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Mãos nos bolsos, com franqueza, não se admite a nenhum presidente

O que teve de diferente esta agressão a um repórter em Moreira de Cónegos de tantas outras agressões a jornalistas ao longo de mais de trinta anos? O que levou este episódio a durar mais do que dois minutos nos alinhamentos dos noticiários do dia e a sobreviver, como notícia, nos dias seguintes? O que motivou o Ministério Público a abrir um inquérito à agressão ao repórter de imagem da TVI e um líder partidário a insurgir-se publicamente contra a inoperância da GNR no local da ocorrência?

A diferença de tratamento mediático e institucional entre a agressão a Francisco Ferreira, na noite da última segunda-feira, e duas dúzias de situações similares prontamente varridas para debaixo do tapete desde 1988 prende-se, exclusivamente, com o caso de haver registos de imagem do infausto acontecimento, o que deita por terra e ridiculariza a negação dos factos. E prende-se também com o facto, indesmentível, de o presidente do FC Porto ser figura de primeiro plano na gravação do acontecimento valentemente levada a cabo por um repórter de imagem de uma estação concorrente enquanto o seu camarada da TVI era sovado e encostado, aparentemente contra a sua vontade, a um bucólico varandim minhoto.

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O que se ouviu do protagonista das imagens – das imagens, não dos factos, obviamente – disponibilizadas ao vasto público foi um casual “há novidade?” dirigido aos repórteres de serviço enquanto um deles, sagaz, retirava a câmara do tripé e a apontava diretamente ao seu interlocutor. Depois, de Pinto da Costa, não se ouviu mais nada. A câmara do repórter agredido andou em bolandas, tal como o repórter, e a banda sonora do pequeno filme registou o que havia para registar e que é o normal nestas situações: insultos, ameaças, sons de luta e um pedido de socorro às autoridades: “Levas um soco, que te f…”, “senhor guarda, chegue aqui!”, “este senhor está-me a agredir” para tudo terminar com a intervenção de Vítor Baía, “Pedro, Pedro, Pedro!” que, ainda nessa noite, honra lhe seja feita, pediria desculpa pelo sucedido.

O público ficou impressionado com estes registos. Uns por não gostarem de violência, outros porque gostam, outros ainda porque não gostaram de ver a intervenção de Vítor Baía e outros por terem apreciado ver Pinto da Costa de mãos nos bolsos enquanto se dirigia ao grupo onde se encontrava a vítima. Mas houve outros que gostaram de ver nas mãos nos bolsos do presidente do FC Porto uma atitude de não-tenho-nada-a-ver-com-isto, própria de um inocente. E ainda houve quem considerasse o pormenor das mãos nos bolsos como sintoma de fraca resistência aos ares da noite ou como fadiga dos membros superiores no dealbar do incidente, o que, com franqueza, não se admite a nenhum presidente. E, então, sempre há novidade ou não? Há, pois, há imagens.

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