Paulo Gonçalves e a Benfica SAD estão indiciados pela prática de não sei quantos crimes no caso designado como e-toupeira, por terem alegadamente aliciado funcionários judiciais a darem-lhes acesso a um conjunto de informações sobre processos em curso na justiça.
Acontece que desse próprio processo em que Paulo Gonçalves e a Benfica SAD são arguidos ficaram este fim de semana a conhecer-se peças integrais – como o “Apenso F” – através de um dos blogues que andou meses a fio a pôr no ar emails do clube da Luz e de seus dirigentes e funcionários.
Ora, aqui é que a porca torce o rabo: então Paulo Gonçalves e a Benfica SAD estão a responder por alegados crimes e depois são vítimas de crimes iguais e, neste caso como noutros, perante o flagrante delito, nada nem ninguém ousa fazer coisa nenhuma? Não se compreende.
Se as chamadas toupeiras de Paulo Gonçalves ou do Benfica, segundo a acusação, prestavam informações a troco de bilhetes para os jogos no Estádio da Luz, acesso às chamadas zonas VIP e ainda camisolas assinadas por jogadores, o que será que darão em troca tais blogues, ou quem estará por
trás deles, às doninhas que lhes libertam estes documentos?
Ou não há toupeiras nem doninhas e há para aí hackers que, além de violarem os emails do Benfica, pelos vistos agora também conseguem aceder à base de dados do Deputamento de Investigação e Ação Penal (DIAP)?
E, já agora, como vem a público uma escuta em que o presidente do Benfica surge a falar com um empresário sobre a eventual disponibilidade do clube para receber uma proposta pelos serviços do treinador Rui Vitória?
A justiça desportiva sempre esteve sob suspeição popular por ser, de um modo ou de outro, associada aos interesses dos chamados três grandes, com maior predominância de um ou de outro, dependendo das épocas.
Ora, seja pelo “sistema” ou por simples clubite, a verdade é que a justiça civil parece estar também, e cada vez mais, contaminada pelo mesmo mal.
Assim não sendo, já há muito que estes blogues anónimos teriam rostos e responsáveis.
Porque, como diz o povo, ou há moral ou comem todos.
Daí que, perante estes novos desenvolvimentos, seja estranha a inação do Ministério Público e silêncio da nova procuradora-geral da República, Lucília Gago. Não é, de facto, um bom prenúncio para o mandato que ainda agora está a começar.