Roger Schmidt, treinador das águias, é entrevistado esta segunda-feira por Toni, antigo jogador e treinador, glória dos encarnados, no programa MísticaADois, da Bplay, plataforma de comunicação do Benfica.
Em teaser lançados nas redes sociais, Schmidt alarga o seu entusiasmo e as suas expetativas aos adeptos benfiquistas.
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🚨🎥 Não percas hoje, às 19h04, o 2.º episódio da #MísticaADois com Roger Schmidt e Toni! pic.twitter.com/ADfC0YGArD
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«Há sempre uma relação com os adeptos, mas aqui no Benfica é muito especial […] Temos de nos concentrar no nosso trabalho, depois vamos dar tudo em cada jogo, e jogo a jogo, temos de lutar pelos título […] Sabemos que os nossos adeptos podem fazer a diferença e, claro, espero que os benfiquistas possam estar aqui na próxima época, com a equipa, para lutarmos juntos pelos títulos», aponta Roger Schmidt.
Toni: Míster, é um prazer para mim ter passado um dia no Campus para presenciar o treino, conviver consigo e com os jogadores. De há muito que eu tinha esse prazer de o conhecer pessoalmente e, para mim, é um prazer muito grande porque está à frente do Clube do meu coração. Eu vivi aqui a minha experiência como jogador, depois como treinador adjunto, como treinador principal e também como diretor-desportivo. E, por isso, começava por dizer que quando chegou a Portugal disse uma frase que nos ficou na memória. “Se amas o futebol, amas o Benfica.” Passados dois anos, como é que descreve o Benfica e a sua relação com o Clube? Essa frase eu gostei dela.
Roger Schmidt: Antes de mais, é também um prazer falar consigo e tê-lo aqui no Benfica Campus. Claro que também fiquei com uma boa impressão sua na celebração dos 120 anos do Benfica quando fez o discurso e foi muito emotivo. Por isso, claro, é sempre bom falar com pessoas como você, com tanta experiência, porque, como disse, estou aqui há apenas dois anos, por isso não é tanto tempo como você aqui. Quando proferi esta frase, na verdade, isso veio do coração. E, ao fim de dois anos, descrever o Benfica não é fácil, porque é um clube muito especial e também é muito exigente para todos os que trabalham aqui, que jogam no Clube, que fazem parte do ou que também têm um papel de responsabilidade, como eu, enquanto treinador principal. E é também um clube muito bonito. Há muito entusiasmo pelo Benfica na cidade, no país e também no estrangeiro quando viajamos. Não importa onde vamos. Há sempre muitos Benfiquistas. E por isso é fantástico fazer parte disso. Obviamente, agora também conheço a ambição de todas as pessoas do Benfica. Toda a gente espera que ganhes tudo. Se não ganhares, não aceitam muito bem, por isso, há sempre que criar o equilíbrio. Ganhar e perseguir os objetivos do Benfica, ou seja, perseguir os troféus é o desafio e também saber que, sim, há muita pressão à volta do Clube, para os jogadores e para todos os que lá trabalham. E penso que, após dois anos, tenho uma impressão muito boa. O primeiro ano parece ser muito fácil porque ganhámos muito, quase tudo, e no final fomos campeões. Começámos bem na segunda época, com a Supertaça, mas depois tornou-se difícil. Para mim, acho que também foi importante sentir esta situação. Se queres mesmo perceber o Benfica, tens de fazer parte dos bons momentos. Mas acho que também é uma vantagem fazer parte dos momentos difíceis. Ficámos com essa noção na época passada, e penso que será útil também para a próxima época.
T: Penso que já respondeu quase à minha segunda pergunta, que era: o Benfica correspondeu a tudo o que esperava ou ficou surpreendido com o que encontrou aqui?
RS: Claro que há sempre coisas surpreendentes. Pensamos no que é o Clube, como está, e sabemos que o Clube tem muitos adeptos. Mas para mim, no final, fico sempre surpreendido quando nos dirigimos para o estádio, no autocarro. Olhamos para o exterior e vemos tanta gente à espera dos jogadores, à espera do jogo. E, quando se vê o entusiasmo dessas pessoas, é sempre algo muito especial. Para mim, é muito importante. Estamos a treinar, fazemos as nossas reuniões, estamos a falar sobre a importância do próximo jogo, porque, para nós, todos os jogos são uma final. E, portanto, estamos completamente concentrados, mas depois, quando vamos para o estádio, acho que o incentivo que recebemos para o jogo são sempre os adeptos que estão à nossa espera, à volta do estádio ou no estádio. É sempre algo surpreendente para mim. Também é muito parecido nos jogos fora porque é quase o mesmo, sobretudo em Portugal. E, quando nós jogamos fora, há sempre muitos Benfiquistas. Fico muito grato por isso e é muito importante para nós.
T: Quando cheguei ao Benfica, o míster tinha um ano de idade, por isso, pode ver bem a longevidade da minha ligação ao Benfica, são 56 anos de ligação ao Benfica. Lembra-se da primeira vez que ouviu falar do Benfica?
RS: Quando somos jovens e começamos a jogar futebol, é claro que adoramos o que estamos a fazer. Quando era pequeno, a única coisa que fazia era jogar futebol, todos os dias na rua, depois da escola. Depois crescemos e, claro, também ficamos com a paixão pelo futebol. E também estava interessado no futebol de topo. O futebol de topo da Alemanha, mas às vezes ouvíamos falar dos grandes clubes como o Real Madrid, o Benfica, o Barcelona, o Inter de Milão. Claro que não podia imaginar que um dia faria parte deste futebol porque, na verdade, era um miúdo que jogava porque adorava futebol. Não tive uma grande carreira como jogador como você. Estava um pouco abaixo do futebol profissional, por isso, não pensava fazer parte de um clube como o Benfica. Para ser sincero, é um sonho tornado realidade! Fazer parte deste Clube é uma grande honra. O facto de fazer parte de um clube destes, dos grandes clubes do mundo, é uma grande honra.
T: Estamos no Benfica Campus, onde o míster passa a maior parte do seu tempo. Como é que é o seu dia a dia aqui no Benfica Campus?
RS: Gosto muito de estar aqui. Em primeiro lugar, a localização do Benfica Campus é espetacular. O meu trabalho passa por vir para aqui quase sempre de manhã cedo, por volta das 8h00, e na pré-época passo o dia inteiro aqui porque temos três treinos. Gosto muito de estar aqui. É um ambiente muito agradável, não só o edifício e as instalações, que são de topo. Tem tudo o que se precisa para treinar. O que é especial aqui, na minha opinião, é também a dimensão deste centro de estágios. O departamento de Formação, o futebol feminino, a equipa principal, a equipa B, todas estas equipas estão juntas aqui no mesmo edifício, no mesmo local. E penso que também se sente que isto é algo muito especial. Gosto muito de estar aqui. No final, decidimos não ir para estágio no estrangeiro, neste verão, porque pensámos: “Muito bem, temos o ambiente perfeito aqui, por isso, porque havíamos de ir para outro sítio?” No final, ficámos, e a razão é que é um local fantástico.
T: Há mais vida para além do futebol. Como é que é a vida do míster para lá do Benfica Campus, e do Estádio da Luz. Como é que foi a sua adaptação à vida em Portugal?
RS: Também já foi treinador. Quando se é treinador, não se tem muito tempo. Portanto, para mim, nos últimos anos, a minha vida resume-se ao futebol e à minha família. Para além do futebol, gosto muito de viver em Portugal porque é um país fantástico. E também as pessoas, a cultura das pessoas também é tão positiva para as pessoas que vêm do estrangeiro. Gosto de passar muito tempo aqui em Portugal.
T: O Benfica tem muitos adeptos, é natural que as pessoas queiram algum autógrafo ou até gostem de o interpelar. Tem sentido isso?
RS: Claro que faz parte da minha vida, por isso não me incomoda. Se sair, não importa onde vá, as pessoas reconhecem-me, a mim ou aos jogadores, e isso é muito positivo. Gosto de falar com eles. Toda a gente quer tirar uma fotografia, recebo muitas reações positivas dos Benfiquistas. Eles motivam-nos muito. Gosto muito de encontrar pessoas na rua, de falar com elas sobre o Clube e isso dá-nos muita motivação, porque sentimos que são apaixonados pelo Benfica.
T: Na primeira época, o míster trouxe ao Benfica e ao seu futebol uma pressão alta, reação à perda, um futebol ofensivo que deixou todos aqueles que amam o futebol, entusiasmados. Na época passada, as coisas já não correram assim. Como é que projeta esta próxima época? Projeta para os patamares dessa sua primeira época no Benfica?
RS: Penso que temos sempre de ajustar um pouco o nosso estilo de jogo aos jogadores. É sempre necessário ter um eixo claro na equipa que também seja responsável pelo estilo de jogo. Acho que no primeiro ano fomos muito bem-sucedidos. Muitos jogadores que já estavam no Benfica, e que não tinham tido muito sucesso, estavam muito motivados para jogar um estilo de futebol diferente. E penso que, logo no início da pré-temporada, encontrámos os jogadores que colocavam em prática este tipo de futebol em campo. Por isso, ganhámos muita confiança. Depois acabámos por fazer uma época muito boa e fomos campeões. Entretanto, com estas expectativas, a segunda época não foi muito fácil. Demos o nosso melhor para jogar um futebol semelhante porque acho que os Benfiquistas esperam um estilo de futebol ofensivo. Acredito que isto também é o Benfica: atacar e ser pró-ativo no jogo. Acho que também fizemos isso na época passada, o melhor que conseguimos, mas não fomos tão fiáveis e regulares como antes. Depois perdemos demasiados pontos e também alguma qualidade para ganhar o Campeonato. Penso que estamos prontos para recomeçar e, jogo a jogo, tentamos dar o nosso melhor e ganhar jogos, ganhar confiança e depois fazer uma época de topo. Para mim, foi importante obter muitas informações e impressões dos meus jogadores. E penso que, com esta experiência, estamos prontos para lutar novamente pelo Campeonato.
T: Nesta altura há ainda alguns jogadores que estão de férias. Alguns desses jogadores vão ser a base da equipa. Que futebol é que o míster promete para esta época que aí vem? O que é que acha que há a melhorar?
RS: Depois da época é preciso dar algum descanso aos jogadores que jogam estes torneios, para que possam estar prontos para a nova época, para a época seguinte. E, como disse, ainda há muitos jogadores que jogaram muito, no ano passado e também no ano anterior, que ainda não estão com a equipa. Mas penso que é importante dar-lhes mais tempo para descansarem e depois regressarem e terem uma pré-temporada curta para estarem prontos para o início da época. Atualmente, isto é normal no futebol. Acho que nas duas primeiras semanas de treino foram excelentes. Gostei da motivação dos jogadores e também da qualidade. Penso que estivemos bem nos jogos amigáveis, mas claro que não foram perfeitos. Já se vê que, mesmo quando temos muitos jogadores jovens connosco na pré-temporada, somos capazes de jogar como queremos. E quando se fala do estilo de jogo para a nova época, claro que é um futebol de ataque. Queremos ser ativos, queremos ser muito ativos quando o adversário tem a bola. Também queremos ter uma ideia clara de como podemos recuperar a posse de bola o mais cedo possível, porque também temos os nossos momentos de transição no ataque. O importante é que o façamos de forma muito consistente, que o façamos em conjunto e que todos os jogadores estejam envolvidos e assumam também a responsabilidade. Quando se quer jogar um futebol ativo, com muita pressão e com momentos de transição, todos os jogadores têm de estar envolvidos. Mas, para mim, o mais importante é que os jogadores estejam preparados e motivados para pôr em prática a forma como queremos jogar.
T: Desde o primeiro ano, vários jogadores, e jogadores importantes para a ideia de jogo do míster, deixaram o Clube. Neste ano perde um jogador como o Rafa. Agora, portanto, estas mudanças e com outros jogadores, como é que vai receber o Pavlidis, Leandro Barreiro e Jan-Niklas Beste. Estes jogadores vêm acrescentar qualidade ao plantel? Como é que os descreve? Eu sei que enquanto treinadores não queremos… Mas só do ponto de vista técnico, acha que são jogadores que vêm enriquecer? Penso que seja essa a ideia…
RS: É exatamente isso que disse. Se pensarmos em novos jogadores, acho que temos de pensar em novas armas. Novas armas especiais no jogo. E é isso que estamos a tentar fazer. O Rafa é quase um jogador único. Se virmos o perfil dele, é quase impossível encontrar um jogador como o Rafa. Mas, como disse, o Rafa foi-se embora. O que tentamos é encontrar no mercado jogadores como o Pavlidis, como o Beste, como o Barreiro, que também têm armas num estilo diferente. O Pavlidis é um jogador que mostrou, sobretudo nas duas últimas épocas no Alkmaar, que é um avançado muito completo, com muita qualidade na finalização, a marcar golos e a fazer assistências, mas também um jogador muito trabalhador. Penso que é um jogador que tem o perfil para jogar este tipo de futebol ativo e de alta pressão e o que já demonstrou nas duas primeiras semanas, que também tem a mentalidade necessária para mostrar isso em campo. Com o Barreiro temos um jogador que é muito fiável, muito semelhante ao Florentino. Penso que ambos os jogadores, no que diz respeito à concentração tática, à qualidade, à força física, são capazes de jogar este tipo de futebol. E são muito bons a recuperar bolas, e penso que, por vezes, isso também é algo que é necessário na equipa para criar o equilíbrio certo. É claro que são necessários alguns artistas, alguns jogadores que façam a diferença no ataque, mas também precisamos de jogadores que nos ofereçam a estabilidade necessária para jogar um bom futebol tático. E o Niklas Beste é um jogador que jogou as duas últimas épocas a um nível muito elevado, tem um pé esquerdo fantástico na finalização, nas bolas paradas, nos cruzamentos, e é muito poderoso também nos sprints e nas corridas de alta intensidade. Acho que estes jogadores são capazes de jogar o futebol que nós queremos jogar. Foi por isso que os escolhemos para o Benfica.
T: Apenas referir aqui Di María, que acaba de ser o melhor jogador da final [da Copa América]…
RS: Estou muito feliz pelo Ángel [Di María]. Começou no Benfica e regressou ao Benfica. Esta é uma história fantástica de futebol, na minha opinião, porque ele poderia fazer tantas coisas diferentes. Podia ter ido atrás de mais dinheiro. Muitos jogadores tomam decisões diferentes, mas ele tomou a decisão de voltar ao clube onde tudo começou na Europa. E acho que isso diz tudo sobre o seu carácter. Se o vissem todos os dias nos treinos… Gosto muito de o ver porque ele é um exemplo para todos os jogadores, para os jogadores que estão a crescer e que observam um jogador que já teve uma carreira fantástica, mas que ainda quer ganhar em todos os treinos. Está muito motivado e continua a jogar ao mais alto nível. E acho que ele nos dá tanta, tanta qualidade e mentalidade. Na minha opinião, quando vemos os torneios europeus e também a Copa América, se virmos as equipas vencedoras, essas são sempre as equipas que jogam muito bom futebol, mas que têm também uma mentalidade muito especial. A Espanha foi, sem dúvida, a melhor equipa do Europeu. E se virmos a Argentina, ganhou a Copa América, ganhou o Campeonato do Mundo e voltou a ganhar a Copa América. Portanto, em quatro anos, ganharam tudo contra as melhores equipas do mundo em jogos muito, muito disputados, com muito poucas situações claras durante o jogo, mas no final ganharam sempre. E, para mim, isso é uma questão de mentalidade.
T: Ao longo da minha história dentro do Benfica tive grandes, grandes Presidentes. Nesta altura, abriu-se um novo ciclo novo porque passámos a ter um Presidente que foi antigo jogador. O Rui Costa foi um jogador extraordinário. O Maestro. Tudo aquilo, o último passe, a finalização, a qualidade técnica… Um Presidente jogador, coisa que não existia nestes anos que passei enquanto jogador e treinador no Benfica. Como é que é a relação que há entre o Rui Costa Presidente, mas jogador? Vocês discutem opções, futebol… Penso que deve ser uma coisa normal, não é?
RS: Claro que falamos muito sobre futebol, sobre o Benfica e também sobre tudo o que se passa no futebol. Para ser sincero, gosto muito de trabalhar com o nosso Presidente porque, antes de mais, ele é uma ótima pessoa. Em segundo lugar, foi um grande jogador. Também o segui quando ele jogava. Na minha opinião, é um Presidente fantástico. Agora sei o que significa ser presidente do Benfica, não é um trabalho fácil. É ainda mais difícil do que ser treinador. Mas ele assumiu essa responsabilidade. E porquê? Porque ama o Clube. Está a trabalhar mesmo muito. Claro que temos de falar sobre o plantel, sobre os nossos jogadores e sobre o desenvolvimento dos jogadores. Quando falámos no início sobre vir para o Benfica, havia duas tarefas para mim: a primeira era ganhar títulos, e a segunda era desenvolver jovens jogadores. Gosto muito de trabalhar com os jovens jogadores e de lhes dar a oportunidade de aparecerem e de crescerem, e, claro, também por causa dos Benfiquistas, que adoram vê-los no estádio. E acho que tivemos exemplos muito bons nos últimos dois anos com jogadores que foram desenvolvidos desde o Benfica Campus até à equipa principal. Mas, no geral, trabalhar com o nosso Presidente é uma grande honra, e aprecio-o como pessoa, como especialista em futebol e também como ser humano.
T: E do futebol português? Do que é que gosta mais e do que gosta menos?
RS: O que eu gosto ou o que vejo no futebol português é que o Campeonato é mais forte do que as pessoas pensam. Não é fácil jogar nesta liga, também para o Benfica. Ser campeão é um trabalho árduo e um grande desafio, porque se quisermos ser campeões precisamos de 85 a 90 pontos, o que significa que temos de ganhar quase tudo. E, claro, temos os jogos grandes contra o FC Porto, contra o Sporting, contra o SC Braga, contra o Vitória SC, e toda a gente sabe que não é fácil jogar contra eles. Mas a minha sensação e a minha experiência no Benfica, neste Campeonato, diz-me que também os outros jogos são exigentes. Não é fácil jogar contra as outras equipas porque têm muito bons treinadores. Têm jogadores muito bons, que tornam as coisas sempre difíceis para todas as equipas. E acho que isso é algo de que gosto muito na Liga portuguesa. O que não gosto é que, por vezes, temos de jogar em estádios pequenos, mas na verdade não é mau de todo porque temos os estádios sempre cheios de Benfiquistas. No fim do dia, sinto-me muito feliz aqui. Quando o Clube, há um ano, falou em renovar o contrato por mais dois anos, fi-lo com convicção, porque gostamos muito de estar aqui neste país. E eu, claro, adoro fazer parte do Benfica, mas também gosto do meu trabalho aqui em Portugal. Vejo-o como um grande desafio, porque se joga por títulos na liga ou nas outras competições nacionais. E podemos jogar a Liga dos Campeões. É o mais alto em que se pode trabalhar como treinador. E é por isso que estou muito feliz por fazer parte do futebol português.
T: Quer como jogador quer como treinador, sabemos que vivi momentos de grande euforia, como vivi também momentos alguns em que a crítica, o assobio, enfim, as vaias… Eu vivi uma situação como jogador, quando estava já na parte final da minha carreia no Benfica, onde, depois de oito Campeonatos ganhos, fiz um passe errado e saiu um coro de assobios, até que o treinador me tirou. No estádio antigo havia um túnel de acesso, e aí não chorei lá dentro, chorei no… Porque o futebol tem este lado também cruel, não é? O míster como treinador já viveu, ao longo destes dois anos, momentos em que o apoiavam e momentos em que houve reações adversas que são motivadas pela parte muito emocional com que o jogo é vivido. Vai partir para uma nova época numa relação que… Eu penso que o adepto do Benfica é um adepto muito especial, muito exigente, mas ao mesmo tempo que sabe que nunca vai estar sozinho. Nunca caminhará sozinho com os seus jogadores.
RS: Há sempre uma relação com os adeptos, mas aqui no Benfica é muito especial. Para ser sincero, acho que tive muita sorte porque o início no Benfica foi muito positivo. Ganhámos muitos jogos na pré-época, no Campeonato e também na Liga dos Campeões. Estivemos bem, por isso, a minha primeira impressão dos adeptos foi fantástica. Fiquei muito impressionado com tudo, com o ambiente no estádio e tudo o resto. Mas depois, claro, já na primeira época, tivemos também alguns momentos em que tivemos dificuldades, e numa semana perdemos três jogos, contra o Inter de Milão, um jogo contra o FC Porto, em casa, e a seguir, em Chaves, tivemos muito azar. E depois tive a primeira impressão do que significa perder jogos e, para ser sincero, fiquei muito surpreendido, talvez chocado com toda a reação, porque já tínhamos ganho tudo antes. Fizemos uma grande época, na Liga dos Campeões também, perdemos um jogo. Estavam muito descontentes connosco, protestavam e vaiavam, mas penso que o início para mim foi importante para saber que eles podem agir de forma diferente. No fundo, isto é o Benfica. Sinto que, como treinador ou jogador, temos de lidar com isto. As expectativas dos adeptos estão sempre aqui e não aceitam uma menor qualidade. Ou, como disse, quando passas uma bola ao adversário, talvez aceitem na primeira vez, mas na segunda já fica perigoso. Acho que tive bons momentos no Benfica, mas são os momentos difíceis que nos fazem compreender o Clube e os adeptos. Por vezes o ambiente no estádio é muito particular, mas acho que isso faz parte. Lido bem com isso. Tal como os jogadores também têm de lidar. Temos de nos concentrar no trabalho. A única coisa a fazer para criar um ambiente positivo é ganhar jogos e jogar bom futebol. É isso que temos de fazer. Vamos trabalhar muito na pré-época, pois vamos ter uma época muito dura. Depois, vamos dar tudo em cada jogo e, jogo a jogo, temos de lutar pelos títulos. Sabemos que os nossos adeptos podem fazer a diferença. E claro, espero que todos os Benfiquistas possam estar aqui na próxima época, com a equipa, para lutarmos juntos pelos títulos.
T: Míster, para mim foi um prazer enorme falar um pouco daquilo que é ou do que tem sido o seu trajeto aqui no Benfica. Espero que tenha uma época de sucesso, porque o seu sucesso será o meu e o sucesso de milhares e milhares de adeptos. Por isso, muita sorte. Sei que tem muito trabalho pela frente, e espero que alcance os seus objetivos, que são os nossos objetivos. Muito obrigado.
RS: Muito obrigado. Também foi um prazer para mim. E ajudou-me muito, Toni, porque se os adeptos também o vaiaram, por vezes, por causa de um passe falhado, então nenhum dos outros jogadores se pode queixar. E eu também não me vou queixar.