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Entrevista de Vieira sobre os Milhões da NOS, JJ, Bruno de Carvalho, Proença e muito mais…

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MATÉRIAS sensíveis como o contrato com a NOS, que pode ser já renegociado em janeiro, as relações com o Sporting, a saída de Jorge Jesus e a entrada de Rui Vitória, a política desportiva e o Seixal, a Liga de Clubes ou a recandidatura ao cargo que ocupa na Luz desde 2003, são escalpelizadas por Luís Filipe Vieira, de forma desassombrada, chamando as coisas pelos nomes, sem paliativos. A páginas tantas, Vieira, sem assumir oficialmente a recandidatura, deixa escapar que continua a ter ideias, projetos e meios para o futuro do Benfica. Pelo que se vê pelo número de quilómetros feitos nas estradas de Portugal e em milhas aéreas voadas entre os quatro cantos da terra, energia para continuar à frente dos destinos dos encarnados, por mais alguns anos, também não…

— Quanto tempo demorou a negociação com a NOS?

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— O tempo necessário a alcançarmos um bom acordo para todas as partes.

— Quanto tempo demorou a negociação com a NOS?

— O tempo necessário a alcançarmos um bom acordo para todas as partes.

— 400 milhões foi um excelen-te negócio, principalmente para quem recebia 7,5 milhões há 3 anos. Depois seguiu-se o FC Por-to com 457 milhões e o Sporting com 515. Quem fez afinal o melhor acordo?

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— Tenho ouvido e lido muitas coisas nestes dias e o único que posso dizer-lhe é não se pode com-parar o incomparável, o que é preciso é analisar a diferença dos contratos, quer no limite temporal, quer nos conteúdos e ativos que cada um deles abrange. É evidente que são três excelentes acordos, mas os contratos do FC Porto e do Sporting só foram possíveis porque o Benfica voltou a liderar o processo e demonstrou que os valores que eram pagos em Portugal pelos direitos televisivos eram inacreditavelmente baixos. Portanto, o Benfica só pode ter orgulho em ter criado a oportunidade para que outros clubes possam beneficiar da revolução que foi iniciada por nós. Tinha dito no dia da apresentação do nosso acordo com a NOS que todos os clubes iriam beneficiar. O tempo – e não foi preciso esperar muito – deu-me razão.

— Mas qual é o melhor acordo?

— O que lhe posso dizer é que o nosso é o que compromete o clube durante menos tempo e com menos ativos. O nosso contrato é por 10 anos e os demais por 12 ou 13, em média. E o nosso contrato não inclui patrocínios nem nas camisolas nem no estádio. A partir daqui, as con-tas são fáceis de fazer e cada um que tire as suas conclusões.

— E o Benfica tem uma cláusula de salvaguarda como também já foi noticiado?

— O Benfica tenta sempre maximizar as suas receitas, em qualquer contrato, com qualquer parceiro. Na eventualidade de um parceiro nosso poder estabelecer acordos similares aos nossos com algum dos nossos concorrentes, é natural que a dimensão ímpar do Benfica tem de estar salvaguardada. Curiosamente, isso é feito por nós, mas também pelos nossos concorrentes que reconhecem a nossa grandeza, sem paralelo em Portugal.

— Mas o acordo com a NOS contempla essa salvaguarda?

— Obviamente. E por isso, em janeiro estaremos de novo sentados à mesa com a NOS, algo que já está contemplado no nosso acordo.

— O presidente do Sporting diz que o acordo do Benfica é pior que o acordo do Porto e, por consequente, pior que o acordo do Sporting. Quer comentar?

— Continuo a ver o presidente do Sporting muito interessado em comentar os assuntos dos outros clubes. Felizmente, o conhecimento que possui sobre esta matéria é igual ao que tem sobre a necessidade de se cumprirem contratos.

— Mas falar de 515 milhões é um valor que impressiona….

— E até poderiam estar a falar de 1000 milhões, bastava terem vendido tudo por mais 20 ou 30 anos. O que é relevante é perceber, em cada ano, quanto é que os clubes vão receber nessas 3 componentes, direitos televisivos, canal do clube e publicidade nas camisolas e no estádio. Como já disse, as conclusões são fáceis.

— Considera então que contratos a 13 anos são demasiado longos e que isso não justifica que se olhe só para o valor absoluto?

— Não sou eu que o digo. No dia 28 de dezembro, alguém comentava no seu famoso Facebook que Porto e Benfica faziam mal em comprometer-se por um período tão alargado (10 ou 12 anos) e no dia seguinte assina um contrato por 13 anos? Ora aqui está um enorme exemplo de coerência, igual ao que dá quando defende a centralização e passado 3 semanas assina um contrato com compromissos até 2028.

— Se os jogos da equipa principal do Benfica em casa forem transmitidos na Sport TV não é um recuo em relação ao que já disse sobre a Olivedesportos e Joaquim Oliveira?

— O Benfica vendeu os seus direitos televisivos à NOS e não a um intermediário. Portanto, a Olivesportos não tem qualquer relação com o Benfica. Será a NOS a decidir onde irão passar os jogos Qualquer que seja a decisão da NOS, temos a garantia de que os nossos jogos serão tratados com a máxima isenção e respeito, aliás como nos orgulhamos de fazer nas transmissões da BTV. Se voltarem à Sport TV, não consideramos isso um problema. Ninguém melhor que a NOS para assumir um maior protagonismo na gestão da Sport TV. O rigor e o profissionalismo da NOS são para nós unma garantia de isenção e qualidade.

— Porquê a NOS, não foram alvo de propostas de outros `players’?

— Foi a NOS que nos apresentou a proposta mais estruturada e que nos dava mais garantias. Não apenas financeiras, mas também de qualidade de serviço. Recebemos demonstrações de interesse que não podem ser assumidas como propostas de outras empresas, nomeadamente de um operador de telecomunicações, de dois canais internacionais e de um fundo.

— Este acordo vai esvaziar muito da proposta de valor da BTV. Qual o futuro do canal do clube?

— A BTV vai continuar a ser propriedade do Benfica e continuará a ser um elemento de comunicação fundamental do clube com os seus sócios e adeptos. Vamos continuar a transmitir os jogos da formação, quer nas modalidades quer no futebol, vamos continuar a transmitir os jogos das modalidades e da equipa B. Vamos continuar a ter bons conteúdos. E vamos beneficiar do acesso aos jogos da equipa A em diferido. Resta afirmar que o arquivo dos jogos da equipa A é nosso e esperamos em breve poder também ter acesso ao arquivo dos jogos fora.

— Ao desinvestir na BTV, espera-se uma reestruturação da mesma? Um redimensionamento que poderá passar pela redução de pessoal?

— Isso não está em cima da mesa nesta altura, vamos encontrar soluções. Tenho 12 anos como presidente do Benfica e nunca houve despedimentos dentro da organização.

— Ao assinar um acordo com um horizonte temporal de 10 anos, não ‘amarra’ o futuro do Benfica?

— Entendemos que o momento atual é aquele em que os conteúdos, nomeadamente os desportivos, estão mais valorizados. E por isso, exigimos um compromisso de longa duração. Acho que a perspetiva tem de ser completamente diferente, este contrato, com esta duração, garante a sustentabilidade e o futuro do Benfica.

Consumada a saída de Jorge Jesus, depois de seis anos, o que o fez optar por Rui Vitória para assumir uma tarefa que se sabia ser de grande exigência?

— Fi-lo pela razão mais simples, ficámos sem treinador. E, portanto, fomos à procura de um treinador com um perfil que nos garantisse empenho e qualidade no seu trabalho e que se identificasse com o projeto. O Rui encaixa neste perfil, já tinha trabalhado nesta casa, saiu, provou ter capacidade para assumir este desafio.

— Como avalia o trabalho de Rui Vitória no Benfica?

— Creio que independentemente dos reparos e das críticas de que tem sido alvo por parte de alguma imprensa, a avaliação tem de ser positiva. Apostou e ganhou jovens que hoje já não são promessas, mas certezas do Benfica, estamos nos oitavos de final da Champions, tem uma ligação a todos os escalões de formação que nenhum outro treinador anterior teve. Temos tido quatro a cinco jogadores portugueses em campo, algo que já não acontecia há muitos anos. É evidente que a nível exibicional temos sido irregulares, mas como tenho dito houve uma mudança muito grande no paradigma do futebol do Benfica e isso obriga-nos a ter de ser pacientes. Há sempre espaço para maiorias e o Rui é o primeiro a saber disso.

— Alguns resultados e exibições têm sido negativos. Como explica isso?

— E outros resultados e exibições são positivos, é o futebol. Há quem se agarre apenas ao que de negativo acontece. Nestes 15 anos sempre me agarrei ao que de positivo fomos fazendo dentro do clube e foi por isso que chegámos aqui. Há uma coisa de que tenho a certeza, temos de apoiar a equipa, principalmente nos momentos em que as coisas não estão a correr bem. Apoiar quando tudo sai bem é muito fácil, mas se assobiarmos quando as coisas não estão a correr como os jogadores querem só estamos a contribuir para piorar a situação.

— Esperava estar a tanta distância de Sporting e FC Porto no final do ano?

— Acho que é uma distância recuperável, aliás lembro-me que ainda há pouco tempo perdemos dois campeonatos tendo chegado a ter oito e cinco pontos de avanço para o segundo classificado, portanto… Preferia estar mais perto e creio que poderíamos estar, mas além de culpas próprias também temos tido, em alguns momentos, a falta da estrelinha que tem acompanhado os nossos rivais. Mas é uma diferença recuperável.

— O discurso de Rui Vitória é quase sempre pouco incisivo. Têm essa noção?

— E um discurso de uma pessoa equilibrada. Os jornalistas querem sempre intervenções de combate que deem bons títulos e depois garantam a réplica do treinador B ou C. Acho que temos de defender o Benfica, mas isso não significa estar sempre em ‘guerra’ com tudo e todos.

— Todos os treinadores estão dependentes de resultados? Qual é a margem de manobra de Rui Vitória?

— Qual foi a margem de manobra do nosso último treinador? Como bem se lembra, foi muito grande. As pessoas é que as vezes tem tendência para esquecer. Creio que já tem a resposta.

— A confiança no trabalho dele é neste momento inabalável?

— Os Resultados são sempre a parte mais importante e mais visível do trabalho de qualquer treinador. Mas há uma parte que é invisível do público e dos jornalistas que é o trabalho diário no Seixal. Esse trabalho está a ser bem feito e é um trabalho que vai muito para lá da nossa equipa profissional. Ser paciente é uma virtude e se formos pacientes os resultados vão aparecer.

— Há mais de 60 anos que o Benfica não perdia três vezes com o Sporting na mesma época. O que tem a dizer sobre isso?

— As derrotas são sempre más, seja com quem for. Também tivemos durante alguns anos várias derrotas consecutivas com o FC Porto e isso não nos desviou das nossas ideias, nem nos fez retirar a confiança no nosso treinador. Gostava que não tivesse acontecido, mas se ganharmos o campeonato o que é que é mais relevante? As três derrotas ou o tri?

— Quando diz que esta é uma época de transição está a fazer um apelo à tolerância dos benfiquistas?

— Estou apenas a constatar uma realidade e o que disse há duas semanas continua a valer. Temos de ser exigentes, mas ao mesmo tempo pacientes. Houve mudanças, há mais jovens na nossa equipa profissional, houve várias lesões…Portanto, temos de equilibrar a nossa exigência que tem de existir sempre, com alguma tolerância.

— Como avalia os últimos protestos de adeptos contra a equipa e o treinador?

— Temos de os encarar com normalidade. Quando os resultados não são aqueles que desejamos há sempre manifestações deste tipo, no Benfica ou em qualquer clube. Não podemos desvalorizar essas manifestações, mas quando estamos convictos do que estamos a fazer temos de dizer a todos os benfiquistas que os resultados vão aparecer. Também o disse há dois anos atrás quando houve mais manifestações e de uma escala bem maior conta o nosso an-terior treinador…

— É inegável que o Seixal está a produzir futebolistas de muito boa qualidade. Mas não estão a faltar ao Benfica alguns jogadores mais experientes que enquadrem devidamente esse talento?

— Quando temos jogadores como Luisão, Jonas, Júlio César, Fejsa, Samaris, Jardel e outros, não podemos dizer que faltam jogadores experientes. Eles estão cá e vão co-tinuar a ajudar os mais novos a crescer. Não creio que haja qualquer problema desse ponto de vista.

— Reconheceu em entrevista a A BOLA que gostaria de ter dado mais um ou dois jogadores a Vitória. Vai fazê-lo em janeiro?

— E também disse que preferia uma equipa comprometida do que uma equipa sem compromisso. Vamos ter jogadores importantes de regresso à equipa, casos de Gaitán, Nélson Semedo, Luisão e Salvio e esses serão os nossos melhores reforços. É verdade que a estes regressos podemos juntar mais um ou dois jogadores, mantendo a mesma filosofia: jogadores jovens que nos tragam soluções que não temos no Seixal.

— O espanhol Grimaldo já foi apresentado e é reforço, entretanto fala-se do argentino Leonardo Jara. É uma hipótese?

— O Jara nunca foi hipótese. Como sabem há sempre muitos nomes plantados na comunicação social quando as janelas de transferência estão para abrir. Muitos não fazem sentido e o Jara nunca foi hipótese.

— Confirma que Cervi vem já?

— Estamos a trabalhar nesse sentido. Gostaríamos de poder contar com ele já em Janeiro, mas não depende apenas de nós.

— Já recebeu alguma oferta ou já lhe perguntaram sobre a possibilidade de vender o Nélson Semedo, o Renato Sanches ou o Gonçalo Guedes?

— Não vou revelar nada em relação a isso, apenas que são três jogadores em quem nós acreditamos muito e que fazendo o trabalho que têm de fazer não vão faltar clubes interessados. Para já, o que nós queremos é que cresçam dentro do Benfica e nos ajudem a atingir os nossos objetivos.

— Algumas aquisições de verão e outras anteriores – Taarabt, Carcela, Jiménez, Djuricic, Cristante -não se afirmaram. O que correu mal nesse processo?

— São casos diferentes e em relação a alguns deles não estou de acordo com a afirmação feita. Há jogadores que estão a ajudar a equipa, há outros em que há duas ou três opções para o mesmo lugar e aí nada a fazer e, finalmente, sim há um caso que claramente ficou abaixo do esperado. Infelizmente o futebol é isto, e os casos de jogadores que ficam abaixo das expectativas não é um exclusivo nosso, em todos os clubes do mundo há situações iguais.

— Quem é o responsável?

— O responsável sou sempre eu. Dentro do Benfica funcionamos em equipa, de forma colegial, mas o responsável sou sempre eu.

— Não é demasiado investir €9 milhões por 50 por cento do passe de Raúl Jiménez?

— Depende do seu desempenho desportivo e do valor pelo qual for vendido futuro. Já houve vários casos em que me fizeram a mesma pergunta e quando o jogador foi vendido rendeu o triplo ou mais ao clube. Há, evidentemente, casos em que isso não acontece. Portanto, a resposta à sua pergunta só será conhecida quando o jogador sair do Benfica. Em todo o caso, tenho muitas esperanças no rendimento desportivo do Jiménez, que para o caso é o que neste momento interessa.

— A opção de compra de Mitroglou é obrigatória ou o Benfica só a aciona se quiser?

— É opcional. Não sei se a vamos exercer ou não, mas é justo reconhecer que o jogador está comprometido com o Benfica e que honra a camisola que veste.

— Eliseu acaba contrato no final da época. Vai renovar?

— É mais um tema que não se trata na praça pública. Falaremos com o jogador e com o seu representante.

— Quais são as dispensas no horizonte?

— A seu tempo saberão. É um tema que não se trata pelos jornais.

ESTÁ arrependido da saída de Jorge Jesus? Por outras palavras, por sua vontade Jorge Jesus ainda seria treinador do Benfica?

— A pergunta não faz sentido, a decisão foi dele. Mas é um tema que não vou voltar a alimentar. Jorge Jesus seguiu o seu caminho e fez a opção que entendeu fazer. Ponto final.

— De uma vez por todas, foi decisão sua ou foi decisão de Jorge Jesus?

— Acho que é um capítulo que devemos fechar. O tempo vai ser o melhor juiz do que se passou. Fomos à procura de um treinador depois de sabermos pela comunicação social da opção de Jorge Jesus. Só tive a confirmação já de madrugada e por sms. Nada mais a dizer sobre isso.

— Esperava tanta turbulência com a saída dele?

— É normal que assim seja. Seis anos não são seis dias.

— Ou a turbulência resulta de ele ter ido para o Sporting? Se tivesse ido para o estrangeiro não teria tanto impacto… É verdade, como tem sido dito, que sugeriu a Jorge Jesus continuar a carreira no estrangeiro?

— Não vou alimentar mais essa mentira. Já se disseram muitas coisas, a maioria delas distorcidas e desfocadas de forma intencional. Chegará o momento em que a história será contada na sua versão correta.

— Quando se encontra socialmente com Jorge Jesus falam-se?

— Independentemente das opções que ele assumiu e da decisão do Benfica em avançar para tribunal na defesa dos direitos do clube, há um relacionamento de muitos anos e sempre que me cruzo com ele falamos. A defesa do Benfica enquanto clube não significa que tenha de me afastar das pessoas com quem sempre falei ao longo da vida.

— Até que ponto é possível separar o lado afetivo do ‘business’ puro e duro?

— É possível separar e no Benfica sabemos separar bem o negócio do lado afetivo. Já foi assim há três anos com o Joaquim Oliveira e podia dar muitos outros exemplos. E no caso do Jorge Jesus é exatamente a mesma situação.

— As ações judiciais contra Jesus eram inevitáveis ou houve um sentimento de frustração que acabou por torná-las efetivas?

— Os tribunais têm uma função, existem para decidir quando há dois lados composições diferentes. O departamento jurídico do Benfica entendeu que havia razões para avançar para tribunal. Quando são os interesses do clube a estar em causa, sou o primeiro a assumir a sua defesa. O clube está acima de tudo.

— Marco Silva também foi considerado depois do divórcio com Jesus?

— Como já lhe disse anteriormente, e sem falar deste ou daquele treinador, esse capítulo está fechado e bem fechado. Depois da saída de Jorge Jesus, houve várias opções que foram consideradas, Rui Vitória reuniu consenso.

— Com José Mourinho livre há muitos benfiquistas a sonhar. Passou-lhe pela cabeça tentar contratá-lo?

— Não, conheço bem o José e sei que não vai voltar a Portugal tão cedo. É o melhor treinador português e um dos melhores do Mundo, e não vai ser pelo que sucedeu no Chelsea que o vai deixar de ser.

— Acredita que um dia ele voltará ao Benfica?

— O José já ganhou um estatuto que lhe permite fazer o que ele entender do seu futuro. Vai ser ele a decidir o que quer fazer daqui a seis ou oito anos.

O Sporting acusou o Benfica de factos graves, a propósito dos kits oferecidos a vários agentes do futebol. Enquanto Bruno de Carvalho for presidente, o Benfica não vai querer relações entre os clubes?

— O Sporting enquanto clube, enquanto instituição centenária merece-me todo o respeito, gostava que não ficasse nenhuma dúvida em relação a isso. Mas é evidente que o Sporting vai ter de responder pelos
atos do seu atual presidente, pelas acusações repetidas que puseram em causa o bom nome e a reputação do Benfica. Creio que o Sporting vai ter de pagar pela irresponsabilidade de muitas das afirmações do seu presidente. O futebol beneficia com um clima de serenidade, a opção do presidente do Sporting foi a de afirmar-se pelo confronto, pela difamação. O Benfica não vai dar a outra face. Foi longe de mais, vamos ver os custos que isso vai ter para a instituição a que ele preside.

— O que espera das ações que o Benfica intentou contra o Sporting?

— Ainda não deram entrada, estão a ser finalizadas. Mas aquilo que espero é apenas a justa compensação pelos danos reputacionais que foram causados.

Como viu o ataque do Sporting, através de Bruno de Carvalho, à Liga e a Pedro Proença?

— Não me vou pronunciar, é algo que não me diz respeito. Apenas registo que o Sporting foi dos grandes apoiantes da candidatura do atual presidente da Liga. Não me parece, contudo, que seja apenas uma birra de amigos.

— Se Luis Duque, a quem foi tirado o tapete, continuasse a ser presidente da Liga haveria mais probabilidades de um acordo pró-centralização?

— Luís Duque teve, num mandato extremamente curto, um grande mérito, conseguiu pacificar a Liga e a partir daí, num clima de grande unidade entre os clubes, tomou-se a decisão de estudar de forma objetiva a centralização. Depois seguiu-se o que todos conhecemos, com uma candidatura que fraturou a Liga e a partir daí deixou de haver condições (foi a atual Direção da Liga a reconhecê-lo) para a centralização.

— E entretanto Porto e o Sporting anunciaram já acordos até 2028..

— Isso revela que nem o Porto nem o Sporting acreditavam seriamente na promessa de centralização anunciada pelo atual presidente da Liga durante a sua campanha eleitoral. Como é evidente, as negociações com os clubes começaram muito antes do nosso anúncio e isso é revelador do descrédito que mereceram as propostas de centralização por parte do então candidato Pedro Proença.

— Pedro Proença foi um erro de `casting’?

— Não serei eu a dizer tal coisa. Mas creio que com Luís Duque a Liga viveria hoje uma outra situação. Seguramente melhor. Creio que muitos dos compromissos que serviram de base à eleição de Pedro Proença já não são atingíveis, e quando isso acontece é natural que o presidente da Liga equacione a sua continuidade.

— Defende a saída de Pedro Proença?

— Defendo que essa é uma hipótese que Pedro Proença devia considerar em função do que tem sido a sua liderança na Liga, dos resultados que não conseguiu alcançar e das diversas manifestações dos clubes que ele tão bem conhece, nomeadamente, mas não só, os clubes da Liga de Honra.

— Mas o Benfica era a favor da centralização…

— O Benfica era a favor de uma negociação centralizada, mas para que esse processo pudesse avançar era necessário que os clubes se entendessem sobre essa matéria, era necessário que a Liga (esta Liga) tivesse assumido o dossier como prioritário. Não aconteceu nem uma coisa nem outra. Por outro lado, numa negociação centralizada, é necessário que os clubes disponham dos seus direitos. Só o Benfica tinha liberdade para avançar antes de 2018.

Concorda com um imposto `revolucionário’, de que se tem falado, sobre os direitos do Benfica e dos outros contratos dos ‘grandes’ para ajudar os mais pequenos?

— Os clubes da Segunda Liga precisam que quem lhes prometeu 500 mil euros de apoio (por clube) mostre os patrocínios que captou ou pensa captar para os ajudar. O Benfica está, como sempre esteve, disponível para ajudar o futebol português, nomeadamente os clubes de menor dimensão. Esperamos que os outros clubes, nomeadamente os chamados grandes também o façam. É que se falamos em compromisso com o futebol português, convém recordar que o Benfica foi o único clube a perder receitas para ajudar a Liga, foi o único clube a ajudar financeiramente a Liga para que o futebol não parasse em Portugal, e, em conjunto com o Rio Ave, é o único clube que é credor da Liga…

— Os clubes conseguem ver para além do benefício imediato e do pequeno favor?

— Os clubes devem ver em função dos projetos que lhes são apresentados. Gostava de voltar a ver todos os clubes a pensar e a agir em benefício do futebol português, isso perdeu-se nos últimos tempos e todos nós fomos prejudicados com isso, principalmente os clubes mais pequenos. Devemos focar-nos no essencial e infelizmente há muitos que só pensam em função de colocar pessoas no sítio A ou B. Isso tem de acabar. Nas últimas eleições isso foi notório.

— As equipas B são um sucesso mas a II Liga é um elefante branco económico. Por este caminho podemos concluir que tem os dias contados, neste formato?

— Só tem os dias contados se o presidente da Liga não encontrar a solução prometida.

Foi muito critico em relação a arbitragem depois do jogo com o Rio Ave….

— Era difícil não ser depois de ficarem três penalties por marcar. Distanciei-me de muitas afirmações que foram feitas durante estes meses, evitei sempre vir a público falar de arbitragem, mas é evidente que depois de assistir ao que assisti nesse jogo era difícil manter a serenidade. Não digo que os erros sejam propositados, não digo que haja intenção, mas há limites. E é evidente que os erros tem uma relação direta com a campanha de coação a que os árbitros têm sido sujeitos. Espero que esse clima desapareça e que os árbitros possam ter a tranquilidade que lhes tem faltado.

— O Benfica tem sido o mais prejudicado?

— Não tenho dúvidas e vocês podem fazer essa contabilidade com alguma facilidade. Entre golos mal anulados e penalties por assinalar, erros com influência direta nos resultados, temos sido os mais prejudicados. Mas, repito, não quero entrar por aí, temos de preocupar-nos em melhorar o que é da nossa responsabilidade. Quanto aos árbitros apenas queremos que façam bem o seu trabalho.

Muito se tem falado e há versões divergentes todos os dias na opinião pública. Afinal qual é o ativo e o passivo consolidado da Benfica SAD?

— De acordo com as últimas contas apresentadas na CMVM referentes ao 1.° trimestre, o valor do ativo é de 445,6 milhões de euros e o passivo é de 432,2 milhões de euros. O ca-pital próprio ascende a 13,4 milhões de euros, continuando a sua tendência de recuperação sustentada iniciada nos últimos exercícios.

— Como se decompõe o passivo consolidado da Benfica, SAD?

— A dívida bancária ascende a 309,6 milhões de euros, sendo o passivo exigível de 80,3 milhões de euros e o passivo não exigível de 42,3 milhões de euros.

— Quais são os encargos bancários do passivo consolidado da Benfica, SAD?

— Considerando a estrutura e maturidade da nossa dívida bancária, os encargos financeiros líquidos ascendem a aproximadamente 17 milhões de euros, mas perspetivamos uma redução significativa deste valor nos próximos exercícios.

— Quanto vai ser gasto, da verba da NOS, na redução do passivo?

— Vou responder-lhe de outra forma: à medida que se forem vencendo as responsabilidades que o Benfica tem com o sistema financeiro, vamos liquidá-las.

— Essa é uma decisão realmente irrevogável?

— Já o disse em diversas ocasiões, o grosso deste contrato será para libertar o Benfica do seu passivo. Há muitos anos que ouço muita gente a falar do passivo do Benfica, que era insustentável, que era ingerível. Há dois anos que o Benfica não vai à banca buscar um tostão, há dois anos que vivemos das nossas receitas e ainda assim conseguimos amortizar passivo. Nunca atiramos responsabilidades para cinco ou dez anos à frente, nunca beneficiamos de uma taxa de juro de zero por cento, nunca incumprimos com nenhuma das nossas obrigações.

— Mas ao fazer essa referência, está a visar o Sporting?

— As notícias que foram publicadas recentemente e que dão conta de um novo acordo entre o Sporting e a banca deixam-nos apreensivos. Mas é um assunto que não deve ser tratado na comunicação social.

— Acha que o Sporting está a beneficiar de condições que o Benfica não tem?

— Percebo a pergunta, mas repito são assuntos que não devem ser tratados na comunicação social.

— Sugeriu que a expansão da marca Benfica. Pode esclarecer os benfiquistas o que está a ser feito nesse sentido?

— Noventa por cento das nossas propostas comerciais, quer seja a nível de marca quer a nível de patrocínios ou de abertura de academias são feitas para o estrangeiro. Mas não gosto de dizer que vai acontecer isto ou aquilo, gosto de anunciar quando há algo concreto para anunciar. Há uma garantia que tenho, estamos a trabalhar em várias frentes no sentido de manter o crescimento do Benfica enquanto bandeira de referência no estrangeiro e o melhor que podemos fazer para expandir a marca é fazer bem o nosso trabalho. Receber, no Dubai, o prémio de melhor academia do mundo é expandir a marca, ser referenciado a nível internacional por ter o simulador mais avançado do mundo é expandir a marca. É por aí que temos de ir.

— Falou do prémio dos Globe Soccer Awards que distinguiu o Caixa Futebol Campus como a melhor academia do mundo. É um prémio que reconhece a aposta feita no Seixal?

— Sem dúvida, mas acima de tudo é um prémio que distingue tudo aquilo que tenho ouvido fora de Portugal em relação à formação do Benfica, não apenas em relação ao talento dos nossos jovens, mas em relação as condições de trabalho, à qualidade dos nossos treinadores, aos métodos inovadores que temos implementado. O prémio é evidente que é algo que me enche de orgulho, mas os testemunhos de responsáveis internacionais, com peso no futebol mundial, que tenho ouvido durante o último ano, representam igualmente um prémio em relação a aposta que temos feito.

— Merece-lhe algum comentário a ironia do presidente do Sporting que disse em relação a este prémio, que os benfiquistas eram bons a teclar e a telefonar?

— Nenhum comentário. Quando entramos em estado de negação é algo preocupante, mas não é um problema nosso. O que eu posso dizer é que o Benfica é bom a cumprir rigorosamente os seus compromissos. Há quem não possa dizer o mesmo!

— Qual será o próximo grande negócio?

— Não gosto de por as coisas dessa forma. Para nós, todas as parcerias são ‘grandes’ se elas resultarem em proveito para todas as partes. Não é apenas o volume de negócio que interessa, interessa sim é que todos os parceiros que trabalham connosco tirem dividendos dessa parceria, porque só dessa forma vamos poder atrair novos parceiros. O último contrato assinado, como foi público, foi com a Repsol.

— `Naming’ do estádio?

— Ao contrário do que se chegou a noticiar não há nada fechado. Talvez seja o projeto ou o patrocínio mais difícil do ponto de vista de venda, porque é um valor elevado e não tem a facilidade de retorno que tem por exemplo quem investe nas camisolas. Continuamos com propostas ativas e acreditamos que a médio prazo podemos fechar este processo.

— Quanto vale o nome do Estádio da Luz por ano?

— Pode valer o mesmo que o patrocínio das nossas camisolas.

— Juntou dirigentes que serviram o Benfica ao longo dos últimos 30 anos. Que mensagem pretendeu fazer passar?

— Uma mensagem de unidade. Acho que todos os dirigentes que por aqui passaram deram o seu melhor, independentemente das decisões que assumiram e das consequências que algumas delas tiveram para o clube. A história do Benfica não se fez na censura ou na denúncia daqueles que serviram o Benfica. A história do Benfica fez-se na união e essa foi a mensagem que quis deixar. Todos fomos importantes, todos somos necessários. O resultado está hoje à vista, um clube forte, reconhecido internacionalmente, inovador e unido em torno dos seus principais objetivos.

— No Sporting, a atual direção pôs processos judiciais contra ex-presidentes. Esse jantar foi um recado para Alvaiade?

— Nada disso, cada um assume as suas responsabilidades e a forma como entende que deve liderar. Aqui agimos em função das nossas convicções, não para mandar recados à direita ou à esquerda, e foi isso que fiz. Todos erramos, porque como já tive oportunidade de dizer só não erra quem não decide.

— Já decidiu se vai recandidatar-se às eleições de outubro de 2016?

— A seu tempo tomarei a decisão. Há, nesta altura, muitas outras preocupações. Falta praticamente um ano, chegará o momento de falarmos sobre isso, para já é muito cedo.

— Partindo do princípio que o passivo fica saneado com o dinheiro da NOS, o que fica por fazer?

— Há sempre novas coisas para fazer. No Benfica o trabalho nunca se completa. Se fizerem uma viagem no tempo e conseguirem visualizar o que era o clube em 2000 e tudo o que foi feito durante estes 15 anos, vão perceber não apenas a mudança gigantesca que o Benfica sofreu, mas vão perceber que por cada objetivo alcançado, lançávamos imediatamente novos objetivos para o futuro. Isso vai continuar a acontecer. Mas há uma coisa que posso garantir: o trabalho que já fizemos é uma certeza e uma evidência de consolidação a todos os níveis.

— O Benfica precisa de se focar, num futuro próximo, essencialmente na política desportiva?

— E vai fazê-lo, mas vai fazê-lo dentro da lógica proposta este ano, apostar no Seixal como centro gerador de valor para o Benfica. E apostar no Seixal não significa ser menos ambicioso, significa apenas que podemos chegar aos mesmos objetivos por meios diferentes.

— Em 15 anos de Benfica o que mudou na sua vida? — Mudou muita coisa, isso é uma evidência, mas não me queixo. Foi isto que decidi fazer e faço-o com gosto e com paixão. Nos primeiros anos havia muita ansiedade, muita incerteza e poucos ou nenhuns recursos. Felizmente, o cenário mudou, mas mudou porque fizemos o nosso trabalho e fizemo-lo bem!

— Ao fim destes anos todos, vê-se fora da pele de presidente do Benfica ou esse cenário parece-lhe estranho?

— Vejo esse cenário com naturalidade. Vejo-me a brincar com os meus netos. Sinto que continuo ater condições e projetos para fazer continuar a crescer o clube, quando isso não acontecer serei o primeiro a dizer que é tempo de parar.

— Que balanço faz do ano de 2015 para o Benfica?

— Só posso fazer um balanço muito positivo, não apenas pelo bicampeonato, mas por todas as outras conquistas no futebol, nas modalidades, na formação, pelo reconhecimento internacional de que cada vez mais o Benfica é alvo, pelo crescimento visível dos jovens do Caixa Futebol Campus, sem esquecer a valorização recorde dos nossos direitos televisivos.

— Que mensagem deixaria aos benfiquistas para 2016?

— Uma mensagem de otimismo. Basta pensar qual foi o nosso ponto de partida e onde nos encontramos hoje. Ninguém constrói nada sozinho, muito menos num clube com a dimensão do Benfica. Se conseguimos chegar aqui foi porque houve união entre os benfiquistas, foi porque todos nos ajudaram a chegar aqui. Continuem a ser como são. Exigentes, evidentemente, mas também pacientes e sempre presentes quando em algum momento as coisas não estiverem a sair bem. Todos têm de perceber que os primeiros que desejam que as coisas corram bem são os jogadores em campo. É essa mensagem que quero deixar, uma mensagem de otimismo, exigência e de união entre todos.

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