Quem nunca ao longo da sua vida, assobiou, apupou e até mostrou lenços brancos a jogadores e treinadores de futebol? Apesar dos alvos preferidos serem normalmente os adversários, vários dos atuais atletas do plantel do Benfica poderão testemunhar quanto ao grau de exigência da massa associativa que os acompanha.
Tenho uma confissão a fazer. Como todos aqueles que visitam estádios com frequência, já cometi excessos, mas o futebol é um desporto de emoções fortes. Ora, para o recém-chegado selecionador nacional, os assobios a um jogador revelam uma suposta doença dos adeptos. Assim sendo, só posso chegar à conclusão de que sou doente pelo Benfica.
Se formos a aceitar a ideia de que o nosso futebol está doente, resta uma questão fundamental: de quem é a culpa? Quem são os responsáveis de termos chegado até aqui? Serão aqueles que assobiam um jogador que tentou agredir colegas de profissão, insultou os adeptos de clubes rivais e faz diversas simulações para tentar expulsar colegas do jogo? Ou, pelo contrário, serão aqueles que continuam a utilizar a conquista de um Europeu há meia dúzia de anos como disfarce para o estado do futebol em Portugal?
Sim, o futebol português está repleto de situações doentes. Doente é uma equipa desrespeitar o regulamento disciplinar da FPF e não ser punida. Doente é uma criança não poder entrar num estádio com um equipamento do Benfica. Doentes são os preços de bilhetes que os adeptos têm de pagar em cada deslocação fora, perante passividade das autoridades responsáveis. No meio de tudo isto, para os responsáveis da Federação, a única doença parece ser a possibilidade de Otávio, que precisa de ser vendido para equilibrar as contas do seu clube, não jogar. Lições sobre doenças? Seguramente não as receberemos de nenhum responsável da FPF.
Aos poucos, torna-se evidente que verdadeira doença é não questionar esta seleção, que parece estar cada vez mais distante dos portugueses. Caso o Presidente da Federação tenha dúvidas, basta-lhe subir ao relvado para ver a reação que lhe é reservada pelos seus compatriotas. E muito provável que, perante assobiadela, tenha de acabar a chamá-los doentes.
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