Leonor Pinhão: "SE A BOLA LÁ CHEGASSE"
Pela valia do adversário, o jogo de Dortmund tornou mais evidente o óbice maior deste Benfica que vai discutir, no derradeiro terço da época, os títulos que sobram – campeonato e Taça de Portugal, enfim, nada mau… – depois de ter sido despedido da Taça da Liga em Janeiro e da Liga dos Campeões na quarta-feira. A questão é que, mesmo com Fejsa operacional, o que nem sempre é o caso, o Benfica tem um problema de monta no seu meio-campo onde parece faltar sempre alguém. E, na realidade, falta.
Alguém capaz de carregar a equipa. De esticar o jogo sem tibiezas. Foi esse o papel de Renato Sanches, um médio, na segunda metade da época de 2015/2016 valendo ao Benfica uma recuperação que lhe garantiu a conquista do título interno e um percurso honroso na Europa. Era esse também o papel de Gonçalo Guedes, um avançado, na primeira metade de 2016/2017 valendo ao Benfica uma liderança folgada que, entretanto, se esboroou. Nem Sanches nem Guedes alguma vez foram goleadores natos mas eram rápidos, fortíssimos nas situações de um-para-um que desbloqueiam os emaranhados no miolo do jogo e projetam a equipa para a frente arrastando tudo e todos atrás de si.
Aparentemente, no atual quadro de jogadores do Benfica, sendo um quadro riquíssimo, não existem jogadores com o reportório bravo de Sanches & Guedes. Sem maquinistas para o comboio, o Benfica perde-se agora nas dificuldades de estender a sua presença no campo. Pior do que isso, perde frequentemente a bola nos momentos de transição ofensiva e não se vê maneira de o jogo chegar em substância aos homens da frente que até são muitos ao dispor. E bons.
Em Dortmund, o melhor que o Benfica conseguiu foi obrigar o árbitro a mostrar um cartão amarelo a Gonzalo Castro e um outro amarelo a Dembélé. Curiosamente, nenhuma destas sanções se ficou a dever a arrancadas letais dos seus alas ou a desequilíbrios fulminantes nascidos dos pés dos seus médios ofensivos. Foi André Almeida quem provocou o amarelo a Castro e foi Eliseu quem provocou o cartão amarelo a Dembélé. E ainda foi o mesmo Eliseu quem provocou um segundo amarelo a Dembélé a que o árbitro, amavelmente, se escusou. Almeida e Eliseu, imagine-se, dois jogadores a quem não se exige mais do que competência defensiva a fazer o trabalho do desequilíbrio que competiria aos companheiros mais avançados. Se a bola lá chegasse, evidentemente.