LFV: «PODÍAMOS TER CHEGADO À FINAL DA LIGA DOS CAMPEÕES»
RECORD – Foi a vitória em Alvalade que levou o Benfica à liderança. Acreditou nessa noite que já não voltaria a sair do 1.º lugar?
LUÍS FILIPE VIEIRA – Não fui eu… Acreditámos todos que mais ninguém nos apanharia. Tínhamos a noção que dificilmente iríamos perder um jogo. Tivemos algumas dificuldades… Não vamos esconder que depois de jogarmos com o Bayern Munique criou-se uma onda até especulativa, porque as pessoas desconhecem como vivemos aqui dentro. Reparem que quando saiu o Bayern muitos nos deram como vencidos e eu posso garantir que pensámos sempre em eliminar o Bayern Munique. É natural que depois dos jogos, e da forma como eles correram, houvesse uma pequena desilusão nos jogadores, porque estavam convencidos de que este ano iriam chegar à final. O certo é que tivemos uma quebra de ritmo provocada por isso, já que a equipa ficou desiludida por sentir que tinha condições para eliminar o Bayern. Curiosamente, o maior elogio que recebemos foi de Pep Guardiola, que interiorizou no seu grupo que seria muito difícil passar o Benfica. E foi mesmo.
R – Estava à espera desse comportamento do Benfica ou é essa a linha que quer manter sempre na Liga dos Campeões?
LFV – A bitola do Benfica tem de ser esta, sempre! Não queremos só ter o nome na Europa, temos de provar dentro do relvado que o temos. Há sempre uma grande preocupação em relação aos jogadores que vamos vender, mas o que é certo é que sabemos repor e com qualidade. Por vezes pode haver uma falha ou outra, mas isso é a lei da vida. Agora, fazemos tudo a pensar no que é o melhor para o Benfica.
R – Quando assistiu há dias ao Real Madrid-At. Madrid, em Milão, passou-lhe pela cabeça que o Benfica poderia estar ali, naquela final?
LFV – Passou, passou! Estávamos convencidos de que o Benfica ia lá chegar! Tínhamos de pensar nisso jogo após jogo, mas quem viu a postura que o Benfica teve na fase de grupos e depois na passagem dos ‘oitavos’ para os quartos-de-final, percebeu que podíamos ter lá chegado.
R – Na final estava em campo uma das equipas que o Benfica derrotou na fase de grupos…
LFV – Estávamos preparados para tudo! E vejam quantos jovens estavam em campo quando o Benfica terminou o jogo com o Bayern Munique, na Luz. Por acaso, o Guardiola reparou bem nesse caso inédito: terminámos esse jogo com 6 jogadores com menos de 23 anos.
«Nunca me passou pela cabeça ficar estes anos todos como presidente»
R – Museu, centro de estágio ou o estádio. Qual é a obra que sente mais como sua?
LFV -As obras são todas do Benfica, não são minhas. Logicamente, quando eu me for embora as pessoas vão dizer que foi no meu mandato que se fez isto, foi no mandato de Vilarinho que se fez aquilo, etc. O que interessa é que as obras são do Benfica. Não sei se é pelas minhas origens ou se foi pela minha maneira de estar, a realidade é que nunca me passou pela cabeça passar estes anos todos como presidente. Chega-se a uma fase em que, às tantas, uma pessoa começa a pensar: ‘Epá, ainda falta fazer isto, ainda é preciso fazer aquilo…’ O Benfica absorve-nos de tal maneira que se esquece a outra parte empresarial, que se esquece a família… e não é fácil (emociona-se).
R – Como é que se resolve?
LFV – Há momentos em que ‘bate’ forte. O meu neto anda a fazer vela e ainda esta manhã a minha mulher dizia: ‘Um dia destes tens que levar o Santiago à vela, porque ele já pediu.’ Tenho de ter tempo para fazer isso, mas tenho mesmo. E também é preciso lembrar que vou fazer 67 anos em breve…