O mercado de transferências está fechado até janeiro e o Benfica ataca o Bicampeonato com 29 jogadores. O Site Oficial falou com alguns especialistas (três treinadores e um ex-jogador) para analisarem à lupa o plantel, no seu todo e sector a sector.
Carlos Brito, Manuel Cajuda, João Carlos Pereira e o antigo lateral/extremo Luís Filipe examinaram ao pormenor as características e os pontos fortes do grupo de trabalho benfiquista.
Um dos aspetos incontornáveis nesta avaliação é a aposta clara – e bem-sucedida – que tem sido feita nos talentos do Clube, formados e desenvolvidos no Seixal. Bruno Lage tem ao seu dispor nove atletas provenientes dos escalões de formação dos encarnados e esse caminho foi bastante valorizado. Aliás, essa aposta verifica-se, ainda, na média de idades do plantel: 24 anos, um dos mais jovens da Liga NOS.
Formação: aposta positiva do Benfica
Os três treinadores falaram da coragem que o Benfica teve em mudar de paradigma e apostar na prata da casa. Para Carlos Brito, treinador, de 55 anos, as águias são quem melhor proveito faz do seu centro de formação.
“Por princípio, o Benfica, tal como Sporting e FC Porto, sempre foram equipas que apostaram nas camadas jovens. O que me parece é que no Benfica há uma diferença: não só aposta na formação como lança os jovens. Todos têm academias, mas temos de analisar é quem tira proveito. O Benfica está a conseguir conciliar as duas coisas: bom trabalho no Caixa Futebol Campus e fazê-los chegar à equipa A. O Benfica está a ter o retorno da aposta nas camadas jovens”, sublinhou.
Manuel Cajuda, abordado pelo Site Oficial, considerou a formação “o verdadeiro viveiro do futebol”.
“O BENFICA ESTÁ A CONSEGUIR CONCILIAR O BOM TRABALHO NO CAIXA COM O PÔR JOVENS NA EQUIPA A”: CARLOS BRITO
“A formação é o verdadeiro viveiro do futebol. Se há no futebol português uma coisa que não falta no Benfica é talento para treinar talentos. Deve apostar-se na formação”, aconselhou.
Ex-coordenador da formação na academia Aspire Catar, João Carlos Pereira lembrou que o projeto dos encarnados tem de ser enaltecido.
“Vendo de fora, o plantel do Benfica está alinhado com o projeto desportivo e com a filosofia de aproveitamento dos jogadores da formação. É notória a intenção de valorizar e aproveitar os jogadores que são formados no Clube. Este é um projeto que tem de se enaltecer porque na realidade são muito poucos os clubes que conseguem aproveitar os recursos desenvolvidos dentro de casa”, reconheceu.
Boas soluções para todas as posições de campo
Com 29 jogadores no total, 83% de internacionais – seleções A e jovens – e com cerca de 80% dos atletas a saberem o que é ser Campeão pelo Clube, seja na Formação ou nos Seniores, o Benfica confirma o selo de qualidade do grupo de trabalho e ataca todas as frentes com ambição. Para Carlos Brito, Manuel Cajuda e Luís Filipe é absolutamente imprescindível esta competitividade existente no plantel.
Carlos Brito considerou que, “para o Campeonato português e restantes competições, o Benfica é o clube que tem mais soluções“.
Já Manuel Cajuda frisou que “ao nível da competitividade, o plantel está muito bom“. “Ter competitividade é um bom primeiro passo para que todos deem o seu melhor por um lugar”, acrescentou o técnico.
Luís Filipe foi jogador de futebol durante várias temporadas e a sua experiência diz-lhe que é importante ter várias soluções de valia para todas as posições no terreno de jogo.
“O facto de o Benfica ter soluções para todas as posições é absolutamente benéfico para a equipa. São as chamadas boas dores de cabeça para o treinador. Um clube como o Benfica tem de ter boas soluções em todas as posições mesmo que alguns não joguem”, apontou.
Estabilidade e continuidade como fatores de sucesso
Praticamente todos os jogadores e o treinador permaneceram na Luz. Da equipa titular que fechou a época da Reconquista, apenas João Félix e Salvio saíram e Jonas terminou a carreira. Este é um pormenor que pode pesar na hora das decisões.
“A estabilidade do plantel e a continuidade do treinador são claras mais-valias para o Benfica para a nova temporada”, afirmou Carlos Brito.
Manuel Cajuda seguiu pelo mesmo diapasão do colega de profissão e completou considerando um “ato de inteligência por parte da gestão do Benfica”.
“TER PRATICAMENTE O MESMO PLANTEL É UM ATO DE INTELIGÊNCIA”: MANUEL CAJUDA
“Em termos da continuidade, o facto de ser praticamente o mesmo plantel da época passada, é um ato de inteligência por parte da gestão do Benfica. Foi Campeão com mérito e a continuidade é algo excelente”, enfatizou.
João Carlos Pereira lembrou que há a adaptação normal para quem chega de novo, mas adiantou que a capacidade organizativa do Benfica enquanto clube vai ajudar.
“O Benfica já tinha uma equipa forte e vai continuar a ter. Há jogadores que ainda precisam de se adaptar, mas, com o tempo e o trabalho desenvolvido, as coisas vão chegar a um rendimento ótimo. A vantagem do Benfica é que é um clube bem organizado. Não tem necessidade de estar constantemente a mudar os seus projetos e novas estruturas técnicas”, analisou.
Baliza
Bruno Lage manteve a aposta e confiança nos três guarda-redes que terminaram 2018/19. Com 22 anos de média, a baliza é o local do campo com os futebolistas mais jovens.
Neste particular, Odysseas, internacional A pela Grécia, onde chegou como jogador das águias, e pelas seleções jovens da Alemanha, mereceu rasgados elogios dos técnicos Carlos Brito e João Carlos Pereira.
“O Odysseas tem sido uma grande mais-valia”, disse Carlos Brito sobre o grego.
João Carlos Pereira ficou impressionado pela qualidade evidenciada pelo camisola 99.
“O Odysseas foi um jogador que me surpreendeu. Ele está num bom momento de forma”, admitiu.
Defesa
Dois dos capitães da equipa – Jardel e André Almeida – e quatro elementos da formação integram uma defesa que apresenta soluções para todos os gostos e uma média de idades na ordem dos 24 anos. Manuel Cajuda, João Carlos Pereira e Luís Filipe consideram que qualidade não falta no sector mais recuado.
“O Benfica tem muita capacidade técnica no sector defensivo. Do André Almeida ao Grimaldo, passando pelos dois defesas-centrais que jogam e mesmo os que não têm jogado tanto [Jardel e Conti], a qualidade é muito grande”, analisou Manuel Cajuda.
“UM CLUBE COMO O BENFICA TEM DE TER BOAS SOLUÇÕES EM TODAS AS POSIÇÕES”: LUÍS FILIPE
O ex-coordenador geral da Aspire Catar, João Carlos Pereira, realçou a dupla de centrais e um lateral bastante ofensivo.
“O Rúben e o Ferro fazem uma ótima dupla e há que aproveitar a sua juventude e a sua irreverência. O facto de se manter o Grimaldo, para mim, é uma vantagem tremenda“, destacou.
Luís Filipe fez grande parte da carreira como defesa-direito e no momento da análise não esqueceu… André Almeida.
“O André [Almeida] é um dos laterais-direitos da equipa e, não havendo a possibilidade de jogar, é normal que haja uma adaptação. É sempre mais fácil adaptar um lateral, mesmo que esteja a jogar com o pé contrário, porque já conhece as rotinas”, recordou ao falar da titularidade Nuno Tavares no lado direito da defesa nos quatro primeiros encontros oficiais da temporada.
Meio-campo
Este é o sector mais experiente (média de 25 anos) e onde, segundo Carlos Brito e Manuel Cajuda, o Benfica tem várias e muito boas soluções, que permitem a Bruno Lage bastante variedade do ponto de vista tático.
“Ter Fejsa é bom para o equilíbrio de um sector como o meio-campo. É sempre uma solução em caso de lesões. O Benfica tem conseguido dar uma boa capacidade de resposta com jovens. O meio-campo tem várias soluções, nomeadamente para o miolo”, vincou Carlos Brito.
“O meio-campo do Benfica tem qualidade a mais [risos]. Tem jogadores que permitem ao treinador atuar em vários sistemas táticos ou com dinâmicas diferentes”, elevou Manuel Cajuda.
Ataque
Com uma média de idades perto dos 24 anos, o quarteto do ataque (Seferovic, Raul de Tomas, Vinícius e Jota) oferece soluções para táticas e dinâmicas diferenciadas. Manuel Cajuda e Luís Filipe reconhecem que o Benfica soube ultrapassar as saídas de João Félix e Jonas.
“UMA DAS VANTAGENS DO BENFICA É SER UM CLUBE ORGANIZADO”, JOÃO CARLOS PEREIRA
“O sector ofensivo está muito bem servido individualmente“, considerou o treinador de futebol.
Já Luís Filipe sublinhou que “o Benfica foi cirúrgico nas contratações que fez“. “Contratou para as posições que precisava, sobretudo para o ataque, depois das saídas de Jonas [fim de carreira] e João Félix [transferido para o Atlético de Madrid]”.