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Historiadores garantem que o Sporting tem 18 títulos de campeão

Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, de visita ao Núcleo de Braga: “Somos 22 vezes campeões nacionais. O Sporting não passa de 18 para 22 por milagre, passa porque fomos campeões quatro vezes nos anos 30. Nunca ninguém reclamou esses títulos mas, sendo nossos, vamos parar com essa história dos 18.” Esta declaração coloca em causa os alicerces históricos do futebol português, razão pela qual o Dirário de Notícias procurou esclarecer se o Sporting tem razão na sua reclamação.

“Não há qualquer suporte científico que possa analisar essa interpretação do Sporting. Trata-se de uma necessidade de afirmação do clube, mas é uma tese sem rigor histórico”, assumiu ao DN Francisco Pinheiro, co-autor do livro “A Paixão do Povo – História do Futebol em Portugal”, também assinado por João Nuno Coelho, que integra o programa da RTP “A Grandiosa Enciclopédia do Ludopédio”. “O Sporting não tem razão. O que faz sentido é respeitar a história”, defende João Nuno Coelho.

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O Sporting diz que o campeonato nacional apenas se iniciou em 1938/39 e não em 1934/35 conforme tem sido reconhecido. E apontam como seu antecessor o extinto Campeonato de Portugal, que teve 17 edições entre 1921/22 e 1937/38, com o Sporting a vencer quatro troféus, tantos quantos o FC Porto, tendo Benfica e Belenenses conquistado três e Carcavelinhos, Marítimo e Olhanense um cada.

É partindo desse pressuposto que o Sporting defende ter 22 títulos de campeão, pois junta aos 18 estes quatro Campeonatos de Portugal. Segundo a tese do clube de Alvalade as quatro primeiras edições do campeonato, denominada de 1.ª Liga, não podem ser contabilizadas por se ter tratado de uma liga experimental… pelo que o Benfica perderia os três títulos que conquistaram nessas quatro épocas, enquanto o FC Porto perderia um. Contas leoninas feitas, o FC Porto juntaria os Campeonatos de Portugal e ficaria com 30 títulos, em vez dos 27 atuais, enquanto o Benfica ficaria na mesma, pois a subtração dos títulos da denominada 1.ª Liga seria compensada pelos Campeonatos de Portugal.

O DN foi à procura do rigor histórico e o primeiro passo a dar era consultar a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), entidade que sempre tutelou as competições oficiais do país. Contudo, após contacto telefónico e via email na tentativa de perceber o entendimento da FPF, ninguém se mostrou disponível para esclarecer a situação, através de documentos ou da lista oficial de vencedor de todas as provas que estão ou estiveram sob alçada da FPF. É bom referir ainda que no site oficial da FPF não existe qualquer registo histórico sobre os vencedores das competições por si tuteladas…

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O passo seguinte foi ouvir historiadores que escreveram sobre o futebol português e, nesse caso, a opinião foi inequívoca sobre a natureza de cada uma das competições. João Nuno Coelho lembra que “o Campeonato de Portugal era uma prova em sistema de eliminatórias, em que os participantes eram apurados pelos campeonatos regionais”, razão pela qual defende que “pode ser considerado como antecessor da Taça de Portugal” e nesse sentido admite que “eventualmente, o seu palmarés podia ser incluído no da atual Taça de Portugal”, que começa a ser disputada na época seguinte (1938/39) à extinção do Campeonato de Portugal. Francisco Pinheiro explica que não há uma sucessão direta entre as duas provas porque “a sua estrutura e espírito eram completamente diferentes”. E explica porquê: “O Campeonato de Portugal começa em 1922 com os melhores clubes dos regionais de Lisboa e Porto e depois foi-se estendendo a outras associações. Já a Taça teve o pressuposto, que ainda hoje se mantém, de incluir todas as equipas dos escalões nacionais e algumas distritais.”

Uma questão de rentabilidade

Arrumada esta questão, importa enquadrar o nascimento do campeonato nacional. A ideia nasceu depois de a seleção nacional ser derrotada por 9-0 pela Espanha no primeiro jogo de apuramento para o Mundial 1934. Era preciso dar competitividade ao futebol em Portugal e concluiu-se de que os campeonatos regionais não eram competitivos e o Campeonato de Portugal era curto para as necessidades. Decidiu-se por isso adaptar aquilo que já era feito noutros países, por exemplo em Espanha, onde se realizava um campeonato no sistema de todos contra todos, a duas voltas.

Só que existia a dúvida se esse modelo seria financeiramente rentável para os clubes, pelo que se chegou à conclusão de ir em frente com campeonato da 1.ª Liga, embora de forma experimental durante quatro para avaliar se seria compensador para os clubes, tendo em conta as viagens a fazer. E assim foi. Esta prova realizou-se entre 1934/35 e 1937/38, acabando o modelo por ser ratificado no Outono de 1938 face ao sucesso financeiro. Passou então a chamar-se Campeonato Nacional da I Divisão.

João Nuno Coelho admite a possibilidade de haver quem não considere a liga experimental por se dizer que “era um campeonato fechado, sem subidas e descidas e cujas as equipas eram apuradas nos campeonatos distritais”, mas se assim fosse “só poderiam considerar-se válidos os campeonatos a partir de 1946/47, altura em que se definiu o sistema de subidas e descidas entre divisões”. Nesse sentido, Francisco Pinheiro sublinha que “os quatro campeonatos ditos experimentais têm de ser considerados porque já tinham representatividade nacional e, inclusive, há historiadores ligados ao Sporting que sempre reconheceram esse facto”. Ou seja, tal como diz João Nuno Coelho, “a prova é a mesma e tinha o mesmo espírito” e, nesse contexto, sublinha que “é preciso respeitar o espírito da época”.

E é perante esta explicação que os historiadores contactados pelo DN assumem que, na realidade, o Sporting tem 18 títulos de campeão, o Benfica 35, o FC Porto 27, enquanto Belenenses e Boavista têm um cada. Curioso é que ao contrário do site leonino, que soma 22 títulos, o Almanaque do Leão, publicado em junho de 2015, da autoria do jornalista Rui Miguel Tovar, conta 18 campeonatos, sendo um livro aprovado e licenciado pelo Sporting – que não reagiu ao DN sobre a opinião dos dois historidaores. “Este revisionismo da história é perigoso, porque cada um faz em proveito próprio. Não é assim que se faz a história”, remata Francisco Pinheiro.

Fonte: DN

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