Crónicas de Leonor Pinhão: "Los árbitros ahora ya no quieren escutar mis consejos matrimoniales"
Por tudo o que Mourinho disse, o próximo campeonato português não vai ser só futebol. Vai meter também política social. Carrega Benfica dos pobrezinhos, a carregar desde 1904!
O novo presidente de Iker Casillas – a quem em Espanha já chamam -el Florentino portugues- concedeu uma longa entrevista ao diário espanhol El País mas houve partes da conversa que ficaram de fora do registo transcrito como, aliás, acontece em quase todas as entrevistas.
Por ser do interesse público, partilhamos com os estimados leitores a versão integral da supracitada entrevista presidencial que nos chegou pelo correio enviada sabe-se lá por quem com as melhores intenções.
Foi assim:
– Confias en Julen para devolver al Oporto la gloria perdida, don Jorge? – começou por perguntar o jornalista,
No primer año no ganhou nada pero estou satisfeito,
– Como puedes estar satisfecho si na gañaste nada, don Jorge? Ni parece cosa tuya…
– O que quieres que yo diga? Las árbitros se unieram contra nosotros. Ahora ya no quieren escutar mis consejos matrimoniales…
– Que lastima, don Jorge!
– Puedes creer! Imagina-te que en la Liga un estudo sobre el arbitrage demonstró que ele Benfica fue favorecido en 7 puntos.
– Un estudo? Y quien hizo esse estudo en la Liga?
– El doctor Fernando Madureira que, Dios queira, será el brazo derecho del doctor Pedro Proença en la futura dirección de la Liga.
– El doctor Proença és el antiguo árbitro, don Jorge?
– Esse mismo.
– Pues no sabia que em médico.
– Es el mayor cirúrgico del mundo y alrededores.
– Puedo por lo tanto concluir que vas com Lopetegui y com ele doctor Proença hasta al fin del mundo, don Jorge?
– Hasta al fin del mundo y alrededores!
– Mucho cuidado com los alrededores, don Jorge, para no perder outra vez puntos en casa con el Boavista…
E a conversa abruptamente acabou aqui.
O Benfica começou a temporada a perder em Toronto com uma segunda equipa do Paris Saint Germain e eu gostei. Não que goste de ver o Benfica perder. Mas gostei de uns bons bocados de toda a primeira parte em que os campeões nacionais se aplicaram com mais das que a vivacidade possível depois de uma longa viagem terminada a menos de 24 horas do início do jogo.
Gostei também do regresso de Talisca ao seu futebol e aos golos e da conclusão da jogada do segundo golo do Benfica com Gaitán a servir Jonas na perfeição e Jonas a marcar. Estes encontros da pré-temporada servem para o treinador tirar conclusões, para os novos jogadores mostrarem o que valem, para os comentadores se atirarem a veredictos e para os adeptos se enervarem. Ou antes pelo contrário, para não se enervarem. É o meu caso. Também conheço benfiquistas -tão benfiquistas como os demais- para quem os jogos da pré-temporada servem um propósito estratégico da maior importância. Que é de perder, o de perder todos os jogos e de preferência por largas cabazadas enquanto a competição não começar a sério e a valer pontos. E é por amor ao clube que fazem votos para que todas as desgraças se abatam sobre a equipa nestes joguinhos de verão. E dão exemplos, até bem recentes:
– Mas alguma vez o Benfica tinha ido buscar o Júlio César e o Jonas já com a época a correr se a última pré-temporada tivesse sido uma sucessão de resultados fulgurantes?
São capazes de ter razão. Mesmo assim preferia ver Benfica ganhar à Florentina na madrugada do próximo sábado. Sempre dá outro ânimo.
Muito discreta foi a estreia do ex-Maxi Pereira de castanho. Beneficiou de quatro lançamentos de linha lateral (“11,15, 21 e 40 minutos) e nenhum deles resultou em golo.
O mundial de futebol de praia foi ganho pela equipa portuguesa e no fim do jogo com o adorável Taiti os nossos campeões – parabéns a todos! – cantaram felicíssimos:
– O campeão voltou, o campeão voltou!
Já na semana passada, uma reportagem de uma qualquer estação televisiva mostrou-nos a final de um campeonato distrital de futsal entre equipas de padres e na subsequente festa, os padres vencedores cantaram felicíssimos.
– O campeão voltou, o campeão voltou!
Lá está, uma vez mais, o Benfica a dar música ao país.
O ex-arbitro Marco Ferreira lançou um apelo às autoridades para que venham pôr mão nas malandrices futebol de que se considera vítima.
– Onde está a PJ? – perguntou num desabafo público prontamente difundido em múltiplos canais,
– Onde está a polícia? Por onde anda o Ministério Publico? perguntou também o ex-árbitro.
E ninguém lhe respondeu. Está mal. Até porque é fácil, pública e notória a resposta a estes legítimos clamores.
A polícia, a PJ e o Ministério Público estão ocupados nas Investigações da chamada Operação Fénix que também tem ramificações no mundo da bola e já proporcionou umas manchetes curiosas na nossa Imprensa.
A Fénix é uma ave mitológica dos gregos antigos que quando morre entra em auto-combustão e renasce das próprias cinzas. O que terá levado as autoridades a chamar Fénix a esta investigação é, só por si, alarmante. Será que anda por aí alguma coisa maligna a renascer? Ou em auto-combustão?
FALANDO para uma vasta plateia internacional, José Mourinho prestou mais um bom serviço ao país revelando, deforma directa, aos estrangeiros o retrato fiel de um Portugal sucumbido pela austeridade. Provavelmente, os mais do que justos considerandos de Mourinho sobre a situação desesperada de muitos milhares de famílias portuguesas foram apenas a introdução que encontrou mais à mão para poder lançar umas farpas à insuspeita prodigalidade das tesourarias do Porto e do Sporting e, muito principalmente, as contratações de Casillas e de Jorge Jesus, figuras com quem o treinador português do Chelsea embirra profundamente.
É lá com eles. Mas quase apostaria que José Mourinho vai torcer pelo Benfica por toda esta temporada que já está aí à porta.
Eu também vou. Por ser da Benfica, obviamente, mas também porque ficam historicamente bem ao Benfica os condicionamentos que o impedem de gastar milhões mas que não o impedem de se reafirmar como aquele clube genuinamente popular fundado por um grupo de órfãos e, tantos anos passados, ainda e sempre tão gloriosamente perto do povo de onde nasceu e tão longe dos favores do grande capital que assegura as notas mas não garante os títulos.
De outra forma como seria o Benfica o campeão dos campeões de Portugal?
Por tudo isto que Mourinho disse, e seja qual for o contexto pessoal em que o disse, o próximo campeonato não vai ser só futebol, vai meter também política social à séria.
Carrega Benfica dos pobrezinhos, a carregar desde 1904.
São bonitas as camisolas brancas do Benfica. Para além de serem bonitas são estatutariamente corretas.
TERMINE-SE como se começou. Com mais num excerto da ‘versão integral da entrevista do Florentino português ao El Pais.
E que bem arranha o castelhano o presidente do Porto.
– Donde aprendió a hablar tan bien nuestra língua, ‘doo’ Jorge? – perguntou o entrevistador do El País ruído de curiosidade.
– Por Diós, em Santiago de Compostela!
– Muy bien! Fuíste en peregrinacion, ‘don’ Jorge?
– Por supuesto!
– Fuíste a pie, ‘don’ Jorge?
– No, no, fui de coche.
– De coche?
– Si fuera a pie nunca más lá llegava…
Não se compreende, com toda a franqueza, como é que o El País deixou de fora estes bacadillos.