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Rui Patrício: A pirataria, que “chatice”, afinal!

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Campeia a depressão coletiva, e com boas razões (e a procissão ainda vai no adro), pelo que devemos contribuir, podendo, para realçar aspetos positivos destes tempos amargos e sombrios. Pois bem, cá vai o meu contributo de hoje, oferecendo-me desde já para colocar a minha assinatura no abaixo-assinado, petição ou o que queiram fazer. Talvez depois de, porventura, lerem o que se segue, não a queiram, mas aqui fica a oferta, e é de boa-fé.

Parece que há muita pirataria de jornais e revistas, e as gentes da comunicação social insurgiram-se. E têm toda a razão, pois trata-se de uma clara violação dos direitos de autor. Não é ético, é crime, e é até uma ameaça à sustentabilidade financeira das empresas, à informação livre e independente, e pode colocar em causa postos de trabalho. Pois é. Indiscutível. Eu vou ao posto de venda – como, aliás, vou trabalhar fora de casa sempre que é mesmo necessário, embora com os devidos cuidados, e seguindo as recomendações razoáveis, claro, da mesma forma que o faço quanto ao supermercado ou à farmácia, et cetera, embora os “devidos cuidados” ainda não me tenham dado para o afastamento de quatro metros ou mais nas filas ou para os maus modos e a hostilidade que vão crescendo por aí à medida que os dias passam. Também ainda não me atirei para debaixo do sofá, seja a espreitar a televisão, seja depois de a espreitar.

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Faço o que posso, e também me juntarei, com gosto, aos reclamantes contra a pirataria. Até porque eu já descobri há muito tempo, não foi só agora, que a pirataria é, afinal, uma grande “chatice”. Pois é. Há quem só descubra quando lhe toca. Quando toca aos outros, e até põe em causa coisas bem mais graves do que os direitos de autor, a pirataria ou lhe é indiferente (não a todos, é verdade) ou até acha bem, e alguns (não todos, justiça se faça), não resistindo, consomem e dão a consumir. Aí, a ética, o crime, a sustentabilidade, os direitos dos outros, et cetera, ficam postos de lado ou acomodados debaixo do tapete. Mas agora, Deus meu, agora dói que se farta.

Ah, dir-me-ão, mas noutros casos há que louvar ou, pelo menos, consumir e “traficar” a pirataria (até mesmo quando se lhe junta a truncagem, a adulteração e/ou até a invenção) porque estão em causa valores mais altos. Ah é?! Eu digo que não, e digo que não por uma razão de princípio, que é aquele ensinamento básico e quase universal de que, em regra, os fins não justificam os meios, e também por uma razão a benefício dos que agora reclamam (e bem, repito): é que daqui a uns tempos, quando meio mundo estiver totalmente à míngua e não tiver meios para sequer comprar no posto de venda ou para a assinatura digital ou por correio, os fins do acesso à informação não justificarão os meios? Se calhar. Estão a ver onde nos leva a lógica dos fins acima de tudo, e também onde conduz a hipocrisia (por ação ou por omissão)? Dói, eu sei. Desagrada, eu sei. Mas é mesmo assim. Ponto.

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