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‘ainda não perdemos’… O que é isto?”

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As exibições do Benfica na presente temporada estão a desiludir Carlos Manuel, antiga glória encarnada que viaja pelos tempos áureos do clube da Luz, onde frases como “ainda não perdemos” não constavam nas análises, já que vencer era o verbo que se impunha no balneário.

“Devemos aprender com a história. Não a devemos renegar, nem esquecer. Devemos ter uma relação aberta, não hostil. Não esquecer a história, mas melhorar a história. Temos de recordar gente que deu muito ao Benfica”, disse o treinador, na Sport TV, onde comentou o jogo entre Farense e Benfica, que terminou empatado.

“Somos obrigados a olhar para os anos 50, 60. Essa gente fez o Benfica. Ainda temos a oportunidade de ver, ao vivo, essa gente dos anos 60. Temos de aprender com a história. Toda a gente fala na ‘mística’ como raça, crença. Para mim, é o que diz no dicionário: ‘atitude coletiva afetivamente assente na devoção’. E isso foi o que eu senti no primeiro dia em que cheguei ao Benfica. Eram senhores dentro do futebol, Toni, Humberto, Pietra, Bento, Eusébio, Nené, Shéu…”, enumera, lamentando o espírito que se perdeu, onde a exigência da vitória era permanente.

“Falavam do grupo do Barreiro. Eram um grupo fantástico. Bento levanta-se às quatro da manhã para ir comprar peixe ao sogro. Às oito da manhã estava à nossa espera, com oito ou nove, ali escondidos na carrinha. Aqueles homens do Benfica queriam era jogar, treinar e ganhar. E ganhar! Se estivéssemos três, quatro jogos sem ganhar e a empatar e disséssemos ‘ainda não perdemos’… O que é isto?”, realçou Carlos Manuel.

As palavras foram proferidas ainda antes da flash-interview de Jorge Jesus, onde o técnico viria a apresentar, precisamente, este argumento. “Fora de casa torna-se mais difícil. Também é verdade que o Benfica não perde”, disse Jorge Jesus, poucos minutos após o empate com o Farense, confrontado com o facto de a equipa não ganhar fora desde dezembro.

Carlos Manuel não compreende este discurso e lembra a cultura de exigência, aparentemente perdida, também nas palavras. “No Estádio da Luz, normalmente cheio, o Bento com a bola, entregava-a ao Humberto Coelho, este passava ao Shéu, que passava a linha do meio-campo. Ai de nós se passássemos a bola para o meio-campo defensivo! Os adeptos obrigavam-nos, responsabilizavam-nos a jogar para a frente. E isto é ensinado. Não há brincadeira”, recorda.

Para o antigo futebolista, “não se pode esconder o factual”. Já numa análise ao jogo com o Farense, nota que “o Benfica teve mais bola, criou mais oportunidades”, mas não basta. “Cinco jogos fora sem conseguir ganhar? Ninguém pode estar contente. Os adeptos olham para a equipa e vê-se um comportamento desgarrado. Não pode ser assim. Não há conteúdo, é tudo muito individual. Não se nota nada de coletivo, até em termos posicionais. Nota-se que a bola chega ali e há valor individual do jogador, mas… é conforme o Rafa esteja”, lamenta.

Também Luís Filipe Vieira é alvo de críticas, por ter alterado repentinamente um projeto que estava a dar frutos, desportivos e financeiros. “O Benfica gastou muito dinheiro. Sabemos disso. E o presidente não gastou dinheiro por gastar. Deu ao treinador aquilo que ele pediu. O Benfica tinha um projeto interessante na formação e mudou. O Benfica deve estar grato a Luís Filipe Vieira pelo que ele fez, mas houve uma mudança radical e abdicou do projeto. Nós temos o Gonçalo Ramos. Não joga há quanto tempo? Tem de jogar. O Benfica tem de formar, tem de ter três, quatro jogadores da formação. É obrigatório. Os miúdos têm de jogar e se não jogam na equipa principal que ganhem minutos na equipa B”, aponta.

“Luís Filipe Vieira deveria falar do que fez de errado: a mudança radical num projeto importantíssimo, que deu resultados desportivos e financeiros. Abdicou disso tudo para ganhar na Europa. E isso não se consegue de um dia para o outro”, acrescenta.

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