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Leonor Pinhão – "Que lástima ter sido o Benfica a empurrá-lo para Alvalade"

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Em público e em privado, muita gente filósofa se tem deleitado a concluir, de forma precipitada, que depois de dois anos sem ganhar qualquer troféu o Porto entrará irremediavelmente num contraciclo que o reconduzirá aos patamares de relativa singeleza competitiva em que viveu desde a data da sua fundação, seja ela qual for, até à eleição de Pinto da Costa como presidente do clube.
Não é, no entanto, a primeira vez que uma parvoíce destas se faz ouvir.
Já tinha acontecido na viragem do século haver quem pensasse exactamente a mesma coisa quando o Porto perdeu três campeonatos de seguida, dois para o Sporting e um para o Boavista.
Anunciou-se logo ali, perentoriamente, o fim da consabida hegemonia do Norte que relegara os dois grandes clubes de Lisboa para a modéstia em função dos seus respectivos e sonantes historiais.
Não podia ter sido maior o engano.
Nessa altura coube ao Benfica, oferecendo numa bandeja o treinador José Mourinho ao Porto, contribuir fortemente para a solução do problema que se anunciava nas Antas. O Porto respondeu imediatamente com um “bi”, recompôs-se e depois disso ainda fez um “tetra” e um “tri”. Lembram-se?
O episódio Mourinho de 2002 ainda hoje se discute pelas nossas bandas. Há correntes filosóficas que, por exemplo, defendem que foi um erro histórico do Benfica.
Outras correntes defendem que, perante as exigências de Mourinho para regressar à Luz, o clube jamais poderia ficar refém de um treinador tendo procedido bem em fazê-lo seguir para o Porto.
Como nunca conseguirei entender como é que um clube pode ficar refém de um treinador que soma títulos atrás de títulos – alguma vez em Manchester alguém se terá sentido refém de Ferguson? –, confesso que sempre vi a coisa mais pelo lado do erro histórico.
Oxalá que nunca se venha a repetir.

A próxima temporada abre com um Benfica-Sporting ou com um Sporting-Benfica, como se preferir, no dia 9 de Agosto. E com novos treinadores nos respectivos bancos, é o que tudo indica.
Certo é que o primeiro derby do ano trata da discussão da Supertaça que coloca frente a frente o vencedor da Liga e o vencedor da Taça de Portugal. Falta, portanto, pouco mais de dois meses para o acontecimento que, como sempre, promete.
Passaram-se, entretanto, 28 longuíssimos anos desde que uma Supertaça foi discutida entre os emblemas da Segunda Circular. Ou seja, demorou quase três décadas voltar a acontecer a suposta divisão dos títulos verdadeiramente sonantes do nosso futebol – Campeonato e Taça de Portugal – pelos dois “grandes” da cidade de Lisboa.
A explicação é fácil. Neste dilatado hiato de 28 anos, o Benfica conquistou 8 campeonatos e o Sporting apenas venceu 2. Há ainda que contar 1 título nacional para o Boavista. O que sobrou, e foi imenso, coube tudo ao Porto que para além de campeonatos somou Taças e Supertaças a perder de vista.
Por isso mesmo a Segunda Circular viu-se despromovida pela opinião pública a Terceira Circular e, mais impiedosamente ainda, viu-se até relegada a Quarta Circular nos anos em que nem o Benfica nem o Sporting conseguiram conquistar nada daquilo que verdadeiramente interessa, o que aconteceu por 4 vezes na década de 90.
A última Supertaça jogada entre Benfica e Sporting aconteceu em 1987 e, em bom rigor, o Sporting qualificou-se para essa discussão por ter sido o finalista vencido da Taça de Portugal frente ao Benfica que fez a “dobradinha” nessa temporada.
Voltemos rapidamente ao presente que nos coloca perante esta situação de contornos quase museológicos de vermos a dita Segunda Circular recuperar metaforicamente o estatuto de Primeira Circular do futebol português.
Para além do excelente trabalho do Benfica ao longo de 34 jornadas e do excelente trabalho do Sporting na jornada do Jamor, que fenómeno raro se terá passado em 2014/2015 para que o triunfo do “centralismo” pudesse voltar a acontecer?
Os próximos anos dirão, certamente, se foi apenas um acaso, nada mais do que uma coincidência feliz para os clubes da Capital.
Ou se houve qualquer coisa de mais substancial que possa ter justificado estas ocorrências num momento em que o Porto, contrariando o preceito de ouro do seu missal, não consegue estar de boas relações com o Sporting contra o Benfica ou de boas relações com o Benfica contra o Sporting.
Aqui está um fenómeno que também não se via há coisa de três décadas. E esta é que é a grande novidade que marcou as últimas duas épocas.

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Nunca haverá em Portugal uma rivalidade que se compare à rivalidade entre os dois maiores de Lisboa. Por isso lhes chamam “eternos rivais”. É uma situação estrutural. Já quanto às flutuantes rivalidades do Benfica e do Sporting com o Porto trata-se, enfim, de uma situação conjuntural.
O Benfica ganhou na sexta-feira a Taça da Liga e o Sporting ganhou no domingo a Taça de Portugal e, desde então, já nem sei quantas vezes ouvi benfiquistas e sportinguistas trocarem entre si notáveis galhardetes de ironia:
– Parabéns pela Taça da Cerveja!
– Parabéns pela Taça das Bifanas!
Enquanto for só isto ninguém se magoa.

O Benfica conquistou, portanto, a sua sexta Taça da Liga e, por mim, pode continuar nesta senda.
O adversário foi o Marítimo que deu muito que fazer mesmo jogando com menos um durante quase toda a segunda parte.
O homem do jogo foi, uma vez mais, Jonas porque marcou o primeiro golo do Benfica e porque ofereceu o segundo e decisivo golo do Benfica a Ola John depois de ter fintado quatro adversários no espaço de um metro quadrado na área maritimista. Foi mais um exagero do brasileiro.
A verdade é que tantas vezes foi Jonas o homem do dia nesta época que mais vale dizer que Jonas foi o homem do ano apesar de ter chegado à Luz já com a temporada em andamento.
Foi, aliás, uma temporada bastante aceitável com a conquista de três títulos oficiais – Supertaça a abrir, Liga e Taça da Liga a fechar.
Só faltou fazer melhor na Taça de Portugal e fazer qualquer coisa que se visse pela Europa. Este ano não se viu Benfica europeu, o que não teve graça nenhuma, mas talvez a isso se fique a dever o bi-campeonato que teve a sua graça até pelas circunstâncias em que foi conquistado.
É que não foi nada fácil. O Benfica, perdendo mais de meia equipa com que tinha brilhado na época anterior, soube reconstruir-se em modo operário e exibindo sempre uma enorme frieza de espírito a que se chamou pragmatismo.
Compreende-se, assim, a alegria benfiquista pelos sucessos internos desta temporada mas, repito, engana-se quem acreditar que o Benfica voltou aos tempos em que com qualquer treinador se arriscava a ser campeão.

No sábado passado o Benfica lá voltou a Guimarães para celebrar mais um título nacional, desta vez o de basquetebol. Antes da festa houve que ganhar o decisivo terceiro jogo do play-off à equipa do Vitória que jogava em casa fortemente apoiado pelo seu público.
O basquetebol é um espectáculo que fica bem no pequeno ecrã e a realização esteve à altura da importância e das emoções do acontecimento.
Nos momentos em que os treinadores pediam pausas no jogo os telespectadores usufruíam do privilégio de poder ouvir Carlos Lisboa e Fernando Sá dando instruções aos seus jogadores… em inglês, a língua franca da modalidade.
Mas quando o presidente da Federação entregou a o troféu a Diogo Carreira foi em bom português que os campeões cantaram o feito.
“Campeões, campeões, nós somos campeões!”
E são mesmo. Pela quarta vez consecutiva.

Com um corte de cabelo que o faz parecer um jovenzinho, Pablo Aimar regressou ao futebol no domingo passado depois de um ano de ausência dos relvados e de três operações ao joelho. O argentino que nos encantou entre 2008 e 2013 voltou a jogar com a camisola do seu River Plate catorze anos depois de ter trocado o clube de Buenos Aires pelo clube de Valência que ainda nem sequer pertencia ao senhor Peter Lim.
Foi um prazer rever as deambulações líricas de Pablo Aimar, já com 35 anos, durante o quarto-de-hora final do jogo do River com o Rosário Central. Ah, os artistas…

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E lá vai o Jesus para o Sporting perder a graça toda que nós lhe achávamos. E que lástima ter sido o Benfica a empurrá-lo para Alvalade. Sim, porque é sempre muito feio um patrão oferecer uma redução salarial a um trabalhador com méritos. Acontece muito disto na nossa sociedade doente. E alguma vez tinha de chegar ao futebol. Que pena ter sido logo ao Benfica.

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