António Simões pede acerto defensivo ao Benfica para afastar Inter nos quartos de final da Champions.
“Não vejo nenhum rei na equipa do Benfica, mas todos são príncipes. Ou seja, os atletas sabem jogar, entendem-se e isso é contagiante. Já estamos a ficar habituados à ideia de que eles jogam bem com a bola. A grande questão é ver se vão ser capazes de defender bem perante equipas muito matreiras, como são as italianas, para atacar melhor. Já era assim no meu tempo e nada mudou”, vincou à agência Lusa o ex-avançado, de 79 anos, que alinhou pelos “encarnados” (1961-1975) e sagrou-se campeão europeu em 1961/62.
O Benfica, líder isolado da I Liga portuguesa, recebe o vice-campeão italiano Inter Milão na terça-feira, às 20:00, no Estádio da Luz, em Lisboa, na primeira mão dos quartos de final da Champions, estando o segundo embate previsto para 19 de abril, em San Siro.
“Sou do tempo em que se queria sempre jogar primeiro fora, mas acho que agora isso já não faz diferença. Os atletas têm de estar preparados. O jogo na Luz tem um entusiasmo moderado e, ao mesmo tempo, prudente. Não é pelo Inter Milão estar menos forte, mas sim porque o Benfica está forte, recomenda-se e mostra uma grande coerência. Agora, a importância [da eliminatória] nunca pode inibir os futebolistas de jogarem aquilo que têm jogado nos últimos tempos”, assinalou, advertindo para a urgência de “marcar primeiro”.
Desde a substituição da Liga dos Campeões pela Taça dos Campeões, em 1992/93, as águias têm como melhor registo cinco presenças no “top 8”, mas cederam em 1994/95 (AC Milan), 2005/06 (Barcelona), 2011/12 (Chelsea), 2015/16 (Bayern Munique) e 2021/22 (Liverpool), num somatório de seis derrotas, quatro empates e nenhuma vitória.
Esse balanço difere da antiga versão da maior competição europeia de clubes, na qual o clube da Luz conquistou dois títulos (1960/61 e 1961/62), perdeu outras cinco decisões (1962/63, 1964/65, 1967/68, 1987/88 e 1989/90) e “caiu” uma vez nas “meias” (1971/72).
“A estratégia pode alterar-se, mas não o modelo de jogo, que já está treinado há meses. Não faz sentido mudar seja o que for. À imagem do futebol italiano, o Inter Milão possui uma escola de transições rápidas e adora jogar fechado para, depois, sair para o ataque. É aí que se pede prudência. Se o Benfica se mantiver organizado, jogar de uma maneira muito atraente e fizer golos, acho que passará a eliminatória”, afiançou António Simões.
O conjunto treinado pelo alemão Roger Schmidt procura a primeira presença portuguesa entre os semifinalistas da ‘era’ Champions desde o cetro arrebatado em 2003/04 pelo FC Porto, opositor batido pelos “nerazzurri” na fase anterior (1-0 em Milão e 0-0 no Dragão).
“Não me parece que isso vá ter influência nos dirigentes e atletas, mas, entre os adeptos, existe a questão de vencer uma equipa que eliminou o FC Porto, como que dizendo que nós somos superiores e faremos melhor. O estímulo não deverá ser esse, mas ver se o Benfica consegue manter o rendimento a todos os níveis”, notou o ex-internacional luso.
António Simões adverte que o quinto colocado da Serie A, com 51 pontos, a distantes 23 do líder Nápoles, agrupa “alguns nomes muito interessantes e que podem desequilibrar”, sugerindo “cuidados” para moderar o “poderio físico” do avançado belga Romelu Lukaku, que foi suplente utilizado nos dois embates face aos “dragões” e marcou o golo decisivo.
“O Benfica terá de se confrontar com duas culturas: uma italiana e outra em que ressalta o talento dos futebolistas que não são italianos. No geral, as equipas portuguesas dão-se bem com as de Itália, que não têm um espírito de ataque continuado e são intermitentes. O Benfica tem de requerer concentração a si próprio e esse é outro desafio”, identificou.
Caso se apure para as meias-finais, o líder da I Liga, com 71 pontos, sete acima do “vice” e campeão nacional FC Porto – que ditou na sexta-feira a segunda derrota da temporada “encarnada” e a primeira em casa sob alçada de Roger Schmidt, ao impor-se no clássico da 27.ª jornada (1-2) -, vai defrontar os também transalpinos do AC Milan ou do Nápoles, com a primeira mão fora, em 09 ou 10 de maio, e a segunda na Luz, nos dias 16 ou 17.
“Gosto muito deste Benfica. Há muitos e muitos anos que não via uma equipa no nosso campeonato a jogar desta maneira. Seguramente, há um trabalho permanente do Roger Schmidt. Quando vejo o Rafa a jogar… porque é que ele antes estava tão triste e parecia zangado com o mundo e agora está alegre? Existe influência, contacto e uma relação de afeto e de respeito. Nota-se que esta equipa joga para o treinador e vice-versa”, admitiu.
António Simões está convicto de que o Benfica pode chegar à final da edição 2022/23 da “Champions”, agendada para 10 de junho, no Estádio Olímpico Atatürk, em Istambul, na Turquia, na senda da inesperada vitória no Grupo H, à frente de Paris Saint-Germain e Juventus, seguida da passagem sobre o Club Brugge nos “oitavos” (7-1 nas duas mãos).
“Vi há pouco tempo num vídeo a chegada da equipa a Lisboa com o troféu [de campeão europeu] na mão do José Águas. Emocionei-me imenso e muito gostaria de me voltar a emocionar com aquela taça nas mãos do capitão do Benfica. Sinceramente, tenho essa esperança. Não é nenhum sonho. Sei que é difícil, mas, desta vez, o Benfica conseguiu, com algum dinheiro, ter uma equipa com nível para competir com qualquer um”, exaltou.