O auto-designado inimigo, na sua ânsia de criar uma imagem negativa do Benfica, apelida, não raras vezes, os benfiquistas de mouros e o Benfica de clube do regime, demonstrando, desde logo, uma total falta de respeito pelo Benfica e pelos benfiquistas e pretendendo com aquele insulto e esta falsidade histórica, convencer os seus prosélitos de que, aquilo que o Benfica conquistou ao longo da sua História gloriosa, assenta mais nos favores dos governos lisboetas, do que nos méritos desportivos do Benfica, ao mesmo tempo, que tenta branquear o passado de favores e de “lambebotismo” que caracterizou a postura do FCP antes do 25.Abril.
Para isso ignora deliberadamente as décadas de 60 e de 70 do século passado, onde o Benfica se tornou num clube referencia em Portugal e na Europa do futebol quer pela excelência do seu futebol, quer pelos feitos desportivos que logrou, quer, finalmente, pelo seu fair play. Ao mesmo tempo que sabe que era o governo de então que aproveitava para “surfar”, como hoje se diz, o prestigio alcançado pelo clube, que, lembre-se, só tinha jogadores de nacionalidade portuguesa, o que, para os governos de Salazar e Caetano, servia às mil maravilhas para exibir a excelência do império colonial português. Nem os dirigentes do FCP são tão incultos e ignorantes que não saibam que era assim que as coisas então se passavam ! Mas, como para os governos de Salazar, ao FCP não interessa tanto o rigor histórico, interessa, isso sim … a propaganda !
É sabido que o FCP tem mantido como imagem de marca ao longo dos anos uma atitude belicosa com “Lisboa” (mas, como se verá adiante, não com o poder central – quantos presidentes da República e de Câmaras Municipais ostentam o famigerado Dragão de Ouro na sua sala de estar ?!), e uma relação difícil com a verdade e com os factos históricos. E isso começa logo pela data da sua fundação que, por artes do ratinho “Topo Gigio” passou, em Assembleia Geral de 1988, por maioria, de 1906 para 1893 sendo que Nicolau de Almeida, o novo/velho fundador que substituiu nessa função Monteiro da Costa, nunca figurou, segundo os registos, como sócio do FCP !? Creio que o facto de o Sport Lisboa e Benfica ter como data fundacional o ano de 1904 (o SCP é de 1906) deve ter estado bem presente na memória dos poucos associados portistas, chamados e decidir quem era, afinal, o pai ! Nicolau de Almeida ou Monteiro da Costa ! Por aqueles lados, repete-se, rigor e coerência são coisa que nunca abundou e adaptações da historia às conveniências das narrativas do momento, são o pão nosso de cada dia !
Ora, é chegado o tempo de, de uma vez por todas, começarmos, como se diz aqui no Norte, porque nós, benfiquistas e nortenhos, não enfiamos o barrete dos mouros, “a chamar os bois pelos nomes” e demonstrarmos quem é o quê no futebol português. Afinal quem usa e se serve de mistificações e mesmo mentiras, com recurso a truncagens ou não, para se arvorar naquilo que não é e com isso pretender reclamar uma superioridade moral que manifestamente não tem !!
A propósito de clubes do regime e para já nem falar na simbólica, mas nada inocente e bem sintomática, adopção das cores azul e branca por uma agremiação fundada ainda durante o regime monárquico, importa lembrar aos menos dados a estas coisas da história que, quer em 1938/39 quer depois em 1941/42, não tendo conseguido, pela VERDADE DESPORTIVA, isto é, dentro do campo e jogando contra os clubes da sua Associação, classificar-se para disputar o campeonato da 1a divisão e, assim, poder permanecer na 1a. Divisão na época seguinte, houve lugar a dois alargamentos, decididos administrativamente pela Direcção da Federação que, à época, era nomeada pelo governo de Salazar, que evitaram, assim, a descida à 2a. Divisão.
Já mais recentemente, em 1952, mais precisamente a 28 de Maio, data emblemática para o regime ditatorial de Salazar (no qual se celebrava o levantamento das tropas que deu lugar ao Estado Novo) e mais uma vez sem qualquer pejo antes mostrando toda a sua subserviência ao regime, inclusive através da saudação nazi feita pelos atletas e dirigentes, inaugurou o Estádio da Antas na presença dos mais altos dignitários da ditadura. E isto para só falarmos de dois casos.
Mas, o mais curioso, é que se regressarmos aos dias de hoje, verificamos a existência de uma singular curiosidade. De facto é sabido que o nosso país atravessou, entre os anos de 2005 e 2011, portanto já com o novo regime actualmente em vigor, um período em que que governou entre nós o Eng. José Sócrates e conhecessem-se hoje e talvez não ainda em toda a sua extensão, os problemas de corrupção que atravessaram a sociedade portuguesa com vários casos mediáticos envolvendo figuras de Estado e outras até aí consideradas de grande prestigio social, económico e politico. Ora, não deixa de ser uma curiosidade que, exactamente nesse período onde se pressentia existir maior impunidade para quem cometesse actos menos “licitos”, tenha aparecido o Apito Dourado e o FCP tenha ganho o famigerado penta, portanto, 5 títulos da campeão consecutivos, quatro taças de Portugal e quatro Supertaças !! Isto é, naquele que é hoje unanimemente considerado como um dos periodos mais vergonhoso da nossa historia recente em termos de corrupção e criminalidade de “colarinho branco” seja ela económico-financeira ou desportiva, aliada à impunidade que ainda hoje protege muitos dos seus autores, o FCP conseguiu amealhar 5 campeonatos, 4 Taças e 4 trofeus de Supertaça. Era o tempo que Mario Jardel tao bem definiu ao dizer “ que bastava sentir o Joao Manuel Pinto a respirar nas minhas costas, para cair e ser … penalti”! Isto, como dirão alguns comentadores da nossa praça, “é factual” !
Assim, e para concluir, de uma coisa estamos certos, o FCP, pese embora pretender que o seu discurso pareça anti-poder é de todos os clubes o mais centralista (veja-se o que é hoje o deserto de clubes medianos que vegeta na região do grande Porto, quando comparado com o número daqueles que andaram pela 1a. Divisão e que, com efémera glória, foram os peões que serviram a estratégia que o FCP e a AFP urdiram para que hoje o FCP, possa, apesar das dificuldades financeiras que atravessa em resultado de gestões, no mínimo, incompetentes, continuar a controlar tudo e todos no futebol português, ao mesmo tempo que abafa e amarfanha esse mesmo futebol português), e aquele que, e esse mérito tem que lhe ser assacado, melhor usa (e abusa) do poder que tem seja através da propaganda, seja através do “sistema” como bem definiu o Dr. Dias da Cunha.
Por isso, o FCP não deve ser visto, por nenhum dos outros participantes e muito menos por Benfica, Sporting e Braga (para mim continua a ser um mistério o ensurdecedor silêncio de António Salvador sendo que, neste momento, o Braga, não fossem os penaltis miraculosos a favorecer o FCP, podia estar a ocupar um lugar de acesso direto à Champions) como um parceiro de competição, leal e respeitável antes deve ser visto por todos, e até pelos clubes vizinhos, como um clube predador, desleal, que não olha a meios para atingir os seus fins mesmo se ilegítimos e cuja visão do que é a verdade desportiva, ficou amplamente demonstrada nas várias escutas que constituíram o Apito Dourado!
Antonio Gomes-Martins
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