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Luís Mendes: “Sem venda de atletas, atingimos o maior valor de sempre”

A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD apresentou um resultado positivo de 4,2 milhões de euros no exercício de 2022/23, iniciado a 1 de julho de 2022 e concluído a 30 de junho do presente ano. Foi assim retomada a sequência positiva iniciada em 2013/14.

 

Divulgado o Relatório e Contas à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Luís Mendes, vice-presidente do SL Benfica e administrador da SAD, destacou o resultado positivo, que inverteu a tendência negativa dos dois anos anteriores. A reposição e “robustez” dos capitais próprios, cifrados em 113 milhões de euros, e o valor recorde de 195,8 milhões de euros de rendimentos operacionais sem venda de atletas foram enaltecidos em entrevista à BTV.

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A Benfica SAD regressa aos resultados positivos. Quais são os pilares para este resultado?

Fundamentalmente, quero destacar o equilíbrio entre a parte económica e a parte desportiva. Houve uma simbiose perfeita. Conseguimos resultados desportivos e económicos. Destaco o resultado positivo de 4,2 milhões de euros. Invertemos uma tendência de dois anos consecutivos de prejuízos, o que nos levou a repor um pouco o nível dos capitais próprios, o qual está em 113 milhões de euros, um valor muito próximo do capital social, o que é de enaltecer. Demonstra a robustez dos nossos capitais próprios. Quero destacar que, sem venda de atletas, atingimos o maior valor de sempre, cerca de 195 milhões de euros, um valor recorde. Batemos recordes em toda a parte de merchandising, comercial, de receitas e patrocínios, em todas as linhas de proveitos da Benfica SAD. Para isso, como é evidente, muito contribuiu o apoio da massa Benfiquista, de todos os adeptos do Benfica, a quem endereço os meus agradecimentos, porque contribuíram grandemente para estes resultados. Em suma, do ponto de vista económico, é um ano muito bom, e do ponto de vista desportivo, também. Culminou com a conquista do título e com o atingimento dos quartos de final da Champions, que foi muito importante.

Num olhar pelos números, salta à vista a venda de Enzo. Com este valor, seria de esperar um resultado líquido ainda mais positivo?

A venda de Enzo Fernández foi um excelente negócio. Era um negócio que inicialmente nem queríamos fazê-lo, porque queríamos privilegiar a parte desportiva, em detrimento da parte económica, mas não nos podemos abstrair da excelente venda. Um jogador que chega em julho por 75% dos direitos económicos, vale 18 milhões de euros, e passados seis meses é vendido por 121 milhões de euros, é sempre um excelente negócio. Por outro lado, temos de estabelecer sempre um paralelo entre uma venda de um jogador oriundo da formação e uma venda de um jogador adquirido anteriormente a outro clube. Posso dar o exemplo do Gonçalo Ramos. Neste momento está emprestado, mas temos uma cláusula que nos permite a venda do Gonçalo Ramos. Estamos a falar de um valor que pode chegar aos 80 milhões de euros, e, esses 80 milhões de euros, praticamente, vão ser todos considerados como proveito. Logo, apesar de o valor ser inferior ao do Enzo, vai contribuir muito mais para os resultados por ser um jogador da formação.

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Luís Mendes entrevistado na BTV

SAD: resultados do exercício 2022/23

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Pode esclarecer-nos em relação ao volume de vendas, face ao que foi investido em compras?

O Benfica tem, entre vendas e compras, um diferencial de 64 milhões de euros. Ainda assim, este diferencial permitiu-nos ter um plantel mais competitivo, apostar mais nas vitórias, ter condições desportivas muito melhores, porque, face a plantéis anteriores, equilibrámos os custos, de modo que esta diferença permite, em termos desportivos, ter mais condições para alcançar vitórias.

Como é que a SAD do Benfica irá diminuir a necessidade de venda de jogadores?

É sempre necessário vender jogadores para equilibrar os plantéis, para criar condições económicas para ser mais competitivo em termos internacionais. Não podemos abstrair-nos desse facto. Quero destacar que temos sempre a obrigatoriedade de apostar na qualidade dos plantéis, levando em linha de conta determinadas economias de custos, de modo que se possa libertar valores para tornar as equipas mais competitivas. Tenho um entendimento de que, se houver sucesso desportivo, isso induz ao sucesso económico e podemos fazer um círculo perfeito, porque, a um ciclo de sucesso desportivo, sucedem sempre, como verificámos neste ano, incrementos de proveitos, de vendas. Com incremento de vendas, há sempre aumento de resultados, e havendo aumento de resultados, naturalmente, há sempre capacidade de investimento. Com essa capacidade, entramos no ciclo perfeito.

Falou em custos associados à área não desportiva. Estamos a falar do fornecimento e serviços externos?

Se mexermos nos fornecimentos e serviços externos ligados a áreas não desportivas, mais uma vez conseguimos libertar meios financeiros para poder investir na área desportiva. Se analisarmos em termos evolutivos os fornecimentos e serviços externos que cresceram no Benfica, estes estão justificados pelo aumento da inflação e pelas obras que fizemos no Estádio, obras que se refletem na SAD por via dos fornecimentos e serviços externos. O crescimento na ordem dos 20 milhões de euros do ano passado para este ano justifica-se por este facto. Se verificarmos a evolução no período pré-Covid para o período atual, esta justifica-se pela inflação e pelas obras feitas no Estádio.

Luís Mendes

Que caminho pode o Benfica seguir para a diminuição de custos?

O Benfica tem de olhar para os custos relacionados com a área não desportiva, como já referi. Se fizermos um pequeno exercício, e um corte na ordem dos 15% nos fornecimentos e serviços externos, vamos alcançar resultados operacionais positivos antes da venda de atletas. É esse o objetivo. Alcançando os resultados operacionais positivos antes da venda de atletas, não ficamos tão dependentes da venda dos mesmos. Conseguimos reter mais talento dentro de casa, ter equipas mais competitivas, que é isso que se pretende. Por outro lado, com o alcance destes resultados operacionais positivos, temos uma geração de cash muito superior, e que é extremamente importante.

Que razões explicam o resultado financeiro negativo na ordem dos 12 milhões de euros?

Olhando de forma isolada, o resultado financeiro negativo não me preocupa, porque é transversal à indústria do futebol. Qualquer um dos nossos competidores apresenta sempre resultados negativos. Os custos financeiros aí reconhecidos são custos relacionados com os financiamentos dos empréstimos obrigacionistas, que têm taxas extremamente interessantes para nós. O Benfica paga as taxas mais baixas do mercado em matéria de empréstimos obrigacionistas. Tem também uma relação de parceria com a banca nacional e estrangeira perfeitamente estabilizada. Por via do rating atribuído ao Benfica, consegue obter crédito em Portugal e fora de Portugal, em condições perfeitamente normais. Recentemente, a Autoridade da Concorrência multou transversalmente os clubes portugueses, e o Benfica foi o único clube que se apresentou para prestar caução com uma garantia bancária. É sintomático do que é a solidez das contas do Benfica e, por outro lado, o reconhecimento da banca nacional, que permite apresentar-se nestas condições.

Relativamente aos direitos televisivos como irá o Benfica salvaguardar os seus interesses?

Quero deixar muito claro que o Benfica tem sempre o entendimento de que é parte da solução e nunca parte do problema. Por princípio, somos favoráveis à negociação centralizada dos direitos de transmissão. O que temos de perceber muito bem é o que a Liga está a fazer no sentido de capacitar os nossos concorrentes, os clubes da chamada classe baixa e da classe média, para que haja progressão social. O que verificamos ao longo dos jogos disputados fora de casa é que os estádios não apresentam condições condignas para receber os adeptos, na esmagadora maioria não têm boas acessibilidades. Muitas vezes os relvados não estão em condições, e tudo isto não contribui para entregar um produto verdadeiramente atrativo, suscetível de ser adquirido noutros mercados, além do português. Em simultâneo, preciso de compreender melhor a forma como se chega aos 325 milhões de euros, o limite entre 275 milhões de euros e os 325 milhões apresentado no estudo da Liga. Ainda que estejamos dentro do prazo, existe a matriz de distribuição, que terá de ser representativa da dimensão social do Benfica, de forma a que o Benfica não saia prejudicado da negociação centralizada. Ter redução de verbas nesta matéria implicará perda de competitividade em termos internacionais. Quando estamos habituados a chegar a fases da Champions como os quartos de final, estamos a disputar jogos com clubes com orçamentos muito superiores aos nossos. Não podemos admitir que os nossos orçamentos sejam reduzidos por via da redução de receitas dos direitos de transmissão.

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