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Aursnes: “Para ser honesto também gosto de jogar como lateral-direito”

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— Podemos dar início à entrevista precisamente pela quadra festiva. Como correu o seu Natal?

— Foi um bom Natal, tive os meus pais em Lisboa, vieram passar a quadra, celebrámos de acordo com as tradições da Noruega, mas não comemos ‘o bacalau’ [risos].

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— Mas já teve oportunidade de experimentar, segundo a tradição portuguesa? Bacalhau curado e salgado em vez de fresco?

— Sim, claro, experimentei, um peixe muito bom e da Noruega, pois claro, é um bom prato.

— Passa a imagem de ser uma pessoa extremamente discreta, podemos pedir-lhe que se dê a conhecer um pouco?

— Sou uma pessoa muito calma, tento ser boa pessoa para toda a gente, considero-me uma pessoa agradável, pouco invasiva.

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— E como é a sua vida em Lisboa?

— É muito boa, gosto muito, as pessoas são muito boas, gosto da maneira de ser dos portugueses, da cidade, muito agradável, e do clube, onde passo a maior parte do meu tempo, com os jogos, e também com os adeptos. Para mim é fantástico.

— Os adeptos do Benfica reconhecem-no na rua?

— Nem sempre [risos], posso andar em sossegado.

— Vamos recuar sensivelmente um ano e meio e abordar o momento da assinatura de contrato com o Benfica. Como é que Fredrik Aursnes ficou a conhecer o interesse do clube? Ainda se lembra?

— Lembro-me perfeitamente, o meu agente ligou-me para dizer que o Benfica estava interessado, disse-me que era algo que poderia acontecer.

— Qual foi a sua reação?

— A minha reação? Foi a de quem sabia imediatamente que desejava aquilo. Para mim foi uma decisão fácil vir para o Benfica e soube a partir do segundo em que ouvi falar dessa possibilidade que queria fazê-lo. E, felizmente, aconteceu mesmo e estou muito contente, não me arrependo.

— Sente que a mudança já valeu realmente a pena?

— Claro, nunca me arrependi de ter vindo, para ser honesto tem sido incrível desde o primeiro dia.

— Depois de uma Liga dos Campeões muito boa na temporada passada, com presença nos quartos de final da competição, este ano a Champions não correu bem ao Benfica. O que aconteceu afinal que justifique a eliminação da equipa na fase de grupos?

— É uma pergunta difícil de responder. Claro que não estamos felizes com a nossa performance na competição, era, obviamente, um grupo duro, mas foi um bocadinho dececionante a forma como jogámos, sobretudo nos dois jogos com a Real Sociedad [Benfica perdeu no Estádio da Luz, por 0-1, e depois em San Sebastián, por 1-3] e talvez na partida com o Inter em Milão [derrota dos encarnados, por 0-1]. Penso que foram jogos abaixo do nosso nível, foi muito dececionante, mas no final tivemos de aceitar a situação e tentar tirar o máximo partido da situação. No último jogo da fase de grupos precisávamos de vencer o Salzburgo fora de casa por dois golos e felizmente conseguimos fazê-lo, penso que tentámos manter-nos unidos e fazer as coisas da melhor maneira possível. Agora estamos na Liga Europa, que é também uma boa competição. É verdade que não é a Liga dos Campeões, mas temos de aceitar as coisas e tentar fazer o melhor possível.

— E o Benfica chegou precisamente duas vezes a finais da Liga Europa depois de ter saído da Liga dos Campeões na fase de grupos, como terceiro classificado.

— É o objetivo. É um sonho. Mas na realidade temos de pensar em dar um passo de cada vez, até porque na Liga Europa também há muitas equipas boas em competição. É possível, sim, mas é um longo caminho e, como já disse, temos de dar um passo de cada vez.

— E que opinião tem do adversário que calhou em sorte ao Benfica, a equipa francesa do Toulouse? Ou é ainda muito cedo para pensar no adversário da Liga Europa, tendo em conta que as partidas estão agendadas para fevereiro?

— Sim, na verdade os jogos são apenas em fevereiro e para ser honesto ainda não sei muito sobre eles, não vejo assim tanto futebol francês, mas, claro, passou a fase de grupos [segundo classificado do Grupo E, atrás do Liverpool] e isso mostra que é uma boa equipa. Nesta altura acredito que na Liga Europa já só restam equipas boas e temos sempre de respeitar os adversários e serão obviamente jogos duros.

— A pressão sobre Roger Schmidt e sobre a equipa do Benfica subiu muito esta temporada. Como lidaram com isso?

— Talvez… Penso que na temporada passada estivemos num ciclo positivo em quase toda a temporada, a jogar um futebol fantástico, tivemos uma época verdadeiramente boa. Se não olharmos somente para a Liga dos Campeões, creio que estamos relativamente bem no Campeonato, somente um ponto atrás do Sporting.

— Sente que o Benfica está a recuperar no Campeonato?

— Sim, está muito equilibrado entre as quatro equipas, mas estamos numa posição boa, faltam muitos jogos e a nossa posição é boa.

— O Benfica é o campeão, no seu entender ainda é o principal candidato ao título de campeão nacional?

— É difícil dizer, penso que o Sporting está a ir bem, FC Porto e SC Braga também, já defrontámos o SC Braga fora de casa e demonstraram que são também uma equipa muito boa [Benfica venceu por 1-0, com golo de Casper Tengstedt]. Penso que os nossos adversários são muito bons, mas nós queremos a primeira posição da Liga.

— Sensivelmente a meio da temporada, a liderança do Campeonato pertence ao Sporting. Faz do Sporting o adversário mais forte?

— É difícil dizer, na minha opinião parece muito forte, parece muito forte, de certeza que no final da temporada estará na corrida pelo título de campeão. Pela parte que nos toca, teremos de trabalhar duro e manter a equipa unida, tentar vencer tantas partidas quanto possível e no final veremos quem é o melhor.

Confiança em Kokçu
– Kokçu, reforço do Benfica para a temporada, que formou meio-campo consigo no atual campeão dos Países Baixos, admitiu em entrevista que se sentiu um pouco perdido quando Fredrik Aursnes saiu do Feyenoord, em 2022. Tinha conhecimento disto?

– [risos] Penso que ele se saiu muito bem quando deixei o Feyenoord. Até ganharam o campeonato dos Países Baixos. Não me parece que se sentisse assim tão perdido em campo, parece-me, aliás, que ele se saiu muito bem mesmo depois da minha saída. E foi incrível ver o Feyenoord ganhar o campeonato na última temporada, foi muito bem feito.

– E como está a sentir-se o seu amigo Orkun Kokçu no Benfica?

– Eu creio que ele sente-se muito bem no Benfica. Claro que a adaptação demora sempre algum tempo, e isso é válido para qualquer jogador. É um novo país. E é a primeira vez que ele joga no estrangeiro. E também eu, quando saí pela primeira vez da Noruega para jogar nos Países Baixos pelo Feyenoord, precisei de algum tempo para adaptar-me. Mas é um jogador fantástico e penso que já o demonstrou. Ainda é um jogador muito novo e penso que vamos ver cada vez mais dele, creio que continuará a crescer a cada jogo do Benfica.

– Como alguém que o conhece muito bem e mesmo considerando que ele já demonstrou ser um jogador fantástico, sente que ele já mostrou tudo?

– Não, ele tem mais para dar, penso que ele tem mais, ele pode mostrar ainda mais, o potencial dele é mesmo muito alto, já o vimos muitas vezes, mas ele pode crescer dentro desta equipa, ele tem todas as qualidades para ser um jogador de topo.

Diverte-se como lateral
— Faz várias posições em campo enquanto jogador do Benfica, é um aspeto bom ou mau para si?

— Bom, obviamente tento olhar para isso de um ponto de vista positivo, pois obviamente quero jogar e ajudar a equipa. Para ser sincero, não me preocupo realmente com a posição em que jogo, porque tento encontrar a diversão de jogar futebol em qualquer lado, seja como médio centro, seja como extremo ou como lateral-direito, tento apenas divertir-me e penso que é preciso ter força para olhar para as coisas com esta mentalidade. Talvez fosse melhor jogar desempenhando apenas um papel em campo, talvez pudesse evoluir ainda mais, mas não vejo as coisas dessa forma.

— Isso leva-nos à questão seguinte: afinal onde é que Fredrik Aursnes se sente mais à vontade em campo?

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— Bom, ao longo da minha carreira tenho jogado principalmente como número 6 ou número 8, mas aqui no Benfica talvez na posição em que joguei na temporada passada, como extremo esquerdo, de fora para dentro, a posição em que João Mário tem jogado presentemente. Penso que tive uma temporada boa jogando ali, mas para ser honesto também gosto de jogar como lateral-direito, à medida que o tempo passa sinto-me cada vez mais confortável jogando ali, tento aproveitar quando jogo naquela posição e tenho conseguido divertir-me.

— É conhecido por ser um dos jogadores que mais correm dentro de campo. A questão é: nunca se cansa?

— Sim… [risos]. Penso que é um dos meus pontos fortes, o facto de correr muito em campo, mas, claro, também me sinto cansado, mas penso que o facto de correr muito é realmente um dos meus pontos fortes. E agora jogando como lateral-direito parece-me uma arma importante. Correr muito permite-me juntar-me aos movimentos de ataque da equipa e ao mesmo tempo conseguir recuperar defensivamente recuando no terreno.

De Rafa a Schmidt
— Que jogadores do Benfica o surpreenderam mais?

— Uma pergunta difícil… [risos] Mas eu gosto realmente do Rafa. Tem-me impressionado muito desde que cheguei, creio que é um jogador fantástico. Ele consegue fazer coisas incríveis, causa danos aos adversários com a sua velocidade e a sua classe, com a sua inteligência, e é realmente duro para um defesa tê-lo pela frente. Na minha opinião, é um jogador fantástico.

— Como é a sua relação com o treinador do Benfica, Roger Schmidt?

— Tenho uma boa relação com ele, desde o início, desde que cheguei ao Benfica. Penso que é muito boa pessoa.

— Mesmo quando o obriga a jogar como defesa-esquerdo?…

— Claro [risos], isso não representa qualquer problema para mim. Falámos sobre isso, ele sabe e eu digo-o, estou sempre disponível, se ele quiser utilizar-me como lateral-direito ou esquerdo irei sempre fazê-lo. Mas penso que é um treinador realmente bom, na minha opinião e dos jogadores que trabalham com ele desde a primeira época. Fizemos uma temporada passada muito boa, estamos a ir bem esta época, a equipa reflete o trabalho do treinador e dos adjuntos, continuamos juntos e iremos sair-nos bem esta época.

Schjelderup vingará
— Ouviu falar de outros jogadores de origem norueguesa que passaram pelo Benfica? Azar Karadas? Rushfeldt?

— Conheço um bocadinho da história deles, conheço Azar Karadas, sei que jogou aqui, Rushfeldt creio que não… jogou aqui?

— Nunca jogou, mas esteve perto de assinar contrato com o Benfica.

— Esteve quase a assinar contrato, sim… Quanto a Azar Karadas, sim, sei que jogou uma temporada no Benfica e depois esteve emprestado nas temporadas seguintes [Portsmouth, de Inglaterra, e Kaiserslautern, da Alemanha, até ser transferido em definitivo para o Brann, da Noruega]. Mas conheço-o, já tive oportunidade de falar com ele e sei que passou um tempo realmente bom no clube.

— Andreas Schjelderup é outro compatriota norueguês, mas não está no plantel do Benfica neste momento. Acredita que ainda vai ser importante no clube?

— Sim, creio que sim, Andreas está agora no Nordsjaelland, foi por empréstimo, e creio que é bom para ele para poder jogar com mais regularidade. É ainda muito novo, mas tem muita qualidade, espero que ele regresse e mostre essa qualidade. Espero que venha a ser um jogador muito importante no futuro. E penso que vai sê-lo.

— Tengstedt e Bah são dinamarqueses, outros nórdicos do Benfica. Fredrik Aursnes sente que os jogadores nórdicos estão particularmente bem vistos no Benfica e em Portugal?

— Talvez os jogadores nórdicos sejam algo relativamente novo, talvez agora haja mais jogadores nórdicos em Portugal do que no passado, como já referimos houve Azar Karadas, agora eu e Schjelderup, Alexander [Bah] e Casper [Tengstedt] são dinamarqueses, no geral creio que temos uma boa imagem. Claro que Odegaard e Haaland talvez estejam a ajudar a tornar ainda melhor a imagem dos jogadores noruegueses, a ficarem com nome ainda melhor, e a levar as pessoas, os clubes e as ligas a verem mais da Noruega. Penso que os jogadores noruegueses estão um pouco subvalorizados, que é uma liga razoável e que há muitos jogadores noruegueses de qualidade.

O fenómeno Gyokeres
— Gyokeres também é um jogador nórdico, embora de naturalidade sueca, já o conhecia? E imaginava que fizesse o que está a fazer logo na temporada de estreia em Portugal?

— Já sabia um bocadinho sobre ele antes de vir para Portugal, temos inclusivamente alguns amigos em comum, já conhecia um pouco dele e sabia que ele é um bom jogador. Tem estado bem na seleção da Suécia, também esteve bem no Coventry [equipa do Championship, segundo escalão de Inglaterra, onde o ponta de lança jogava antes de transferir-se para o Sporting]. Na Alemanha esteve ao serviço do St. Pauli e esteve ainda no Brighton [e ainda no Swansea, do País de Gales]. Sabia que é um jogador muito bom, forte, poderoso, não foi uma surpresa para mim, tenho de reconhecer que ele está realmente muito bem, é realmente um jogador muito bom.

— Já deu o seu parecer em relação ao Sporting e ao ponta de lança do rival de Lisboa, agora convidamo-lo a revelar igualmente a sua opinião sobre ou outros adversários diretos do Benfica na luta pelo título, FC Porto e SC Braga.

— É difícil falar dos adversários, tento estar sobretudo focado na nossa equipa, pois só podemos fazer alguma coisa em relação à nossa equipa e estar concentrado na nossa equipa é forma de tentar melhorar no dia a dia. Em relação ao que os adversários fazem, nada podemos fazer, mas penso que são, obviamente, duas equipas fortes.

— Os clássicos com o FC Porto são os jogos mais duros que Fredrik Aursnes encontrou em Portugal?

— Sim, penso que é especial, são sempre jogos especiais, são sempre jogos intensos.

— Por vezes um bocadinho mais do que simplesmente intensos…

— Pois são… pois são… [risos]. Mas são também os jogos que um jogador gosta mais de jogar, é sobre esse tipo de jogos que sonhas, e também são jogos que queres obviamente ganhar e depois olhar para trás, para a tua carreira, e lembrá-los.

— No futebol português há, aliás, muita discussão dentro de campo, mas também em torno da arbitragem, que dizer-nos o que pensa sobre isso?

— Para ser honesto, não tenho qualquer opinião formada sobre os árbitros, é um trabalho difícil e penso que tentam sempre fazer o melhor que podem. Mas, repito, não tenho opinião formada sobre o tema.

— Há algum tema que gostasse de abordar e que não tenha sido abordado?

— Na realidade, não.

Demasiado caro, diz ele
O soldado desconhecido, o clássico herói anónimo que dá tudo em nome da equipa. Fredrik Aursnes, médio internacional norueguês de 28 anos, convenceu os benfiquistas literalmente pelo cansaço. Pelo seu cansaço, pelo seu suor, pelos seus quilómetros percorridos em campo, ele que é reconhecido como um dos jogadores que mais correm na equipa do Benfica.

E também dos jogadores que apresentam mais qualidade no seu jogo. Fredrik Aursnes chegou a Portugal como um perfeito desconhecido, mas bem recomendado por Roger Schmidt, treinador do Benfica, que o conhecia da Eredivisie, campeonato dos Países Baixos, dos tempos dos clássicos entre PSV e Feyenoord.

E o atual número 8 dos encarnados até foi apanhado de surpresa pelo valor que o Benfica pela sua transferência no verão de 2022. Em março passado, numa entrevista à TV2, Fredrik Aursnes afirmou, efetivamente, que €13 milhões era muito dinheiro pela sua contratação.

Em entrevista exclusiva a A BOLA admite agora que ainda lhe parece que o Benfica pagou dinheiro a mais pela transferência, mesmo sendo já um dos preferidos dos adeptos benfiquistas: «Ainda tenho esse feeling. Foi muito dinheiro [risos]. Mas, claro, nos dias que vivemos no futebol o dinheiro é muito, as coisas são o que são. Claro que é estranho haver uma quantia destas em relação a nós. Mas é o que é. Noutra altura achei realmente estranho pagarem tanto por mim.»

O médio internacional norueguês aceita que os adeptos de futebol em Portugal não o conhecessem, mas já se sente plenamente reconhecido, sobretudo pelo facto de ter conquistado protagonismo no onze inicial dos campeões nacionais: «Sim, tenho jogado cada vez mais, ao passo que nos primeiros meses jogava sobretudo na condição de suplente utilizado. Depois comecei a conhecer melhor a equipa e a jogar com mais regularidade na equipa inicial e isso faz também com que as pessoas em Portugal me conheçam agora melhor. Entendo perfeitamente que não tenham ouvido falar de mim anteriormente, eu joguei muito tempo na Noruega, no Molde, e apenas uma temporada nos Países Baixos, ao serviço do Feyenoord. Então aceito facilmente que os portugueses não me conhecessem quando cheguei.»

Aursnes não é um jogador tradicional, faz mais posições do que a maioria, corre mais do que a maioria e não solta facilmente um nome quando lhe pedimos uma referência. Tem alguma? «Não especialmente. Claro que tento ver futebol e aprender com os melhores, mas só isso», finaliza.

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