Na primeira grande entrevista desde que foi apresentado como novo treinador da equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica, Jorge Jesus, durante pouco mais de uma hora, falou sobre tudo, numa conversa exclusiva com a BTV no Benfica Campus.
Os Benfiquistas ficaram a saber que plantel e estilo de jogo o técnico pretende para atacar 2020/21; revelou quantos reforços espera, elogiando Gilberto, Everton e Pedrinho… e também aflorou o tema Cavani; antecipou alguns desafios inerentes à pandemia da COVID-19, mas acredita que vai colocar a equipa a “arrasar no sentido da baliza”; reconheceu o trabalho do Presidente Luís Filipe Vieira e da Direção; explicou o que pode trazer Luisão ao grupo de trabalho e afirmou saber como conquistar os adeptos do Benfica (outra vez)…
“Quando começo uma pré-época, não vou com um plantel já pré-determinado”
“Esta é uma casa onde estive seis anos e onde vou estar mais tempo a partir de segunda-feira, que é quando começamos a trabalhar no campo. É com grande satisfação e prazer que vou começar uma nova época com um plantel de jogadores, como eu normalmente faço, que é: quando começo uma pré-época, não vou com um plantel já pré-determinado. Gosto de, ao longo das semanas da pré-época, nomeadamente nas duas primeiras semanas, conhecer melhor os jogadores, porque uma coisa é conhecer um plantel estando de fora, outra é trabalhar com os jogadores. Seguramente, há muitos jogadores que vão começar a época e ainda não estão cá para a pré-época, e há outros que vão começar a pré-época e vão ter de sair. Uns saem, outros entram, porque é assim no futebol. Não tenho medo de assumir se tiver de lhes dizer que têm de abraçar outros projetos. Mas quero fazê-lo em consciência, com segurança. E, para isso, só trabalhando com eles. Dez, onze reforços para a nova época? Sim, mais ou menos. Não contando com o Helton Leite e com o Pedrinho, que já estavam contratados. Desde a nossa chegada, jogadores novos que já foram contratados – e um ainda não está completamente fechado, que é o Everton – são dois. A nossa ideia é, praticamente, podermos contratar mais um jogador por cada posição. São seis ou sete jogadores, contado com os dois que já foram contratados.”
“Temos de ter duas soluções por posição para mexer na equipa”
“No ano passado, no Brasil, fiz oitenta e poucos jogos. Não havendo um número exato, podemos ser 25 jogadores sem contar com os guarda-redes. São mais de dois jogadores por posição, porque vamos enfrentar várias competições. Com os objetivos traçados, que são tentar conquistar todas as competições, temos de ter duas soluções para cada posição para mexer na equipa. Dar-lhe rotatividade, sabendo que não baixa a qualidade e a intensidade.”
“A minha forma de trabalhar e de passar a mensagem é fazê-los pensar”
“Há posições de campo onde não há adaptações. Um guarda-redes é sempre guarda-redes. Há outras posições onde pode haver polivalência… Aliás, essa é a evolução no futebol. O futebol está a evoluir nesse aspeto e costumo dizer aos jogadores que têm de conhecer várias posições no campo. Isso pode acontecer com os médios, com os avançados… E é isso que vai acontecer, pelo menos comigo. A minha forma de trabalhar e de passar a mensagem é fazê-los pensar, e relembrar o que trabalhámos durante a semana para que a evolução tática seja diferenciada. Quase todas as modalidades são assim e o futebol já está a avançar nesse sentido. Começo a jogar de uma maneira e depois mudo o sistema de jogo sem fazer substituições. As cinco substituições dão-nos mais hipóteses de mudar. Às vezes, temos uma ideia e depois o adversário consegue anular essa ideia e temos de partir para outra. Para isso, ela tem de ser trabalhada. Não é estar no banco de suplentes e mudar. Mas para mudar já temos de ter preparada a equipa para essa mudança, e é isso que trabalhamos, em cima dessa evolução no futebol.”
“Olhar para a qualidade do jogador. Se tem 17 ou 37 anos, isso não interessa”
“Portugal é um país vendedor de jogadores e, por isso, tem de continuar a formar jogadores. Muitas vezes há equívocos em relação à palavra formação. Apostar na formação não quer dizer que se arranje uma equipa competitiva só com jogadores da formação. Isso não existe em nenhuma parte do mundo. São jogadores que formamos e que dão rentabilidade aos clubes. Uma das maiores vendas de sempre da Europa e do mundo foi o João Félix, e saiu da Formação, mas ‘Joões Félixs’ não há muitos, ‘Cristianos Ronaldos’ também não. Portanto, isso não quer dizer que não possamos continuar a apostar na formação. Há duas teses que são fundamentais e que são o meu pensamento: saber formar e ter um gabinete de prospeção. O que é a prospeção? É ir buscar jogadores que não estão na nossa formação, e fazer aqui uma junção entre a formação e a prospeção de jogadores que deem rentabilidade e poder à equipa. Se pensarmos que tivemos um Aimar, um Saviola, um Matic, um David Luiz, um Witsel, um Ramires, um Di María… São tantos que até me esqueço de alguns. Se olharmos para o FC Porto: deixou de ter Falcao, Hulk, James Rodríguez… e o Sporting é igual. Aqueles jogadores estrangeiros que Portugal tinha algum poder para os contratar, e os projetava para vender, não existem hoje. Esse é o caminho. Não há outro. Temos de olhar para a qualidade do jogador. Se tem 17 ou 37 anos, isso não interessa. O que conta é a rentabilidade que pode dar à equipa. Quando cheguei ao Flamengo, vi que precisava de um determinado jogador e vi que havia o Ranier na formação, que tem 17 anos. Trabalhou comigo e foi vendido para o Real Madrid por 30 milhões.”
“Temos de ser coerentes, objetivos e ter os melhores jogadores”
“Todos os clubes têm de evoluir e preocupar-se com a formação, pois é uma forma de criar ativos para o futuro, mas isso não dá sustento desportivo a uma equipa em relação aos seus objetivos. Não há uma equipa no mundo que viva da formação. Olhemos para o Benfica. Da equipa titular, quantos jogadores da Formação jogam a titular? Um, o Rúben Dias. Agora, o Benfica não deixa de ter miúdos com valor, que temos de trabalhar e dar carinho. Podem não ser a solução imediata, mas são soluções para o futuro. O que os adeptos querem, do Benfica e dos outros clubes, é ganhar. Ganhar com meninos ou não. O que interessa é ter bons jogadores, independentemente da nacionalidade deles. Isso é que me atrai. Da equipa de onde vim [Flamengo] eram todos brasileiros no onze inicial, menos um. Porquê? Porque têm qualidade. A formação dos clubes – grandes e não só – tem de continuar a desenvolver o futebol português. Os melhores não estão cá muito tempo, são vendidos. Temos de ser coerentes, objetivos e tentar ter os melhores jogadores.”
“Quem não queria ter Cavani?”
“Cavani não precisa que Jorge Jesus ligue para ele. É um jogador que deve ter várias possibilidades de mercado e estará a pensar na melhor opção para ele. Quando cheguei ao Benfica já se falava do Cavani. Se me perguntar se quero o Cavani, claro que quero! Quem é que não quer o Cavani? Em Portugal temos alguma dificuldade em competir financeiramente com as grandes equipas. Não chegamos a finais de Champions porque os nossos melhores jogadores são vendidos. Em Portugal é difícil reter os melhor. Sempre fomos um país de recrutamento de grandes talentos. Para lá de Eusébio, tivemos Ronaldo, Figo e agora temos o João Félix, que vai ser um dos grandes jogadores do mundo. O Ronaldo é um símbolo para todos. Primeiro, para ele, está o futebol, que é prazer e paixão. O João Félix, se olhar para o exemplo do Ronaldo, vai ter um percurso muito bonito. Quanto ao Cavani, claro que gostava de tê-lo, mas sabemos que financeiramente não é fácil. Tem de haver uma engenharia financeira onde o Presidente é muito forte. Cavani já estava a ser conversado antes de eu chegar ao Benfica. O Presidente está a fazer tudo para que isso possa acontecer, mas ele também tem a noção da realidade.”
“Com todo o talento que tem, Cebolinha vai valorizar-se muito”
“É verdade que telefonei ao Everton Cebolinha pelo facto de ser um dos alvos importantes para o Benfica. É um jogador que, não só pela qualidade que tem, é titular na seleção do Brasil, e isso é logo uma marca que à partida não deixa muitas dúvidas. Eu sabia que, para além do Benfica, o Everton [de Inglaterra] e outra equipa alemã também estavam interessados nele, então procurei falar com ele para o convencer a vir para o Benfica. Disse-lhe que é um grande clube e que tem um projeto não só nacional, mas também europeu, com outros grandes jogadores, e que tem condições para atacar não só a Champions como as outras competições que estão na calendarizarão europeu. Nunca lhe disse para ele não jogar a final pelo Grémio, e ele é testemunha disso, quando chegar a Portugal pode confirmar. Fiquei ainda mais satisfeito com a atitude dele, foi ter com o seu treinador e disse que queria jogar aquela final. Eu, como treinador, queria era que ele jogasse para estar mais competitivo. Acreditamos que com todo o talento que tem, o Cebolinha vai conseguir valorizar-se muito.”
“Gilberto tem uma duração no jogo de 90 minutos”
“O Gilberto foi um jogador que eu tentei, antes de vir para o Benfica, contratar para o Flamengo, mas não consegui. Agora houve a possibilidade de o contratar para o Benfica. O que é que esse jogador traz? É tecnicamente evoluído, à primeira ideia não é um jogador com uma qualidade técnica muito superior, mas é um jogador muito competitivo, tem uma duração no jogo de noventa minutos, sempre muito forte. Ser bom ofensivamente é uma das suas melhores características, é um jogador que faz golo. Ainda tem alguns defeitos, por isso é que sou o treinador dele para o melhorar. Ele e o André Almeida vão disputar a titularidade, sendo que vai haver espaço para todos jogarem. Helton Leite [outro reforço confirmado] não o conheço muito bem. Conheço o Odysseas porque vi mais jogos do Benfica, pois os jogos de Benfica, Sporting e FC Porto dão no Brasil, e os do Boavista não. Não queremos ter só um bom guarda-redes, queremos ter mais do que um.”
“Jogadores com algum poder desportivo e técnico para a defesa”
“É verdade que, para além do lateral-direito, nós procuramos mais dois jogadores para a última linha de quatro. Achamos que o Benfica precisa de ter aí jogadores com algum peso, com algum poder, não só desportivo, mas também algum poder técnico, também para ajudarem os mais jovens, que é o caso do Tavares, do Rúben, do Ferro, porque isso é fundamental acontecer numa equipa, teres alguns jogadores com alguma experiência. Dando um exemplo, na equipa que eu treinava, o Flamengo, eu tinha cinco titulares com mais de trinta anos e isso é fundamental nas decisões do dia a dia e na forma como os mais jovens ganham valores. E é com este suporte desportivo e mental que fazem com que os jovens percebam que para chegares a uma grande equipa como a do Benfica tens de ter valores, ter mística e isto da mística não é menos que saber transmitir os valores do Clube aos jogadores, que acaba por ser uma passagem dos mais velhos para os mais novos.”
“Pedrinho é um talento para se trabalhar”
“Se eu tivesse naquela altura de contratar um jogador para o imediato no Benfica, que foi isso que eu quis dizer quando falei do Pedrinho, havia outros jogadores com mais experiência, como é o caso do Everton Cebolinha ou do Dudu. O Pedrinho é um jogador jovem com talento, para se trabalhar. E o Dudu ou o Cebolinha são jogadores que já não deixam dúvidas. Mas o Pedrinho tem talento e nós vamos ajudá-lo a ser melhor.”
“Pizzi à direita ou centralizado, vamos ver o que é melhor”
“O Pizzi, e os adeptos do Benfica sabem isso melhor, porque este ano viram mais jogos do que eu, talvez tenha sido o segundo melhor, ou até mesmo o melhor jogador do Benfica neste Campeonato. Fez 30 golos na época, e para um jogador que joga naquela posição é um número muito significativo. Pode fazer essas duas posições [direita e centro do campo], e isso é a riqueza dele, mas este ano foi um goleador, que normalmente nunca é. Ele é um jogador de último passe, de fazer golo, mas mais de pôr a bola na cara dos avançados. É um jogador com uma qualidade muito grande no último passe, e os jogadores de último passe não são jogadores que joguem nas laterais, mas sim nos corredores centrais. Vamos ver o que é melhor para a equipa, se é ele continuar aberto num corredor, ou se é ele mais centralizado como foi nos dois anos que trabalhou comigo.”
“Conhecer melhor Diogo Gonçalves”
“Formação? São jogadores que já estavam no Benfica, que as pessoas responsáveis do Benfica já têm um conhecimento muito mais global e preciso em relação a esses jovens do que eu, e é a partir dai que vamos avançar. O Diogo Gonçalves é um jogador formado no Benfica. Pedi para ele fazer o início de época com a equipa principal, quero conhecê-lo melhor. Quero tentar conhecer melhor os jogadores trabalhando comigo, que é o caso do Diogo.”
“Não pedi jogadores do Flamengo”
“Se me perguntar onde é que eu coloco a equipa do Flamengo em termos de valor, na América Latina e no Brasil é a melhor de todas, e no mundo está entre as três, quatro melhores. Tanto é assim que fomos a uma final do Campeonato do Mundo de Clubes e perdemos com o Liverpool no prolongamento, onde não vi diferença nenhuma, com o senão de termos mais 40 jogos do que eles. Quer dizer que o Flamengo tem grandes jogadores, mas sou grato às pessoas que me amam e me amaram. O Flamengo e aqueles jogadores estão no meu coração. Não foi fácil quando saí e vim para o Benfica, e eu não quero mexer mais em assuntos ligados ao clube. Não pedi nenhum jogador do Flamengo ao nosso Presidente.”
“Uma equipa que joga para arrasar, com sentido de baliza, de golo…”
“Jogar o triplo? Se o Benfica, este ano, não ganhou nenhuma competição, e se queremos ganhar, temos de ser muito melhores. Duplicar não chega, temos de jogar o triplo. Foi dentro desta lógica que falei na apresentação. E o ‘arrasar’ vem da convicção, da certeza de vamos construir uma grande equipa para podermos arrasar. A minha expressão tem a ver com uma equipa que joga para arrasar, com sentido de baliza, de golo, que pode arrasar o adversário. Foi com este propósito que disse o que disse. Um Benfica de nota artística? Eu não me esqueço dos seis anos fantásticos que vivi, e claro que podíamos ter vencido mais títulos porque tivemos em muitas decisões. As grandes equipas são aquelas que também perdem algumas decisões porque conseguem chegar lá. Sou dos treinadores que mais ganharam no Clube, mas isso faz parte do passado. Os títulos estão cá, mas isso já não me interessa. O que me interessa é a equipa do Benfica, quando começar a trabalhar, pensar que tem de ter um objetivo do presente e um objetivo do futuro. O passado já não conta. Nos grandes clubes só ganhar não chega. É preciso ganhar e dar espetáculo. Nalguns jogos isso não será possível, mas quando se tem uma grande equipa, muitas das vezes sem jogar bem consegue-se ganhar. É importante o Benfica estar neste patamar.”
“Quatro, cinco semanas para pôr a equipa a voar o máximo possível neste período”
“A voar [na pré-eliminatória da Liga dos Campeões] ainda não vai estar, porque num mês de trabalho não se consegue ter uma equipa a voar. Mas isto não pode ser um tema de preocupação. Devemos pensar que temos quatro, cinco semanas para pôr a equipa a voar o máximo possível dentro deste período para poder enfrentar o primeiro jogo oficial, que é logo uma pré-eliminatória de Champions. Deveria haver algum cuidado na calendarização em defesa do futebol português, porque não é só o Benfica, as equipas que vão para a Liga Europa também vão jogar sem ter disputado um jogo do Campeonato.”
“Jogadores tiveram muito tempo para limpar a cabeça”
“Os jogadores tiveram muito tempo para limpar a cabeça, estiveram muito tempo em casa. Todos estivemos em casa dois meses e tal sem treinar. O único problema que tínhamos na cabeça era a COVID-19. Agora já não é, porque sabemos que temos de viver com o vírus. O Benfica teve um final de Campeonato com dez jogos. Não foram 30. Foram dois meses em casa e dez jogos para acabar o Campeonato. Qual é o problema de se começar a trabalhar uma semana depois? Não tem problema nenhum, e isso também tem a ver com os nossos objetivos. Dia 15 de setembro temos a pré-eliminatória da Champions. Não havia outra hipótese. Esse problema nem se coloca na cabeça dos jogadores. A partir de segunda-feira vão estar com força e vontade muito grandes para demonstrar todas as suas capacidades e valor que têm.”
“Jogos de pré-época mais difíceis com a pandemia, mas o Benfica é capaz”
“Tudo mudou no mundo com a pandemia. Este facto faz com que os jogos particulares sejam mais difíceis de se realizar. Porque temos de fazer testes nos próprios jogos particulares. Os jogadores têm de ser testados, os nossos e os adversários. Tem de haver uma grande logística para trabalhar isto. Tem de haver maneira de testar todos, os nossos é o mais fácil, e o Benfica tem capacidade para realizar testes e esses jogos particulares.”
“Champions? Face à pandemia, o ciclo pode mudar”
“Pensava que ganhar uma Champions em Portugal seria difícil. Porquê? Porque os melhores jogadores das melhores equipas saem, portanto, nunca se consegue ter uma grande equipa para poder disputar com as grandes equipas… Normalmente, não difere muito. Apareceu o Liverpool, mas Barcelona e Real Madrid são aqueles que nos últimos anos mais Champions ganharam. Pode aparecer um ‘outsider’, como foi o caso do Liverpool, mas nem o Bayern, nem a Juventus conseguiram entrar… Os mais poderosos, portanto. Mas, face à pandemia, o ciclo pode mudar! Se se olhar para este play-off que vai acontecer, nestas oito equipas que vão estar na Champions não há assim tantos tubarões, já há aqui equipas que não são aquelas grandes equipas que o Barcelona teve, que o Real Madrid teve, ou o Bayern Munique… Até essas equipas já não estão tão fortes. Tudo isto equilibrou mais as equipas!”
“Esta Direção fez com que o Clube respire saúde financeira”
“Hoje, o Benfica respira saúde financeira, porque teve uma Direção com uma gestão desportiva e financeira que permite que, agora, em Portugal, seja um clube a investir na sua equipa, enquanto os outros vão ter de poupar. Quem não quiser ver isto é com segundas intenções. Queremos recuperar a hegemonia do futebol português e recuperar a identidade do Benfica na Europa. E para isso temos de ter jogadores.”
“Luisão para passar valores e mística”
“[Mística Benfiquista] Isso é um dos temas que eu, o Presidente, o Rui Costa e o Tiago Pinto nos lembrámos, de podermos incorporar na nossa estrutura o Luisão, como diretor técnico, exatamente para passar valores a estes jogadores do Benfica, para que eles percebam que o Benfica é um grande clube, uma grande instituição, mas que só perceber não chega, têm de demonstrar.”
“Conquistar a Família Benfiquista com resultados”
“Como é que eu espero conquistar a Família Benfiquista? Como conquistei quando vim para o Benfica, com resultados! De certeza que os adeptos do Benfica olham para mim como um treinador e, como treinador, aquilo que nós fizemos no Benfica está marcado pela positiva, e nem conseguimos ganhar tudo. Vão sempre analisar-me como treinador e não me podem analisar de outra maneira. Não há forma de terem alguma questão ainda comigo porque eu mudei do Benfica para o Sporting. Isso faz parte da minha profissão, e amanhã vou sair do Benfica para outro clube. É a minha vida como treinador. Eu não sou treinador de um clube, sou treinador de futebol e, neste momento, sou treinador do Benfica, clube que vou defender e trabalhar da melhor forma que sei para defender os seus interesses. E podem estar a dizer ‘ainda nem começou e já está a pensar em sair’… Não! Mas esta é a vida do treinador! Vai ser sempre assim!”
“Isto é futebol, e as pessoas não podem ficar melindradas quando se tem de tomar decisões”
“Saída do Benfica em 2015? O futebol são ciclos! As pessoas na altura achavam que o meu ciclo tinha acabado, acabou, o futebol é isto, é normal. Agora, o Presidente achou que o ciclo que o Benfica tinha também terminou e que o futuro passava por outro ciclo, ao contratar-me. Isto é o futebol, e as pessoas não podem ficar melindradas quando se tem de tomar decisões. Eu estava no Flamengo, que tem 50 milhões de adeptos, doidos, apaixonados, que me amavam… Nunca estive num estádio com 70 mil pessoas em todos os jogos a gritarem o meu nome. Nunca estive, nem vou voltar a estar… Só se lá regressar. Tudo isso fez com que a minha decisão não fosse fácil, e só havia uma pessoa que me conseguia convencer a sair do Flamengo, chama-se Luís Filipe Vieira. Foi ao Brasil convencer-me a voltar ao Benfica e eu vim, seguro de um projeto difícil, com todas essas ‘coisinhas’ no meio daquilo que foi a minha passagem do Benfica para o rival. Nunca tive nenhuma afirmação que pudesse colocar em dúvida o meu respeito e a minha gratidão dos seis anos que estive no Benfica… fui para outro rival, mais nada. Tenho de fazer o meu trabalho, como profissional e como treinador. O tempo foi passando, eu sempre tive uma relação de proximidade muito grande com o Presidente do Benfica. Foram seis anos, não houve nenhum outro presidente que trabalhasse seis anos comigo, nunca houve nenhum presidente do Futebol que entrasse dentro da minha casa, só o Presidente do Benfica. Depois da minha saída, é ele em defesa dos interesses do Benfica – e bem! – e eu em defesa dos interesses do Sporting. Esgrimimos, como é natural, argumentos!”
“Importa é saber se o meu valor como treinador que esteve 6 anos no Benfica faz com que os adeptos gostem de mim”
“Se me arrependo de alguma coisa que tenha dito quando saí do Benfica? Não, porque eu não fiz nada! Eu só tentei defender a minha entidade patronal, e o Presidente do Benfica fez a mesma coisa. Mas não queria falar muito disso, porque isso é falar daquilo que não é a minha vida agora. O que importa agora é saber se o meu valor serve ou não os interesses do Benfica, se o meu valor como treinador que esteve seis anos no Benfica faz com que os adeptos gostem de mim… É por aqui que quero que me vejam e não porque mudei de clube, porque senão, daqui a dois anos, porque eu tenho dois anos de contrato com o Clube, vou mudar outra vez e o que é que vai acontecer? Vai acontecer a mesma coisa…”
“Uma pessoa mais compreensiva, mas também um melhor treinador”
“Nestes anos que saí de Portugal valorizei-me muito como treinador. Hoje, olho para a carreira de treinador de uma maneira diferente e até a minha passagem pela Arábia Saudita ensinou-me que, para além de seres treinador, também tens de saber passar valores. No Brasil também aprendi o que é paixão pelo futebol! E que vem ao encontro daquilo que é o meu amor e a minha paixão pelo futebol. Também trabalhei com grandes dirigentes e tudo isso fez de mim uma pessoa mais compreensiva, mas também um melhor treinador.”
“Estilo fora de campo? Isso nunca vai mudar”
“Estilo fora do campo? Ah… Isso não vai mudar! Só quando eu morrer! A adrenalina, a intensidade, o sentir o jogo, apesar de que, desde a pandemia, o não haver adeptos… a mola real do futebol para quem nós trabalhamos – e para os clubes –, eu não sou o mesmo e os jogadores também não são os mesmos. Enquanto não nos adaptarmos, a intensidade, a adrenalina, a pressão a motivação… Por muito que se esteja preparado psicologicamente, não é igual!”
“Tenho tido uma recetividade muito grande dos adeptos”
“O regresso a casa tem sido agradável, apesar deste fenómeno da pandemia não deixar as pessoas relacionarem-se socialmente. Não podemos estar muito juntos uns dos outros, mas num ou outro lugar público a que tenho ido, tenho tido uma recetividade muito grande dos adeptos do Benfica, todos muito felizes por eu ter regressado! Conheço esta casa e este clube muito bem, conheço as paixões que este clube também transporta e o sentimento. Estou muito confiante! Acredito muito no que o Presidente do Benfica me disse. Acredito no projeto, acredito nas ideias e isto só pode ser feito com todos, com os adeptos, temos de estar unidos! Temos de perceber que se se quer conquistar objetivos desportivos, e se se quer transportar o sentimento e amor pelo Clube, isso demonstra-se na união. E Pluribus Unum! É o que está no emblema! E nós para atingirmos esses objetivos temos de estar todos em redor da equipa. Sermos exigentes e assim as coisas serão muito mais fáceis.”
“Os mind games que havia não valorizam o futebol”
“Sei o que o Rúben [Amorim] quis dizer! Está preparado para a guerra, para a guerra verbal. Em Portugal há uma guerra verbal muito intensa em relação aos interesses do futebol. No Brasil também há uma guerra verbal, mas é uma guerra que favorece o futebol, e aqui muitas vezes até retiramos valor ao produto. E foi isso que o Rúben quis dizer. O que é importante é que todos possamos defender os interesses das nossas equipas. Os mind games que quando eu saí se colocavam muitas vezes entre os treinadores, nem era entre os clubes, não os vou fazer, isso não ajuda a ganhar jogos nem valoriza o futebol.”
“Braga a aproximar-se dos grandes”
“Penso que o Braga está, a cada ano, a dar passos para estar mais perto dos três grandes, e só não o considero já um dos grandes por um motivo: não tem a matéria humana que o Benfica, Sporting ou FC Porto têm. Isso parece que não, mas faz a diferença. Em termos de estruturas, em jogadores com valor… Isso está a acontecer e julgo que é por aí que este ano o Braga se tentará aproximar mais dos grandes.”