Pub

Entrevista completa a Gabriel

Advertisement

A cumprir a primeira temporada de águia ao peito, o brasileiro não esconde a vontade de somar títulos. O momento da equipa não tem sido o melhor, mas o médio mostra confiança no futuro.

RECORD – O Benfica terminou em Tondela um ciclo negativo de quatro jogos consecutivos sem vencer. Foi um alívio colocar, finalmente, um ponto final nessa série?

Advertisement

GABRIEL – Sem dúvida. Conseguir uma vitória depois dessa sequência de derrotas e de resultados negativos foi importante para a equipa, para que pudéssemos encontrar a nossa confiança. Podíamos tê-la perdido com esses resultados, mas essa vitória em Tondela foi muito importante. Agora descansámos nestes dias para voltar melhor e mais relaxados à procura de mais coisas boas.

R -Depois dos jogos com Moreirense e Ajax os jogadores e o treinador foram muito criticados e assobiados em pleno Estádio da Luz. Como é que sentiram esse momento? A reação dos adeptos foi injusta?

G – Creio que é algo normal acontecer quando estamos ao nível a que estamos. Quando os resultados não aparecem, é normal os adeptos cobrarem. Contra o Ajax, por exemplo, acabámos o jogo com a sensação de que tínhamos estado bem e de que demos o máximo. Saímos tristes e desanimados, mas é normal e os adeptos têm todo o direito de contestar. É normal haver essa pressão numa equipa grande que procura títulos. Vai acontecer sempre.

R – Agora seguem-se dois jogos importantes, primeiro com o Arouca, para a Taça de Portugal, e depois frente ao Bayern Munique, para a Liga dos Campeões. Sente que podem ser dois jogos decisivos para o futuro da equipa esta temporada?

pub

G – Todos os jogos são importantes e não podemos estar aqui a classificar qual o jogo que é mais ou menos importante. O jogo mais importante é sempre o próximo e só temos de pensar em dar o nosso melhor. Não pensamos muito a longo prazo, mas sim no próximo jogo, com o objetivo de dar o melhor.

R – Foi importante para a equipa receber todo aquele apoio em Tondela? Apesar da chuva, estavam muitos adeptos a torcer pelo Benfica…

G – Eles são sempre importantes e conta muito estarem connosco. São uma parte do Benfica e é óbvio que são importantes. É sempre bom sentir o empurrão deles.

R – Passaram apenas 10 jornadas desde o início do campeonato e as quatro equipas da frente estão muito juntas. Acredita que a luta pelo título será até ao final?

G – Sim, acredito. Estivemos na frente do campeonato há um mês e agora está outra equipa [FC Porto]. Mas isso pode mudar a qualquer momento. O futebol é assim, são fases e é normal acontecer. Estamos aqui para dar a volta por cima e mostrar o nosso valor.

R – Coloca o Sp. Braga nessa luta pelo título?

G – Claro que sim! Estão a demonstrar que estão lá em cima com mérito e temos de olhar para eles também como um rival na luta pelo título.

R – O facto de o Benfica defrontar Sporting, FC Porto e Sp. Braga fora na segunda volta do campeonato pode ser prejudicial?

G – Temos de estar conscientes do nosso trabalho, onde quer que seja, e temos condições para ganhar em qualquer campo.

R – A continuidade na Liga dos Campeões também está mais complicada, depois do empate com o Ajax. Acredita no apuramento para os oitavos-de-final ou já pensa na possibilidade de jogar a Liga Europa?

G – Não vamos deixar de lutar porque não vamos entrar em campo a pensar noutra coisa que não a vitória. Temos de pensar um jogo a seguir ao outro e o nosso trabalho tem de ser sempre feito dessa forma.

R – O que é que sentiu quando Rui Vitória o chamou para entrar em campo frente ao Bayern Munique, na sua estreia na Liga dos Campeões?

G – Foi emocionante! Sentir aquele ambiente e ouvir o hino da Champions já foi especial, mas o facto de ter entrado foi ainda melhor. Senti-me muito bem e emocionado por ter realizado um sonho.

R – Foi titular em seis dos nove jogos que já realizou esta temporada. Esperava ser opção do treinador assim tão depressa?

G – Isso foi uma surpresa para mim, confesso. Estava numa situação de transição, depois de ter estado durante algum tempo afastado no meu anterior clube [Leganés], e sabia que podia chegar e ter logo uma oportunidade. Nunca sabemos o que vai acontecer, mas estava preparado e procuro sempre isso: estar pronto para quando o treinador precisar.

R – Joga numa posição com concorrência muito forte, como o Pizzi, o Gedson ou o Krovinovic. Como é que funciona essa luta pela titularidade?

G – É o mais saudável possível no futebol. É uma luta que só vai levantar o nível na equipa e é muito bom para todos. Eleva o nível do Benfica porque o mais importante é que os 11 titulares e os suplentes possam dar o melhor.

R – Como é que tem sido a experiência de trabalhar com Rui Vitória?

G – Ele tem comentado comigo algumas coisas que quer que eu melhore. Aos poucos, vamo-nos adaptando. Ainda estou a habituar-me a um estilo de futebol diferente e aos novos companheiros mas, com tempo, vou-me encaixando.

R – Quais foram as maiores diferenças que encontrou no nosso futebol?

G – Talvez o ritmo de jogo. Em Espanha os jogadores têm um toque de bola mais pausado, não é tão intenso. Aqui as equipas são muito abertas, atacam e defendem de forma muito direta. De resto, não houve uma mudança assim tão drástica.

R – O Gabriel e o Vlachodimos são os reforços que mais vezes têm jogado esta temporada, ao contrário de Castillo e Ferreyra, que ainda não se afirmaram na equipa. Por que motivo acha que isto acontece? É uma questão de adaptação?

G – Creio que é uma questão de tempo e de oportunidade. O treinador é que escolhe, mas a hora de cada um vai chegar. Não tenho dúvidas disso. Não está em causa a qualidade deles, só têm de esperar. Ainda vão mostrar o seu valor.

R – O Benfica tem jogado em 4x3x3 mas também pode atuar em 4x4x2. Tem preferência no sistema de jogo?

G – Sinto-me confortável dentro de campo, seja onde for. Estou cómodo desde que jogue. Seria pior não estar feliz por não jogar. Sempre que estiver em campo vou tentar dar o meu contributo à equipa.

R – É um dos trunfos da equipa, a possibilidade de jogar de várias formas?

G – Acredito que sim. O nível da equipa sobe dessa maneira, com a versatilidade dos jogadores. No Benfica os jogadores, principalmente no meio-campo, podem jogar em mais do que uma posição, e isso é positivo para o treinador, que pode utilizar vários futebolistas em posições diferentes. Acaba por dificultar a escolha do treinador, mas isso é uma coisa boa.

R – O que é que o surpreendeu mais no futebol português?

G – Talvez a intensidade que existe em todas as equipas e a vontade de atacar e defender. É muito intenso. Em Espanha vemos equipas mais conservadoras, que defendem sabendo que não vão conseguir muito mais no jogo, mas em Portugal o jogo é mais direto. As equipas por vezes estão em desvantagem mas não têm medo de tentar o golo. São equipas muito verticais.

R – No Leganés, porventura, tinha essa mentalidade mais conservadora quando defrontava equipas como Barcelona ou Real Madrid…

G – Nesses jogos, em particular, tínhamos esse pensamento de que a vitória era muito difícil, ainda mais fora. Tínhamos essa mentalidade mais defensiva. Aqui em Portugal a mentalidade dos clubes é muito mais aberta. Uma equipa pode perder por quatro ou cinco golos, mas pelo menos tenta e vai para cima do adversário.

R – Como têm sido estes primeiros meses no Benfica? A adaptação foi fácil?

G – Estes primeiros meses aqui têm sido muito bons. A equipa recebeu-me muito bem e isso foi importante para mim. Ainda estou num período de adaptação, mas tem corrido tudo muito bem. O grupo é excelente e não tenho nada a apontar.

R – E deu-se bem logo de imediato com os outros jogadores brasileiros do plantel?

G – Sim, fui muito bem recebido por eles, mas foi assim com todos. Houve logo uma proximidade boa, foram todos excecionais.

R – Estava à espera de encontrar esta realidade no Benfica?

G – Sim, sem dúvida! Imagino sempre o melhor, ainda mais falando de um clube gigantesco como o Benfica. O ambiente do clube surpreendeu-me muito pela positiva e também gostei muito do facto de ter sido bem recebido. Esperamos sempre que as coisas sejam boas, mas não tão boas como aconteceu comigo aqui. O ambiente é muito bom e gosto especialmente do facto de falarmos sobre conquistar títulos. Para mim é uma coisa nova mas é algo com o qual sempre sonhei na minha carreira.

R – O processo da sua contratação foi muito longo. Chegou a temer que essa mudança pudesse não acontecer?

G – A minha vontade sempre foi vir para o Benfica e mostrei isso desde o primeiro momento. Deixei isso bem claro! No final, a vontade do jogador é que conta porque ninguém quer ficar infeliz num determinado lugar. Ou não ia jogar ou ia fazer o meu trabalho mal feito. Acreditei sempre que as pessoas que estavam contra a minha saída acabariam por compreender e iriam facilitar a minha mudança para o Benfica. Durou um pouco mais do que pensava, desgastou-me e até me prejudicou fisicamente, porque não treinava com o grupo, mas aconteceu o que tinha de acontecer. Estou muito feliz.

R – Chegou a conversar com os dirigentes do Leganés para tentar convencê-los?

G – Durante todo esse período tivemos, no mínimo, cinco reuniões num mês. Fui sempre muito sincero, todos conhecem a grandeza do Benfica e o salto do Leganés para aqui é muito grande. Mas todos os jogadores sonham com isso. Fui apenas sincero com eles para que entendessem o meu lado.

R – Houve também, da parte do presidente do Benfica, essa vontade forte de contar consigo na equipa…

G – Fico agradecido, claro, e isso contou muito. Sei que devem ser oferecidos ao Benfica milhões de jogadores, e ficar todo aquele tempo à espera de um jogador cativou-me bastante. Senti que, realmente, estavam à espera de mim e não de outro jogador. Fico muito agradecido por essa espera e pela paciência.

R – Assinou contrato até 2023. Tem vontade de cumpri-lo até ao fim?

G – Claro que sim! Nesse espaço de tempo posso fazer coisas importantes, mostrar o meu trabalho e melhorar cada vez mais. Tenho adorado estes primeiros tempos aqui e a minha namorada também gostou bastante. Vejo-me aqui no Benfica durante todo este tempo.

R – Hoje em dia os jogadores de futebol ficam muito colados ao preço e às cláusulas de rescisão. Esses valores mexem consigo ou são apenas números?

G – O preço que pagaram não foi imposto por mim e, por isso, não muda nada. O valor que tento demonstrar não é financeiro, mas sim em campo e como pessoa. Esse, para mim, é o valor maior.

R – Quem tem estado mais em foco é o Jonas, que tem feito muitos golos nos últimos jogos, depois de um período complicado em que esteve afastado por lesão. Vê nele a vontade de continuar a marcar ainda mais nos próximos compromissos da equipa?

G – Vontade de marcar e facilidade! Vemos isso ao longe. É um jogador muito importante para a equipa, todos conhecem a qualidade dele e o potencial que tem nos últimos 20 metros. É um jogador decisivo.

R – Ficou surpreendido com a qualidade dele?

G – Sim! Só o facto de estar perto dele nos treinos dá para perceber que é um jogador diferente. É alguém que só pode acrescentar coisas boas à nossa equipa.

R – Um dos jogadores que o acolheu foi Luisão, que ainda chegou a treinar-se consigo antes de terminar a carreira. Gostou da forma como ele o recebeu no grupo?

G – Claro que sim! Quando cheguei até brinquei com ele. Vim para o Benfica depois de uma paragem para os jogos das seleções e ele também não estava a treinar muito connosco, por motivos físicos. Até lhe disse: ‘Cara, pelo menos treina um dia para eu poder dizer que treinei contigo.’ Apesar de tudo, foi uma honra e foi muito importante ter passado com ele esse curto período.

R – Marcou sempre mais do que cinco golos em cada uma das três temporadas em que jogou em Espanha, ao serviço do Leganés. É uma arma que ainda espera colocar em prática no Benfica?

G – Sim, para os médios é importante ser decisivo nos jogos algumas vezes. No Benfica ainda não aconteceu, mas acredito que, mais cedo ou mais tarde, vai acabar por acontecer e ainda vou ajudar a equipa com golos.

R – Curiosamente, esteve quase a marcar no jogo com o Ajax, mesmo no último lance. Como é que se sentiu sabendo que tinha no pé esquerdo a possibilidade de dar a vitória à equipa?

G – Foi mesmo uma situação complicada porque aquele lance era decisivo e poderia ter mudado toda a história. Aliás, nem estaríamos aqui a falar desse momento negativo e da nossa sequência de derrotas se tivesse marcado aquele golo. Pensei muito sobre o lance depois do jogo e também no dia seguinte, mas não posso ficar refém daquele momento, caso contrário as coisas não andam para a frente. Não vale a pena olhar para trás e chorar sobre o leite derramado. Podem ter a certeza de que ninguém ficou mais triste do que eu, mas quem está em campo está sujeito a estas situações. Agora temos de pensar no próximo jogo e, quanto a mim, vou pensar apenas em continuar a ajudar o Benfica.

R – O seu treinador no Leganés, Asier Garitano, disse a Record, recentemente, que um dos pontos fortes do Gabriel é mesmo a capacidade que tem de superar os momentos mais negativos. Concorda com ele?

G – Passei três anos com o Garitano, foi um treinador importantíssimo para a minha carreira. Conheceu a pessoa que sou e disse muito bem! A minha mentalidade é mesmo essa. Um futebolista pode passar por clubes mais pequenos, mas aquilo que o diferencia dos outros é mesmo a mentalidade que tem. E a minha mentalidade é de vencer sempre e querer sempre mais e, pelos vistos, o meu antigo treinador conseguiu ver isso em mim. Fico muito feliz e vou tentar passar isso também para vocês para que conheçam melhor o Gabriel.

R – Com apenas 24 anos já era capitão no Leganés, o que também demonstra esse perfil que tem. Sente que já tem influência também no seio do balneário do Benfica?

G – O nosso grupo é muito bom e dá abertura para tudo, até para os jogadores mais novos falarem. Por vezes, quando chegam a um clube, estão sempre mais calados, mas aqui o ambiente é completamente aberto. Dão espaço para falar a todos e creio que todos os jogadores se sentem importantes dentro do balneário. É um dos pontos fortes do nosso grupo, mas, neste momento, estamos muito bem representados pelo nosso capitão, o Jardel.

R – Em que medida é que a experiência que acumulou em Itália e em Espanha foi importante para a sua carreira?

G – Cheguei muito cedo ao futebol europeu e a verdade é que isso ajudou-me em vários fatores. Tornei-me um jogador mais maduro muito cedo, pois cheguei quando tinha apenas 17 anos. Tive de acelerar o processo. O facto de também ter chegado a um clube grande, como a Juventus, e de ter partilhado o balneário com grandes futebolistas, também conta muito para essa tal experiência. Lembro-me que olhava para um lado e tinha o Buffon, olhava para o outro e tinha o Del Piero… Confesso que até ficava um pouco assustado, mas todos eles eram pessoas fenomenais e passavam-nos muitas coisas boas, principalmente aos jogadores mais jovens. Se mostrar disponibilidade e vontade para aprender, é algo muito bom.

R – Não é fácil para um jogador sair de uma cidade pequena, como Resende, e mudar-se para um clube como a Juventus. Como é que lidou com essa mudança?

G – Também me ajudou o facto de ter ido com o meu irmão e com os meus pais. Se não fosse dessa forma não teria saído do Brasil. Falámos muito sobre isso na altura. Tinha 17 anos e havia outras opções, outros clubes grandes no Brasil, mas nada comparado com a Juventus. Digo que é quase impossível que um jovem de um clube pequeno no Brasil recuse a Juventus, mas se os meus pais e o meu irmão não fossem comigo eu não sairia de certeza. Foi uma adaptação muito boa porque estava com a família, mas também foi difícil.

R – Como é que a Juventus o descobriu?

G – Estava a jogar o Campeonato Carioca de 2011 e o Ronaldinho Gaúcho tinha acabado de trocar o AC Milan pelo Flamengo. Tinha os holofotes em Itália todos virados para ele. Tive a oportunidade de defrontá-lo e tive a missão de marcá-lo no jogo. Consegui fazer isso bem e, tanto em Itália como no Brasil, as pessoas escreveram sobre mim nos jornais. Foi um choque muito grande em Itália porque eu tinha apenas 17 anos. Despertou o interesse da Juventus e do Inter Milão. Acompanharam o campeonato até ao final e depois apresentaram-me a proposta.

A carreira de Gabriel

R – Foi difícil acreditar que o interesse da Juventus era real?

G – Sim, num primeiro momento. Foi um momento muito feliz e demorei a acreditar até que chegasse alguma coisa oficial. A Juventus portou-se muito bem, trataram-me bem e acabou por acontecer.

R – O Gabriel tem família portuguesa. Isso também tornou a sua adaptação mais fácil?

G – Sim, os meus avós da parte do meu pai são portugueses, do Porto. Não cheguei a conhecer o meu avô, mas a minha avó ia muitas vezes ao Brasil. E eu também vinha visitá-la sempre que podia. Já estava familiarizado com Portugal e sempre gostei muito. Já quando estava a jogar em Espanha aproveitava os dias livres para visitar Portugal. Agora estamos em Lisboa e está a ser muito bom. Já comentei com o meu empresário que os jogadores brasileiros deviam entrar na Europa sempre por Portugal, porque facilitaria muito a adaptação pelo modo de vida ou a língua. Existe também uma quantidade imensa de brasileiros no país. Tenho gostado muito de Lisboa e os meus pais também. Temos aproveitado a cidade.

R – E os adeptos abordam-no muito na rua?

G – Sim, e por vezes nem acredito que as pessoas me estão a conhecer. Demoro a perceber, mas lido muito bem com isso. Quando era criança tinha os meus ídolos e também gostava de ter um autógrafo e umas fotografias com jogadores. Entendo bem e lido superbem com isso. Falo com as pessoas como se fossem minhas amigas.

Comentários

Mostrar Mais
Botão Voltar ao Topo
A semana dos recados