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LFV: "É o regresso aos tempos da velha rivalidade com comunicados, blogues, tempos de antena e processos em tribunal."

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Comecemos pelo negócio: a NOS comprou os direitos de transmissão dos jogos do Benfica por €400 milhões a 10 anos, €40 milhões por ano, embora só os primeiros três estejam garantidos contratualmente; a renovação para os outros sete depende da decisão de qualquer das partes, segundo uma cláusula que terá sido introduzida para contornar imposições da concorrência. Há duas coisas a reter da venda: a primeira é a ideia de que a centralização dos direitos televisivos morreu à nascença; a segunda é que isto não vai ficar por aqui, porque a MEO (Altice) também está no mercado. Para já, o Benfica seguiu o seu caminho, como diria Rui Vitória, e esse caminho passa por aproveitar o encaixe financeiro para continuar a reduzir o passivo. Em declarações ao Expresso, Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, explica o quê e o porquê deste acordo com a NOS, que em nada mudará, garante, a estratégia desportiva da Luz.

A DESCENTRALIZAÇÃO
Puxemos o filme atrás. Numa entrevista ao Expresso no início da época, o CEO do Benfica, Domingos Soares de Oliveira, garantia que o futuro passava pela centralização dos direitos televisivos — mas, pelo caminho, algo mudou. L.F.V. atribui a inversão às eleições para a presidência da Liga de Clubes, que fizeram cair Luís Duque (que o Benfica apoiava) e subir Pedro Proença (apoiado por Sporting e FC Porto). “Veio um novo tempo em que os clubes passaram a contar espingardas, e deixou de ser realista pensar na centralização dos direitos. Aliás, a centralização nunca foi uma prioridade para o presidente da Liga [Proença], que nunca assumiu qualquer compromisso sobre verbas mínimas para os clubes.” Tanto que “não foi só o Benfica que passou a encarar a centralização como um processo quase impossível”. O Benfica avançou e chegou a entendimento com a NOS esta quarta-feira, num acordo que Vieira classifica “benéfico”, indiciando aliás que deseja melhorá-lo no futuro: “A NOS vai querer maximizar o seu investimento, e nós queremos que isso aconteça, para podermos depois melhorar este contrato.”

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O acordo é benéfico para a NOS, que “estabelece uma parceria com a maior massa de adeptos de Portugal”. E é bom para o futebol e “para os restantes clubes”, por marcar “um novo referencial de valores certamente interessante para todos”. Mas, sobretudo, Vieira insiste na vantagem para o seu clube: “Basta lembrarmo-nos de quanto o Benfica recebia há três anos pelos seus direitos.”
Há três anos, com a Olivedesportos, o Benfica recebia €8 milhões; em 2016, serão €40 milhões, o número que, na altura, Vieira pediu a Joaquim Oliveira e que este não deu —o que levou o Benfica a transmitir os seus jogos na BTV. “Seguimos em frente e fizemos o canal, que todos disseram que era uma loucura. Disseram que era bluff, que íamos renovar com o Joaquim [Oliveira]. A verdade é que este é o terceiro ano em que exploramos os nossos direitos, caso único a nível mundial, e agora conseguimos €40 milhões e não €25 milhões. Isto demonstra que tínhamos razão.” Passou a NOS a ser o “dono da bola”? “Os donos da bola serão sempre os clubes, nunca os operadores”, responde L.F.V. Com o aumento de receitas, o Benfica poderá “acelerar a redução do passivo”, mesmo que, garante, “as necessidades financeiras de curto prazo estejam garantidas há muito”. E assim, diz, se cumprirá a terceira etapa da sua era. “Há 12 anos, tivemos de ‘salvar’ o clube. Depois, foi necessário criar infraestruturas, o que obrigou a criar dívida. Apostou-se no projeto desportivo, e agora chegou o momento de amortizar a dívida. Seguramente que pelo menos parte substancial deste contrato será para reduzir passivo.”

“LIGA? OS CLUBES PASSARAM A CONTAR ESPINGARDAS, E JÁ NÃO É REALISTA CENTRALIZAR OS DIREITOS TELEVISIVOS”

O contrato prende o Benfica à NOS durante 10 anos, mas L.F.V. nega a perda de independência. “Não estamos a hipotecar o futuro. Sabem quais foram os presidentes que tinham o futuro comprometido quando chegaram ao Benfica? Dois: Manuel Vilarinho e eu. Não havia nada, nem dinheiro, nem jogadores, nem infraestruturas, nem credibilidade ou crédito. Os presidentes que me sucederem vão herdar um Benfica credível, mais português e sem dívida, ou com dívida residual. Gostava de ter encontrado este Benfica quando assumi funções de presidente.” O dinheiro da NOS não será gasto em contratações. Sim, o plantel terá “ajustes” em janeiro; e, não, nada do que for feito na reabertura do mercado “tem a ver com este acordo”. Este não é um clube para velhos: “Vamos reforçar a nossa aposta no Caixa Futebol Campus”: na formação.

“REFORÇOS EM JANEIRO NÃO TÊM NADA A VER COM ESTE ACORDO. PARTE SUBSTANCIAL SERÁ PARA REDUZIR PASSIVO”

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Pistas para o futuro: “O Benfica está preparado para discutir o título, mas nunca iremos comprometer o médio e longo prazo. Tomámos uma opção diferente e reconhecemos a aposta que foi feita nos outros clubes.” O futebol do Benfica é um pouco como esta “história dos direitos televisivos”, tem de ser visto à la longue. E nessa estratégia cabe Rui Vitória, o treinador que o Benfica foi buscar ao Vitória de Guimarães para substituir Jorge Jesus. Vitória fez do Vitória um viveiro de miúdos e tinha um passado ligado à formação do Benfica. “O Rui Vitória tem apostado no talento e na qualidade dos jogadores, independentemente da idade, e isso significa uma mudança muito grande em relação ao que vínhamos fazendo até aqui.” Isto é, em relação ao que era feito por J.J.

JESUS E O SPORTING

Acontece que “esta mudança” bateu de frente com o passado recente. Nos três jogos contra o Sporting de Jesus, o Benfica de Vitória foi derrotado: 1-0 na Supertaça; 3-0 no campeonato, na Luz; 2-1 na Taça de Portugal, em Alvalade. Vieira relativiza: “As derrotas, sejam elas contra o clube A ou B, são sempre más, mas o futebol é assim.” Há mais além de Jesus; há Bruno de Carvalho. Esta época, o presidente do Sporting tem criticado o Benfica, desafiando-o, por exemplo, com o caso dos kits aos árbitros e a alegada influência do clube da Luz sobre os tipos que apitam os jogos. É o regresso aos tempos da velha rivalidade com os meios de hoje: comunicados, blogues, tempos de antena e processos em tribunal. “O presidente do Sporting entendeu fazer o que fez. O excesso de ruído nunca é bom em nenhuma atividade, e o presidente do Sporting faz a defesa do clube a que preside da maneira que entende fazer. Não sou eu que tenho de fazer a avaliação do seu trabalho e da sua postura, isso compete aos seus sócios. Responder-lhe [a Bruno de Carvalho] teria sido o mais fácil, mas isso teria sido seguramente mais prejudicial para o Benfica e para o futebol português. A resposta, já o disse, será dada onde deve ser dada, nos tribunais”, garante L.F.V., que quer separar as águas que “alguns opinadores” querem misturar. “Eles acham que o Benfica e o Sporting estão ao mesmo baixo nível nesta questão de comunicados e processos. Isso não é verdade. Não fomos nós que ligámos os altifalantes, chamando diariamente dezenas de jornalistas e insultando uma grande instituição e os seus dirigentes. Nós limitamo-nos a defender o bom nome do Benfica, e fazemo-lo nos locais certos, na justiça e não na praça pública.”

“BENFICA E SPORTING NÃO ESTÃO AO MESMO BAIXO NÍVEL NESTA QUESTÃO DE COMUNICADOS E PROCESSOS”

O Benfica processou Jesus em €1.4 milhões por rescisão unilateral e sem justa causa do contrato que o ligava ao clube encarnado até 30 de junho; e apresentou uma ação em tribunal contra o Sporting por danos reputacionais. “O silêncio não significa passividade. Registámos tudo o que foi dito, tudo o que foi escrito, os danos que foram provocados, e iremos acertar contas nos tribunais, que existem exatamente para estas situações”, remata Vieira.

NOS pode passar futebol da BTV para a Sport TV

Custos da BTV deverão manter-se no Benfica, mas transição de conteúdos para a Sport TV reduzirá atuais encargos do clube

Depois do acordo, a dúvida instalou-se: sendo a NOS detentora de 50% da Sport TV, a compra dos direitos dos jogos do Benfica e dos direitos de distribuição da BTV significa que os encontros das águias na Luz vão voltar a ser emitidos no canal de Joaquim Oliveira?
A resposta oficial só será conhecida a 10 de dezembro, na conferência de imprensa agendada pela NOS e pelo Benfica para divulgar detalhes sobre a operação. Mas o Expresso sabe que não só o regresso do Benfica à Sport TV se afigura como provável como poderá até ser acompanhado pela migração de outros conteúdos até agora emitidos pela BTV. Nomeadamente a liga francesa e a liga italiana de futebol.
O acordo de €40 milhões/ano assinado entre a NOS e o Benfica prevê que as receitas geradas pela BTV (em subscritores, distribuição do canal ou publicidade) passem para a operadora. Mas os custos do canal vão manter-se no emblema da Luz. Nos relatórios e contas da Benfica SAD, a exploração dos direitos de TV tem indicado apenas o volume de receitas, que na última temporada se situou nos €34,6 milhões. Os custos não são detalhados, mas o Expresso sabe que rondaram os €15 milhões na última época.

A manutenção desta estrutura de custos no Benfica reduziria substancialmente o encaixe de €40 milhões/ano gerado pelo acordo com a NOS. Mas a estratégia da operadora para rentabilizar o investimento pode aliviar os encargos do clube com a BTV. Basta para isso, por exemplo, fazer regressar à Sport TV a produção e transmissão dos jogos do Benfica em casa e a emissão das ligas europeias de futebol (italiana e francesa) que a BTV ‘desviou’ nos últimos anos. Bem como os respetivos encargos.
Com esta opção, a BTV regressará à sua versão inicial de canal de clube, mais centrado na emissão das modalidades. Um cenário que fará baixar bastante os custos mas que, ao mesmo tempo, conduzirá ao fim de uma das maiores fontes de receita, dado que a subscrição para aceder ao canal deixará de fazer sentido.

NOS 3 – ME0 O

Enquanto não anuncia a estratégia para a distribuição dos seus conteúdos, a NOS vai somando vitórias negociais. Depois de a PT Portugal — agora detida pelos franceses da Altice — ter sondado vários clubes portugueses para tentar `roubar’ os direitos dos seus jogos à Sport TV e ter participado em concursos por direitos de futebol internacional, o CEO da NOS, Miguel Almeida, foi taxativo. “Não vamos ficar parados quando alguém ameaça o equilíbrio do mercado”, disse publicamente.

Foi há pouco mais de uma semana. Mas teve o efeito prático de um hat-trick em poucos minutos. Primeiro, chegou a acordo com o Benfica pelos direitos dos jogos do clube em casa e pela distribuição da BTV, num contrato que pode atingir os 10 anos e os €400 milhões. Depois garantiu o regresso da liga inglesa à Sport TV nas próximas três épocas, por cerca de €10 milhões. Por fim, após cinco meses de negociações, obrigou a PT Portugal a capitular e a aceitar pagar o mesmo preço que as restantes operadoras para ter a Sport TV no MEO. Com retroativos a agosto, mês em que o novo contrato de distribuição entrou em vigor para todos os operadores de Pay TV.
O MEO ainda não saiu de campo, está a sondar vários clubes de pequena e média dimensão e já tem um princípio de acordo com o Boavista. Mas só acordos com o FC Porto ou o Sporting, vinculados à Sport TV até 2018, poderão reequilibrar as forças. A segunda parte segue dentro de momentos.

NÚMEROS

40

milhões de euros é o valor médio anual que o Benfica receberá pela cedência à NOS dos direitos de emissão dos jogos do clube na Luz e pelos direitos de transmissão e distribuição da BTV. Se o acordo for sucessivamente renovado até ao período máximo de 10 anos, o valor global atingirá os €400 milhões
milhões de euros foi a estimativa de resultado líquido da BTV para a última época, avançada ao Expresso, em julho, pelo administrador financeiro da Benfica SAD, Domingos Soares de Oliveira

8
milhões de euros foi o valor que o Benfica recebeu da PPTV, de Joaquim Oliveira, na última época em que o clube teve os seus direitos de transmissão cedidos à Sport TV.

22

milhões de euros por época foi o valor da última proposta feita pela PPTV ao Benfica, em 2012, para tentar renovar os direitos de emissão dos jogos do Benfica. Luís Filipe Vieira recusou, por entender que o preço justo era €40 milhões

20

milhões de euros é o valor que o FC Porto recebe anualmente pelo contrato em vigor com a PPTV (que inclui publicidade estática), válido até 2017/18. O Sporting recebe cerca de €17 milhões

356

milhões de euros terá sido o valor da proposta apresentada pela MEO, concorrente da NOS, para tentar garantir o exclusivo dos direitos dos jogos do Benfica

429

milhões de euros foi o valor do passivo que o Benfica apresentou no relatório e contas referente à última época desportiva

Fonte: Expresso

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