O blogue divulgou o documento no qual a procuradora pede a identificação da morada eletrónica usada para alimentar o blogue, mais precisamente o IP usado a três de outubro de 2017, quando foi divulgado um documento da Polícia Judiciária protegido por lei. O documento, datado de 29 de setembro desse ano e sem qualquer assinatura no final, diz respeito a denúncias de possíveis atos de corrupção por parte de responsáveis benfiquistas junto de funcionários judiciais – trata-se do caso que ficou entretanto conhecido como Operação e-toupeira e que levou à detenção de Paulo Gonçalves, assessor jurídico do Benfica, e do funcionário judicial José Nogueira da Silva. Para além deste blogue, também as páginas ‘Mister do Café’ e ‘O Polvo’têm revelado informações relacionadas com processos ligados ao Benfica e são associados a adeptos portistas com ligaçõesa fontes da investigação e a vários meios de comunicação, através de jornalistas também simpatizantes do FCP.
Questionada sobre a aplicação de processos disciplinares na PJ, fonte oficial disse ao jornal i que “a matéria referente à eventual instauração de procedimentos de natureza disciplinar está abrangida pelo dever de segredo profissional; Por esse facto, não podemos responder à questão que nos foi colocada nem tão pouco a questões subsequentes”.
“É mais banal do que se pensa”
O fenómeno da ‘clubite’ não é algo novo. Recorde-se, por exemplo, o caso Apito Dourado: o presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa, foi avisado por um alto responsável da PJ do Porto de que seria detido e alvo de uma busca domiciliária no âmbito deste processo, em 2004.
Fonte ligada à PJ disse ao i que este não é caso único e que se trata de uma situação mais comum do que se pensa: “Isto é mais banal do que se pensa. É mais fácil um inspetor passar informações privilegiadas ao seu clube do que a troco de muito dinheiro. Não há explicação racional para o que é irracional. Não há hipótese de acabar com isto a não ser afastando as pessoas em causa”.
No entanto, há quem conheça bem a PJ e discorde totalmente desta posição: “Não acredito que haja ‘clubite’ na PJ. Cada inspetor que só pode ver os seus processos. Só têm acesso ao que têm direito, ao que estão a trabalhar Se for inspetor-chefe, só terá acesso aos processos dos seus inspetores (…) A PJ tem uma secção que só trata de futebol -têm o caso dos vouchers, dos emails, etc. Por que razão uns andariam para a frente e outros não? As pessoas que seriam suspeitas de ‘clubite’ – de colocarem na web informações sobre o caso dos e-mails, por exemplo – são as mesmas que estão agora neste caso do e-toupeira. Houve um problema desse género e foi assumido – o processo Apito Dourado. Pinto da Costa foi avisado por um responsável, que acabou por sair”, disse ao i Carlos Anjos, antigo inspetor da PJ agora comentador televisivo.