Philipp Lahm escreveu um artigo para o site, “Goal”, onde analisou o último Campeonato da Europa. E voltou a mostrar a sua inteligência e senhorio:
“Estimados adeptos de futebol,
Passaram três dias, desde o final do Euro 2016.
De uma perspectiva pessoal, foi a primeira vez que pôde ver um grande torneio como adepto desde 2002, o que significa que eu apenas podia relaxar e apoiar a minha Alemanha, em vez de ter de lidar com as pressões de ser um futebolista da selecção nacional.
Este sentimento de estar desprendido, de estar de fora uma vez mais, lembrou-me uma verdade básica, mas fundamental:
O futebol é um jogo.
E como o lendário Sepp Herberger (campeão do Mundo pela Alemanha em 1954) disse uma vez:
“As pessoas só vão ver um jogo de futebol, porque elas não sabem como é que ele vai acabar.”.
É esta imprevisibilidade, que mantém o futebol excitante e faz com que cada jogo seja uma nova experiência. Os Campeonatos Europeus e os Mundiais, tornaram-se eventos enormes e que são vividos em comunhão. Estás em comunidade, estás em casa, num pub ou num jardim, podes comer, beber com amigos, e ver os jogos em comunhão. Quer seja, usando camisolas, acenando bandeiras, entoando cânticos, ou apostando nos jogos, toda a gente sente uma ligação com a sua equipa. A tensão só aumenta, o que significa, que ou vais experimentar uma grande felicidade ou uma amarga decepção.
Ambos os sentimentos são parte integrante desta experiência. Por isso, tu tens vencedores e vencidos, até no meio de um grupo de espectadores.
Então, voltar a experimentar esta forma de me identificar com uma equipa, depois de tantos anos vivendo como parte integrante de uma, foi verdadeiramente agradável. Até me recordei dos meus dias, em que jogava nas camadas jovens. Ainda estarias repetindo o último jogo na tua mente, enquanto estavas na academia do clube vendo os profissionais jogarem na televisão. A beleza destes jogos e destes torneios, é o facto da diferenças serem muito pequeninas. O resultado final de cada situação, está por decidir. Tu vês o que os futebolistas vêem, e formulas as tuas próprias soluções na tua cabeça. Depois, vês como eles executam as deles. Desta forma, estás envolvido em algo, durante 90 minutos, ou mais tempo, preso ao que testemunhaste.
Neste Euro, nações como o País de Gales, a Irlanda do Norte e a Islândia, entusiasmaram-me e revigoraram-me.
E não foi porque elas jogaram um futebol fantástico, mas porque jogaram com coragem e união, contra equipas mais favoritas, impressionando com as suas próprias filosofias de futebol, apesar de enfrentarem equipas mais poderosas. Elas lutaram contra algumas das maiores estrelas deste jogo e fizeram frente a países com mais força, com melhores infraestruturas desportivas.
Foi muito divertido de ver. O futebol precisa deste tipo de paixão.
Este tipo de coração, permite a equipas mais pequenas tornarem-se grandiosas e maiores do que a soma das suas partes, e superarem equipas que supostamente são superiores. É claro, que a sorte tem sempre o seu papel, a Islândia teve alguma sorte contra a Inglaterra, mas eles mereceram a sua vitória. É uma história similar, no jogo entre a França e a Alemanha.
O futebol é imprevisível. É um jogo. A fortuna é sempre um factor. E isso, é uma coisa boa, porque significa que uma pessoa nunca pode prever com um grande grau de certeza, o desfecho de cada jogo ou torneio.
O vencedor afortunado de 2016, foi Portugal, o que significa que o troféu de Campeão Europeu, pertence agora, a um país que há muito tempo produz grandes futebolistas.
Estes jovens talentos portugueses, não viajaram juntos para o topo do futebol internacional por coincidência ou apenas cavalgando na sua sorte. Eles perceberam o seu sonho, através do talento, trabalho duro e disciplina, com Renato Sanches a ser um exemplo perfeito disso. É claro, que até os melhores futebolistas podem ficar impotentes, perante as vicissitudes do destino. Não é a equipa mais trabalhadora que vence, mas a que tem mais sorte. E eu gosto disso.
Faz com que cada sucesso, seja ainda mais precioso, e o momento da vitória indescritível. Acreditem em mim, eu sei do que falo. Senti isso quando levantei no Brasil, a taça do Mundial de 2014.
Naquele momento, já não tem nada a haver com a longa e árdua campanha que tiveste de ultrapassar, mas sim, com saborear o momento e desfrutar da tua boa fortuna.
Por isso, eu gostaria de endereçar os meus mais sinceros parabéns aos Campeões Europeus de 2016, Portugal.
Philipp.”.