciam, qualquer um deles, estar em jogo. A espinha dorsal deve manter-se a maior parte do tempo. Depois há uns que têm umas características, tem mais jogo interior, outros nem tanto…

– O que o motivou a colocar Pizzi no meio?

– Começámos com o André Horta que se lesionou. Quem vimos que poderia ter mais criatividade para esse lugar era o Pizzi. Foi ficando estável e não mudámos mais.

– E onde gosta mais de o ver jogar?

– Ele tem qualidade para jogar nas alas ou no meio. Percebe bem o jogo e sabe o que quero para o jogo. Jogar a “8” é uma posição de maior risco, porque jogamos com dois avançados.

– Pizzi foi o melhor jogador do Campeonato?

– Fez uma época muito boa. Tem de ser alguém do Benfica, porque foi a equipa que venceu o Campeonato. Fez 52 jogos, com notas entre os oito e os 10 valores.

– O Benfica assumiu a liderança à 5.ª jornada. Foi mais difícil correr de trás para a frente?

– Ambas foram complicadas, mas esta época foi mais dura, porque queríamos corresponder às expectativas das pessoas. Estamos de tal forma trabalhados que olhamos para cada jogo em si mesmo.

– Conseguiu estancar as polémicas…

– Trabalhamos em paz e sossego. Os jogadores estrão alheados dessas coisas, trabalhamos de forma profissional e não é qualquer coisa que entra na nossa caixa forte. O que vem de fora é acessório.

“Arbitragem em Alvalade? Não quis focar-me em coisas alheias…”

– O que se passou no Algarve na meia-final da Taça da Liga?

– Foi uma má interpretação da equipa de arbitragem sobre o que quis dizer. Fi-lo frente a frente, talvez de uma forma mais exaltada, mas com respeito. Creio que esse castigo vai ser retirado.

Porque é que não falou dos árbitros de Alvalade?

– Não quis focar-me em coisas alheias. Sentia a minha equipa focada no trabalho. Já não havia nada a fazer, o jogo tinha terminado. Tínhamos sido melhores, poderíamos ter ganho o jogo, mas havíamos de ter outros momentos.

– O que vai mudar com o videoárbitro?

– Sou o maior defensor dos meios tecnológicos que possam melhorar o futebol. O que quis dizer foi em relação ao “timing”. Havia uma série de jogos antes sem impacto na classificação que poderiam ter servido para testar. Correu bem na final da Taça de Portugal, mas já podíamos estar aqui com polémicas.

– O videoárbitro pode condicionar a postura defensiva dos jogadores do Benfica, nomeadamente ao nível do fora de jogo?

– O treino é que modifica o jogo e vice-versa. Se virmos que o árbitro assistente deixa passar vários lances, se virmos que temos de correr mais para trás ou para a frente, isso muda e temos de nos adaptar.

– Pior e melhor jogo da época?

– Em Setúbal foi um jogo não tão bom. O melhor… Em Alvalade foi bem, conseguido; com o V. Guimarães na última jornada foi muito bem conseguido.

“Vamos jogar como se não tivéssemos ganho nada”

– E quanto à Liga dos Campeões? O Benfica chegou onde era possível ou poderia ter ido mais longe?

– Isso é relativo. É subjetivo dizer. Apanhámos uma equipa forte nos oitavos de final. Depois há as lesões, os castigos… A base começa a ser modificada. Nunca tivemos todos os jogadores disponíveis ao longo da época. Só aconteceu na parte final. Dentro da forma de jogar temos algumas pedras influentes que não puderam jogar. Enfrentámos uma equipa que joga num sistema tático diferente do que estamos habituados e que é forte em casa. Não tínhamos todos disponíveis e se não formos com tudo na Champions é complicado.

 – Objetivo na Champions na próxima época?

– Vencer o primeiro jogo. Esse é o nosso objetivo. É sempre assim a nossa postura.

– O Benfica tem, ou não um futebol, atrativo?

– Isso não me preocupa. Preparamos os jogos com foco. Criámos oportunidades para marcar muitos golos e ganhar. Nunca tivemos a estabilidade de termos todos os jogadores disponíveis. O Grimaldo esteve fora; o Fejsa; o Jonas, isto é muito importante. Esta irregularidade não ajuda a estabilizar a forma de jogar. Depois, cada jogo tem a sua realidade. Marcamos golos de várias formas. Temos de atacar de forma variada. O futebol assim o exige. Ouvia os outros treinadores a dizerem: “o Benfica é forte no jogo interior”, “o Benfica é forte nos corredores”, “o Benfica é forte na bola parada”…

– Há espaço neste Benfica para haver uma evolução das ideias táticas?

– Há espaço e temos de feito esse trabalho. Analisamos o nosso processo e comparamo-lo com sete equipas na Europa. Avaliamos e observamos essas equipas e vemos a sintonia com a nossa equipa. Também estamos atentos a saídas de jogadores-chave. Estamos a pensar em mudanças táticas e na forma de jogar.

-Estamos preparados para a ressaca emocional de não ganhar?

– Eu estou. Temos de fazer reset e partir para novas conquistas. Não se ganha porque se acha que se vai ganhar, mas sim com muito trabalho. Foi duro. Primeiro foco é fazer reset. Agora, há a Supertaça para ganhar em agosto. Ainda há pouco tempo fizemos o inédito Tetra para esta Clube. Vamos jogar como se não tivéssemos ganho nada.

“O presidente é o coração disto tudo”

– Que papel teve Luís Filipe Vieira?

– Fundamental? Foi o nosso “mestre de obras” e nós fomos bons operários. O presidente é o coração disto tudo.

– Gostaria de ir para o estrangeiro?

– Vivo a minha vida no dia-a-dia. Estou feliz no Benfica, a minha família está feliz em Portugal. Não traço cenários a longo prazo e é assim que vivo.

– Vamos ter muitas mexidas no plantel?

– Pode haver, mas está nas mãos do presidente. Tudo isto foi pensado, estruturado e não há dramas. Vamos encontrar soluções se alguém sair. Se alguém o fizer vai levar o Benfica no coração, isso tenho a certeza.

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