A comunicação social quis ver neste conteúdo de entretenimento um caso polémico
Rezam as más-línguas que foi exibido no Porto Canal um programa de entretenimento estrelado pelo presidente do FC Porto – atenção que “estrelado” é um brasileirismo que se aplica a protagonistas de conteúdos audiovisuais… um filme estrelado por Marlon Brando… um filme estrelado por Al Pacino… um filme estrelado por Robert De Niro… isto no Brasil, porque em Portugal “estrelado” aplica-se principalmente a ovos e ao seu modo de confeção mais simples, uma frigideira, o azeite que se quiser, parte-se a casca do ovo, verte-se a clara e a gema para a sertã ao lume e o azeite a ferver trata de estrelar o ovo num instantinho – …mas onde é que íamos? Ah, perdoem a divagação culinária, íamos no tal programa estrelado pelo presidente do FC Porto que terá passado ontem à noite na televisão e que foi gravado em cenários naturais no Estádio da Luz que foi oferecido como cozinha – o Benfica ofereceu tudo, a cozinha, a frigideira e os ovos, só não ofereceu o azeite, graças a Deus – à produção externa de conteúdos do Porto Canal.
A comunicação social, sempre maldosa, quis ver neste conteúdo de entretenimento um caso polémico capaz de acirrar ainda mais os ânimos dos adeptos e associados do Benfica que já andam entre si tão acirrados por motivos sobejamente divulgados pela dita comunicação social. O presidente do FC Porto, aliás, já tinha estrelado na véspera na mesma antena e no mesmo espaço de entretenimento as suas considerações sobre o que é e o que não é “polémico” no futebol português. Na opinião do presidente do FC Porto, por exemplo, aquele episódio em que a Justiça condenou Hulk, Sapunaru & companhia por agressões e desacatos no túnel do Estádio da Luz não foi polémico. Foi “a maior vergonha do futebol português” porque para ser polémico tinha de ter acontecido e a seu ver, não aconteceu e para não ser a maior vergonha do futebol português que, a seu ver, é, tinha de ter merecido da Justiça um tratamento diferente do que recebeu.
Deve haver, com certeza, responsáveis do Benfica que concordam inteiramente com o presidente do FC Porto porque, de outro modo, não se compreende a razão por que lhe ofereceram o Estádio da Luz para que pudesse estrelar à vontade no Porto Canal. E, se calhar, há também adeptos do Benfica que pensam exatamente da mesma maneira. É verdade que não conheço nenhum. Mas, sendo o pensamento livre, por que não considerar que há no Benfica gente para quem o presidente do FC Porto é uma referência ética, o modelo a seguir, o estandarte do fair-play e do jogo limpo, o grande João das Regras da indústria do futebol, o GPS infalível da indústria automóvel, o conselheiro matrimonial de eleição, enfim, tudo?
Outros benfiquistas, porém, menos modernizados, porventura uma minoria, entendem precisamente o contrário. Entendem que para uma coisa destas é que não há mesmo presunção de inocência. Um dia ser-lhes-á dada a palavra. Foi essa a promessa de Rui Costa feita no relvado do Estádio da Luz há 15 dias. E que 15 dias.