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Entrevista de Pedro Guerra

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Antigo arquivista do jornal “O Independente” e assessor de Paulo Portas, Pedro Guerra tornou-se conhecido do grande público através de programas de comentário desportivo, primeiro na Benfica TV e depois na CMTV. Actualmente faz parte do painel do “Prolongamento” na TVI, onde protagonizou uma célebre polémica com Bruno de Carvalho, presidente do Sporting. No mesmo programa, as picardias de Guerra com Eduardo Barroso levaram à saída do cirurgião dos estúdios em directo. Na altura, Barroso disse ao i: “Pedro Guerra prejudicou a minha vida” – uma afirmação que Guerra considera “patética”. O_comentador do Benfica notabiliza-se por se fazer acompanhar sempre de dossiês com documentos e recortes – “o corpo é que paga”, comenta –, mas sobretudo pelo estilo contundente, que muitos benfiquistas não apreciam. Pedro Guerra optou por responder por escrito. O_que se segue é o resultado de uma intensa troca de emails e SMS.

Onde viu o último Benfica-Sporting?

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No camarote presidencial.

O que achou do jogo?

Achei que o Sporting foi mais forte e mereceu vencer. Apesar de ter lutado sempre, era um dia não para o Benfica e quando isso acontece nenhum treinador, por mais diplomado ou talentoso que seja, pode fazer milagres. Mantenho uma dúvida – se o árbitro tem assinalado a grande penalidade cometida por Bryan Ruiz sobre Luisão, aos 7 minutos, provavelmente o resultado teria sido outro. Voltámos a ser prejudicados pela arbitragem. Foi assim com o Arouca, em Aveiro, com o Galatasaray e agora com o Sporting. Acontece às melhores equipas.

Acha que Rui Vitória está seguro no comando técnico do Benfica ou já não tem muito mais margem para falhar?

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Acho que está seguríssimo e creio que irá ficar no clube muitos e longos anos. Rui Vitória não é apenas um treinador de futebol, é muito mais do que isso. Sei que ele quer perceber e participar no modelo de sustentação do SL Benfica. Foi essa a principal razão da sua contratação pela SAD. O presente e o futuro do clube estão bem entregues. Como se costuma dizer, é o homem certo no lugar certo e na altura certa. Além disso, ele sente o clube e isso é fundamental. A melhor prova disso mesmo é o seu desígnio europeu, apostando na formação. Rui Vitória sabe que o clube só manterá a sua grandeza se tiver dimensão europeia.

Concorda com o processo que o Benfica intentou contra Jorge Jesus? Não acha que dá demasiada importância ao antigo treinador, e de certo modo desvaloriza Rui Vitória?

Concordo em absoluto, pois acredito que irá ficar provado em tribunal que o anterior treinador prestou actividade incompatível com a sua actividade a favor de um directo concorrente e, mais grave, violou a exclusividade a que estava obrigado. Quando alguém rescinde, unilateralmente e sem justa causa, um contrato, deve arcar com as consequências desse seu acto. Isto para não falar nos meios técnicos, materiais e no software do Benfica que levou para o Sporting. Confio na competência do Dr. João Correia, um dos melhores advogados portugueses.

Acha bem que os benfiquistas ataquem Jesus e o insultem? Só por mudar de clube deixou de ser um bom treinador?

Os benfiquistas não atacam Jesus. Apenas criticam o seu comportamento, que foi de uma enorme ingratidão. Ele nunca tinha ganho nada, era um treinador mediano, e o Benfica deu-lhe tudo! O facto de ter mudado de clube não faz dele um melhor ou pior treinador. O problema com Jesus é sempre o mesmo – os métodos que usa. Não pode valer tudo para singrar na vida.

E não pode ser considerado ingratidão o comportamento daqueles que, depois de Jesus ter ganho três campeonatos pelo Benfica e de ter levado o clube a duas finais europeias, vêm agora dizer que ele afinal não é assim tão bom?

Não creio que algum adepto benfiquista possa ser acusado de ingratidão, pois ele sempre teve o apoio dos sócios e dos adeptos do Benfica. Não está em causa o seu valor como treinador de campo. Mas ele sabe que não ganhou sozinho e por vezes reconheceu-o. Infelizmente, parece ter-se esquecido disso. Acho mesmo que os adeptos foram muito tolerantes com ele.

Recorda-se do primeiro jogo de futebol a que assistiu no estádio? Qual foi? Com quem foi? Que idade tinha?

Recordo, claro! Fui sozinho e assisti ao Benfica vs. Boavista, na época 1982/83. O Benfica ganhou por 3-0 e Nené, que muito admiro, marcou dois golos. Foi o Benfica de Eriksson, um treinador mítico do clube.

Qual a origem da sua paixão pelo Benfica? Foi-lhe transmitida no meio familiar?

A origem foi a de milhares de benfiquistas – os golos de Eusébio, para mim o maior jogador de futebol de sempre. Apesar de ser filho de um sportinguista, que nunca me quis impor nada do ponto de vista clubístico, um primo meu também teve influência na minha escolha.

Qual o pior jogo da sua vida?

Claramente a derrota por 5-0, no Dragão, frente ao FC Porto, na época 2010/11. Recordo ainda uma derrota, na mesma época, por 3-0, em Telavive, com o poderoso Hapoel! O homem do leme era Jesus. Como vê… há pessoas que têm a memória curta.

A derrota com o Celta de Vigo por 7-0 não foi mais humilhante que a do Dragão? Não diz que esse foi o pior jogo da sua vida por o grande responsável por essa derrota ser Jesus?

Reconheço que foi ainda pior, mas na época 1999/00 o Benfica tinha uma equipa bem mais frágil e era liderado por alguém que só prejudicou o clube. Apesar de termos Nuno Gomes, João Vieira Pinto e Poborsky, jogadores de classe mundial, não é comparável com o plantel que a SAD do Benfica deu a Jesus em 2010/11, em que pontificavam os campeões nacionais em título, como Pablo Aimar, Saviola, Luisão, David Luiz, Maxi Pereira, Javi García, Fábio Coentrão e Cardozo. E esta grande equipa foi reforçada com dois jogadores de topo mundial – Salvio e Gaitán.

Estava no Dragão na noite dessa derrota? Costuma ir aos estádios dos rivais?

Não estava. Costumo ir aos estádios dos clubes adversários, à excepção de Alvalade e do Dragão, por motivos óbvios.

Quando jogava futebol, jogava a que posição?

Defesa central e trinco.

Quais as suas características como jogador? Também era combativo?

Era muito combativo, mas sempre leal a jogar. Aprendi muito nesses anos. Sobretudo o espírito de equipa, que se revela em amizade, cooperação, justiça e entreajuda. Isto para não falar no respeito pelos adversários.

Tem amigos e familiares sportinguistas? Discutem muito? Não se zangam por causa do futebol?

Claro que tenho bons amigos e familiares sportinguistas. Discutimos o habitual e as zangas são facilmente superadas… até porque o Benfica vence quase sempre e em todas as modalidades.

Como surgiu o convite para a BenficaTV, e posteriormente para a CMTV?

Para a BTV foi um desafio lançado pelo presidente Luís Filipe Vieira. Para a CMTV, creio que foi natural após assistirem às minhas prestações na BTV.

Quando Vieira o convidou já se conheciam? De onde?

Já. Conhecíamo-nos desde 2001, quando Luís Filipe Vieira era o homem responsável pelo futebol do Benfica. Foi-me apresentado por um amigo comum, o advogado António Pragal Colaço. Na altura o presidente era Manuel Vilarinho, um homem que admiro muito, a quem trato sempre por presidente e que ficará na história do clube por ter salvo a instituição no seu período mais negro.

As pessoas reconhecem-no na rua? Vêm falar consigo?

As pessoas dirigem-se a mim e são normalmente afáveis e simpáticas. Os benfiquistas dizem-me que continue a defender o clube e alguns pedem-me que seja ainda mais duro. Já houve sportinguistas e portistas a pedirem-me que não critique tanto os seus clubes.

Gosta deste tipo de exposição pública? E a sua família, não se queixa?

Não tem a ver com gostar ou não. São os chamados ossos do ofício. A família sabe relativizar o assunto.

Alguma vez foi ameaçado por um transeunte? Já viveu alguma situação mais difícil?

Ameaçado não! Já ouvi umas bocas… o habitual “ó lampião… isto e aquilo!”, etc., etc., etc.

“Isto e aquilo” é o quê concretamente? Palavras que não se podem reproduzir?

Não chego a perceber, mas calculo que não sejam convites para tomar um café!

Vai ao Porto sem problemas? Rui Gomes da Silva foi agredido…

Tenho família no Porto e sei que as pessoas do Porto são frontais, mas simpáticas e muito acolhedoras. Os portuenses sabem distinguir as coisas.

Recebe chamadas anónimas, emails de adeptos de outros clubes? O que lhe chamam? Quais os insultos mais frequentes?

Chamadas anónimas não recebo. Alguns mails chegam-me, via BTV, com considerações desagradáveis, mas valem o que valem. A paixão clubística leva algumas pessoas a cometerem excessos.

Pode dar um exemplo dessas “considerações desagradáveis”, desses “excessos”?

Normalmente consideram que sou injusto nas críticas e recordam lances em que o Benfica terá sido beneficiado pela arbitragem. Dá-me sempre vontade de responder que o Benfica tem sido o clube mais prejudicado no campeonato dos erros de arbitragem. Mas tenho de respeitar a opinião dos outros. Felizmente, a maior parte dos emails são de incentivo e com sugestões que se revelaram muito válidas e pertinentes e que usei em alguns debates.

Há muita gente que não aprecia o seu estilo e não gosta de si. Mesmo benfiquistas, que manifestam a sua discordância nas redes sociais, por exemplo. Na sua opinião, a que se deve isso? Incomoda-o?

Sei disso e já aprendi a conviver com essa situação. Creio que a minha frontalidade e a forma como não tolero que ataquem o Benfica com mentiras e de forma incorrecta me levam por vezes a cometer um ou outro excesso. Admito que a minha paixão pelo maior clube português por vezes me leve a cometer alguns exageros. Mas isso é próprio das paixões.

Costuma falar com Luís Filipe Vieira?

Claro! Gostava de falar mais vezes com ele, mas a vida intensa que tem não o permite. Luís Filipe Vieira vive o clube 24 em 24 horas, prejudicando a sua actividade empresarial. Mas a maior vítima é a sua família, que ele tanto preza. Conheço a mulher e o filho de Luís Filipe Vieira. São duas pessoas adoráveis. Luís Filipe Vieira tem uma capacidade de trabalho e uma dedicação que só conheço numa outra personalidade – o Dr. Paulo Portas. Para mim, são dois visionários.

Existe algum tipo de orientação por parte da direcção do Benfica para o que deve ou não deve dizer na televisão ou diz apenas aquilo que lhe vai na alma?

Não existe nada disso! Às vezes rio-me dessas insinuações. O presidente do Benfica é o melhor presidente da história do clube – e não sou só eu que o digo, são milhares de sócios que assim pensam. Trata-se de um homem pragmático e tem uma missão, que conseguiu cumprir ao fim dos 12 anos que leva de presidência – transformar o SL Benfica na organização desportiva de maior sucesso em Portugal, tanto no futebol como nas modalidades, e tanto na perspectiva competitiva como na vertente económica. Com Luís Filipe Vieira ao leme, do ponto de vista comercial, as receitas correntes aumentaram 176% num espaço de nove anos. Do ponto de vista financeiro, o aumento das receitas correntes atingiu níveis superiores a 10 milhões de euros e as receitas totais os 150 milhões, colocando o Benfica entre os 25 maiores clubes da Europa. Na época 2013/14, o Grupo Benfica facturou mais de 200 milhões de euros. A SAD teve receitas de 140 milhões de euros e lucros de 14 milhões. E conseguiu-se algo impensável nos tempos que correm – redução de 40 milhões do passivo, ou seja, 9%. Sei que Luís Filipe Vieira e as suas equipas têm um objectivo muito claro – todos os anos baixar o passivo 10 a 15 milhões de euros. Quanto às infra-estruturas, os resultados estão à vista – um estádio com nota máxima da UEFA, dois pavilhões modernos, um museu único no mundo e uma academia de futebol de excelência, no Seixal.

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