Paulo Futre: “O Pochettino seria o único estrangeiro com quem falaria”
Paulo Futre respondeu, hoje, no Record, a duas questões de dois adeptos.
A continuidade de Luís Filipe Vieira no Benfica está em perigo? Pode perder as eleições? VÍTOR SOUSA, LISBOA
No início dos anos 90 estava no Atlético Madrid e era ainda um dos melhores do Mundo. Quando vinha a Portugal passava dois/três dias no Montijo e dos mil convites para jantar só podia ir a dois e um deles era sempre com o meu pai desportivo, o homem que me descobriu, Aurélio Pereira. Num desses jantares, no verão de 1991 ou 92, quando entrei no restaurante vi que estava lá o seu irmão (Carlos Pereira), então treinador do Alverca, e o presidente do clube – que me queria conhecer – Luís Filipe Vieira. A nossa amizade, que dura até hoje, começou aí.
Digo isto, Vítor, porque para mim é o melhor presidente da história do Benfica. Pelas perguntas, calculo que sejas benfiquista, estejas aborrecido com a situação atual e talvez consideres o presidente o grande culpado. Como muitos, antes do último clássico, deves ter pensado: “Se ganhamos no Dragão, ficamos com 10 pontos de avanço e seremos quase campeões em fevereiro”. Nessa altura, o presidente que tinha feito aquele plantel era o maior, agora é diferente. É sempre assim.
Neste caso, se recuarmos a 2003, quando o Luís Filipe foi eleito, verás que o Benfica estava no pior momento da sua história. O Google está repleto de declarações de antigos dirigentes que recordam a época de Vale e Azevedo. Destaco uma de José Manuel Capristano, o homem forte do futebol na altura: “Mais do que uma lição, aprendemos que também se elegem aventureiros. O clube teve a sorte de ter apanhado homens como Vilarinho e Vieira, que transformaram ruínas num castelo”. É preciso ver os títulos que ele alcançou depois de o clube ficar economicamente estável: só campeonatos foram seis numa década!
E há o património, da Luz ao Seixal, uma das melhores cidades desportivas do Mundo. Quando ele entrou, não havia dinheiro para dois cafés. Em 2019, assegurou aos ‘tubarões’ que o Félix só sairia pela cláusula. Recentemente, por causa da Covid, até o Barcelona reduziu 70% dos salários dos jogadores e o Benfica… zero! Por tudo isto, Vítor, acho que vais dizer, enquanto benfiquista, o mesmo do teu presidente que eu digo do meu amigo: o Luís pegou no clube no inferno e meteu-o no paraíso.
Faz sentido o Benfica estar à procura de treinadores estrangeiros, existindo portugueses com tanta qualidade? RUI GOMES, MASSAMÁ
Os treinadores portugueses têm mesmo uma qualidade incrível. Sinto grande orgulho de ver o trabalho deles no estrangeiro e também gosto de observar os grandes de Portugal com técnicos nacionais. Agora, se o projeto dos próximos quatro anos do Benfica é tentar tudo para estar mais perto dos grandes europeus e até pensar numa final internacional, tens de ver todas as soluções.
Nesse caso, e como está hoje o mercado, o Pochettino seria o único estrangeiro com quem falaria. Esteve na final da Champions de 2019 e conhece o caminho para lá chegar. Mas só tomava uma decisão quando esgotasse todas as possibilidades de trazer a minha primeira opção. Mesmo para um projeto desta dimensão, acredito que a máquina estaria perfeita em apenas dois anos se à frente estivesse um génio português… Jorge Jesus!