O Aves-Benfica, da 33.ª jornada da Liga, agendado para esta terça-feira, às 21.15 horas, está em risco de não se realizar. Um cenário que, a concretizar-se, será rude golpe na já empobrecida imagem do emblema de Santo Tirso – nos últimos tempos acumularam-se as rescisões de contrato devido a incumprimentos salariais -, condenando, igualmente, a credibilidade da competição.
A hipótese de não realização do desafio começou a ser levantada ao início da tarde de ontem, depois de se conhecer a intenção da SAD do Aves, liderada por Wei Zhao e Estrela Costa, de impedir a equipa dirigida por Nuno Manta de treinar e de não cumprir o protocolado com a Direção-Geral da Saúde, que obriga à despistagem para Covid-19 a 48 horas e a 24 horas antes de cada compromisso oficial. De acordo com a vogal executiva da sociedade, a anulação do seguro desportivo sustentou a decisão, que abrangerá também o desafio com o Portimonense.
«A SAD estava a fazer esforços para ultrapassar esta situação, mas hoje [ontem], por volta da hora de almoço, pedimos para serem cancelados os treinos. No passado dia 17, através dos Seguros Caravela, fomos notificados de que a apólice estaria anulada. Estamos impedidos de fazer jogos por não ter apólice de seguro de trabalho. O regulamento de competições não permite efetuar sequer treino ou jogo sem seguro, por causa de possível acidente de trabalho. Não reunimos a verba para pagar os seguros e não compareceremos aos seguintes jogos e cancelámos os treinos. Isto é um motivo de força maior. Não podemos fazer nada. Enquanto esta situação não estiver resolvida não podemos entrar em campo», alegou Estrela Costa, em declarações a A BOLA TV.
António Freitas, presidente do clube, envolveu-se no processo e desmentiu a SAD. «O dr. Pedro Proença e a dra. Sónia Carneiro, da Liga, prontificaram-se a ajudar, na sexta-feira, em reuniões nas quais estive presente. Conseguiram que fosse possível que alguém ficasse responsável pelo pagamento dos seguros. Criaram-se condições para que o Aves chegue ao fim do campeonato», afirmou, mostrando-se incomodado por Estrela Costa «inventar razões para inviabilizar os dois próximos jogos» – «não sei com que razões…»
Os futebolistas, mesmo assim, compareceram no estádio equipados para se treinarem – ultrapassando as decisões da SAD -, estiveram com a equipa técnica e conversaram com António Freitas que os sensibilizou para a necessidade de dignificarem o clube e para a integridade da prova.
«Disseram-me que estão disponíveis para ir a jogo. Se não estivessem nem sequer tinham feito os testes ao Covid-19. Frisaram que isso só acontecia pelo respeito muito grande que têm pelo clube e pelo seu historial, não pela SAD», sublinhou o presidente.
Mais tarde, o plantel cumpriria os exames no pavilhão contíguo, cedido pelo clube, pois as instalações da SAD tinham sido, entretanto, encerradas. Evitou-se, assim, que, desde logo, o jogo com o Benfica ficasse comprometido. Mas hoje novo está prometido novo impasse: há treino agendado para a tarde e o rastreio ao Covid-19 terá de ser repetido.
António Freitas ainda deixou um desabafado: «Essa senhora [Estrela Costa] devia ter vergonha de entrar nesta terra e neste estádio. Essa senhora e Wei Zhao, que não manda nada, pois ela é que me disse que articula tudo isto. Não quero criar problemas senão ela não saía do estádio. O povo é sereno e promete-me que daqui a pouco vai embora em paz.»
O que ainda resta de tranquilidade na Vila das Aves está ameaçado, pois no ar pairou a suspeita de a SAD não abrir as portas do estádio para a realização do encontro. «A tolerância tem limites. Aí deixo de procurar conter as pessoas. Não quero confusões, mas a paciência tem limites», atirou António Freitas.
Recorde-se que de acordo com o Regulamento Disciplinar, o Aves, se não for a jogo e o caso for enquadrado como falta de comparência, além de multa, «será punido com a sanção de derrota no jogo a que não compareceu e subtração de todos os pontos até então obtidos na competição» por se tratar de um dos três últimos jogos do Campeonato.