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“Só tendo sucesso coletivo é que podemos ganhar prémios individuais”

Presença de Roger Schmidt foi o momento forte do último dia do evento Thinking Football Summit

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Neste sábado, 9 de setembro, a presença de Roger Schmidt foi o momento forte do último dia do evento Thinking Football Summit, que decorreu no Porto. O treinador do Benfica recebeu o prémio de Treinador do Ano 2022/23 e, posteriormente, deu uma entrevista onde abordou temas do passado, presente e futuro da equipa.

 

“Estou muito feliz por este prémio. Como disse na quinta-feira [7 de setembro], o futebol é um desporto coletivo e tenho de partilhar o prémio com jogadores, staff, equipa técnica e com o Benfica. Só tendo sucesso coletivo é que podemos ganhar prémios individuais“, afirmou.

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Estava dado o mote para uma entrevista conduzida por Ricardo Rochaantigo jogador do Benfica, onde Roger Schmidt falou sobre o desafio da Liga portuguesa e discorreu sobre a ideia tática dos encarnados, entre outros assuntos.

A quantos jogos da Liga portuguesa assistiu antes de vir para o Benfica?

Para ser honesto, não foram muitos. Quando decidi terminar a minha ligação com o PSV e começar um novo desafio, falou-se do Benfica ser uma boa opção para mim. Nessa altura comecei a ver alguns jogos do Benfica, uns da Liga dos Campeões e outros da Liga portuguesa, para ter a ideia dos jogadores e do plantel. Mas, para mim, o importante não é o que aconteceu no passado, porque as coisas acontecem quando eu inicio um trabalho. Tenho uma ideia de jogo e tento ajustá-la à cultura do clube e aos jogadores-chave. Sou muito aberto a isso. Quando cheguei ao Benfica, estava concentrado em preparar a época e começar do zero. Para os jogadores também foi um momento bom, porque tiveram uma nova oportunidade. Alguns desenvolveram-se muito bem no âmbito da nova abordagem de jogo.

Comparando com os outros campeonatos onde treinou, a Liga portuguesa é aquela onde os jogadores têm menos margem de manobra em campo?

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Penso que não podemos falar da Liga num todo. Cada clube tem o seu estilo, filosofia e abordagem. Nesta altura, muitas equipas jogam com cinco defesas, e isso aconteceu na última época. Significa que há sempre mais um defesa na linha e muitos jogadores na área e à volta dela. Os espaços são pequenos e temos de encontrar soluções. É importante ter paciência, criatividade e acelerar no momento certo. Estou habituado a isso na preparação dos jogos. Também há momentos em que temos tarefas diferentes, como nos contra-ataques. Após recuperarmos a bola, é importante encontrar soluções diante de adversários com defesas mais atrás. Temos de pressionar, fazer transições e encontrar boas oportunidades de golo.

Na segunda metade da última temporada, sentiu que os treinadores adversários conheciam melhor as suas escolhas? Isso tornou as coisas mais complicadas para o Benfica?

Acho que é muito fácil analisar a nossa equipa, porque jogamos sempre da mesma forma. Podemos ter diferentes abordagens e ideias para o estilo de jogo, mas eu acredito que o melhor é ter as nossas próprias ideias e não mudar a abordagem conforme o adversário. Tanto na Liga como na Champions, tentámos acreditar sempre em nós e criar vários momentos do jogo onde nos sentimos confortáveis. Se virem o Benfica a jogar, não joga com um estilo diferente a cada semana. Temos o nosso estilo, mas, também, a flexibilidade para nos adaptarmos a diferentes questões. Jogamos um futebol muito intenso, com muitos momentos de transição e, nesta época, jogamos o mesmo que jogámos na anterior, tentando ajustar algumas coisas e fazer algumas melhorias. No geral, vencemos a maioria dos jogos, fomos competitivos e conseguimos implementar o nosso estilo independentemente do adversário.

Roger Schmidt

De todas as ligas onde trabalhou, a portuguesa é aquela onde se joga mais em contra-ataque? Isso mudou a sua forma de abordar os jogos?

Quando jogamos no nosso estádio temos mais posse de bola e os adversários tentam sempre encontrar os melhores momentos para os contra-ataques. O objetivo é sermos bons na posse de bola, mas temos de ter cuidado, porque, quando perdemos a bola, temos de estar bem organizados para parar os contra-ataques adversários. A nossa maior arma é a pressão para recuperar a bola, e essa é a melhor forma de travar essa estratégia. No entanto, quando eles avançam até é bom, porque ficam com mais jogadores no ataque. Se conseguirmos recuperar a bola, encontramos mais espaço, e já marcámos muitos golos dessa forma. A minha experiência nas outras ligas onde trabalhei, em diversos países, é que as equipas com maiores orçamentos têm de se preparar para contra-ataques. Isso é válido nos Países Baixos, na China, na Áustria e na Alemanha. Não senti uma grande diferença entre esses países e Portugal.

O futebol de hoje é compatível com jogadores que defendem menos?

Se queremos jogar da forma como jogamos, isso é impossível. E é um pensamento válido para os nossos atacantes. Não se pode deixá-los fora do trabalho sem bola, porque temos de pressionar alto. Se eles não fizerem nada, temos um problema, porque se perde tempo e os adversários arranjam soluções para jogar em profundidade. No futebol moderno temos de ter 11 jogadores muito fiáveis a nível tático para fazer a diferença. Cada jogador tem de fazer o mesmo, mas a níveis diferentes. Os defesas, claro, estão mais envolvidos na defesa, mas espero que os nossos atacantes também tenham o mesmo mindset, dois níveis à frente. Se olharem para o campeão europeu Manchester City, os jogadores de ataque andam sempre atrás da bola e, depois, fazem a diferença pela sua qualidade individual. Ao contrário, temos o Paris Saint-Germain, com quem jogámos na época passada. Tinham na frente o Messi, o Neymar e o Mbappé, mas eles não trabalhavam sem bola e só faziam parte da estratégia com bola. Com essa atitude podemos ser campeões na França, mas não se ganha no futebol internacional.

Até que ponto mudou a sua forma de treinar e de jogar na Liga portuguesa?

Mudo sempre um pouco. Nunca me quis tornar um treinador, foi o destino, ou coincidência. Comecei nos níveis amadores, na 5.ª ou 6.ª divisões das ligas alemãs. Conheço esse nível amador e subi nas diversas ligas até ao topo. Claro que durante esse período me desenvolvi, ganhei experiência, e percebemos o que funciona e não funciona. Claro que hoje o meu treino é diferente do que era, especialmente porque nos últimos anos estive a treinar equipas que jogam no futebol internacional, em que se joga a um sábado e à quarta-feira com a Champions. É completamente diferente em termos de treino. Durante a pré-época, temos de fazer tudo em termos técnicos e físicos, e em termos de team building. Durante a temporada estamos só a jogar e a recuperar, pelo que os treinadores têm de fazer um treino de manutenção, o que é totalmente diferente de se ter uma semana para preparar a equipa. O meu mindset em relação ao futebol é mantê-lo simples. O mais importante é ganhar. Não devemos fazer as coisas muito complicadas para os jogadores. Mudo alguns exercícios, mas devemos estar próximos da tarefa que teremos no fim de semana, o que é importante para desenvolver os jogadores. Em Portugal, a minha abordagem em termos físicos foi muito semelhante ao que fazia antes. Principalmente, a pré-temporada tem de ser uma boa base para a época, em termos táticos e físicos. Se falha algo, especialmente se tivermos jogos internacionais, é muito difícil recuperar durante a época. A pré-temporada é um momento crucial para ser bem-sucedido durante toda a temporada.

O que pretendia quando colocou Rafa no ataque na Supertaça?

Acho que foi uma boa ideia, porque ganhámos [risos]. Pensei muito sobre essa decisão. O Gonçalo Ramos tinha saído, precisávamos de uma solução para este jogo. Pensava em que jogadores poderia colocar. Poderia jogar com Musa ou Tengstedt. A diferença foi o Fredrik Aursnes, que era o segundo atacante junto ao Rafa, alguém bom a pressionar, a correr e a compensar, e a apoiar o Rafa. O FC Porto esteve muito bem no início do jogo, a pressionar, nós não entrámos muito bem, mas ao longo da primeira parte fomos começando a melhorar, a controlar o jogo e criámos oportunidades. Ao intervalo mudámos e vencemos. Como treinadores, temos de tomar decisões antes do jogo, é essa a diferença em relação aos media ou a quem analisa o jogo. Decidi colocar Rafa e Fredrik na frente e foi uma boa decisão.

Roger Schmidt com o troféu de Treinador do Ano 2022/23

Por vezes, só nos apercebemos se as opções são boas no decorrer das partidas. Na Supertaça, as substituições foram perfeitas e o Benfica venceu…

Sim, mas não vencemos apenas por causa das substituições. Na segunda metade da primeira parte já estávamos a melhorar. Temos de respeitar o adversário, sabemos que nunca se domina completamente, contra boas equipas, do primeiro ao último minuto de jogo. Por vezes, temos de aceitar que o adversário cria oportunidades, e temos de trabalhar durante o jogo para alterar o ritmo e o momento, algo que aceito sempre. Temos de ter o cuidado de respeitar sempre o adversário.

Na época passada defrontou adversários muito fortes na Liga dos Campeões. Foi fácil preparar este tipo de jogos em que houve mais espaços do que na Liga portuguesa?

Tivemos os embates com Juventus, Maccabi e PSG. Era um grupo muito difícil, mas tínhamos confiança, e a oportunidade de chegar à fase a eliminar. Era muito importante ganhar o primeiro jogo, com o Maccabi, em casa, mas foi muito difícil, porque tinha uma boa equipa. Para nós, foi fantástico ganhar o segundo jogo, fora, com a Juventus. Ganhar fora é muito importante para o resto da fase de grupos. Foi também muito bom para os nossos jogadores, pois foi a primeira vez que jogámos com uma equipa de topo a nível internacional. A nossa abordagem desde o início foi acreditar em nós, mesmo com a Juventus, queremos jogar com pressão alta, e acho que foi a primeira vez que mostrámos essa qualidade e crença em nós próprios, também num jogo muito grande. Ganhar fora foi ótimo para os jogadores, foi um jogo-chave para acreditarmos em nós, ganhando mais confiança. Com a vitória, os jogadores passaram a acreditar mais neles próprios, nos colegas e na nossa abordagem de jogo.

Mas é mais fácil preparar os jogos da Liga dos Campeões?

O que é diferente é que o foco do jogador e a concentração surgem mais por si próprios. Como disse, os jogadores também querem jogar a Liga dos Campeões, e talvez seja uma vantagem, mas, do ponto de vista da preparação, preparamos o jogo da mesma forma que nos preparamos para um jogo da Liga portuguesa. Não há diferenças para nós.

O que gosta mais nos jogadores portugueses?

Gosto das suas competências técnicas, acho que são muito bons. Há muito bons jogadores portugueses com muito bom toque de bola. Nós somos uma equipa portuguesa, mas não temos apenas jogadores portugueses. O que gosto mais é que são jogadores muito abertos, gostam muito de jogar futebol, mantêm esse amor e essa paixão por jogar futebol. Para mim, como treinador, isso é ótimo. Eles conseguem trabalhar arduamente, mas aprecio especialmente o futebol técnico, gosto muito disso, e os jogadores portugueses são capazes de praticá-lo.

Que opinião tem sobre a Liga portuguesa?

É uma competição de topo na Europa, porque sinto que é difícil ganhar os jogos. Somos competitivos na Liga dos Campeões, estivemos nos quartos de final na época passada, estivemos bem na Liga dos Campeões, somos uma boa equipa, mas cada jogo da Liga portuguesa foi difícil, especialmente os jogos fora. Ou seja, isto significa que mesmo as equipas mais pequenas têm bons jogadores, e isso surpreendeu-me. Como vemos no futebol internacional, o Braga qualificou-se para a Liga dos Campeões, Portugal volta a ter três equipas [na fase de grupos]. Na época passada, acho que todas as equipas estiveram muito bem, ninguém gosta de jogar contra as equipas portuguesas, porque têm qualidade. A Liga é muito boa, com muito bom futebol e muito bons treinadores, e isso é sempre um desafio. Ganhar prémios é muito difícil em Portugal, porque somos desafiados por outras equipas, que são capazes de atingir os seus objetivos. Gosto muito desta competição.

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