Vendido ao Mónaco, por quase 16 milhões de euros, o médio diz ter dado o passo certo. Garante que não sente mágoa por não ter cumprido um sonho de miúdo, sublinhando que gostaria de voltar ao clube para jogar pela equipa principal. E deixa elogios à formação encarnada.
RECORD — O Mónaco está em todas as frentes: ocupa o quinto lugar no campeonato, está apurado para os oitavos-de-final da Champions e da Taça de França e para meias-finais da Taça da Liga. Melhor era difícil?
BERNARDO SILVA — Não começá-mos muito bem, mas agora estamos numa fase muito boa. Mantemo-nos nas quatro competições, o que é muito importante. jogamos de três em três, quatro em quatro dias. Esperamos alcançar melhor lugar possível no campeonato e chegar o mais longe que pudermos nas outras provas. Não temos qualquer prioridade. Pensamos em todas as competições e em todos os jogos, sempre para ganhar. Queremos dar tudo e, no final, veremos se consegui-mos um título.
R — No inicio da época, havia algumas dúvidas em relação a esta equipa, mas conseguiram mostrar que essas reservas não faziam sentido?
BS — É verdade que no início a equipa não esteve tão bem. Perdemos muitos pontos, o que é normal, tratando-se de uma equipa jovem, que precisou de tempo. Nos últimos dois meses, ganhános muitos jogos.
R—Qual foi o momento-chave, de viragem?
BS — O jogo fora com o Bayer Leverkusen, que vencemos. Foi aí que começámos a mudar, conseguindo uma série incrível. A equipa está mais identificada com Leonardo Jardim. Sendo um treinador novo, era normal que demorasse um pouco de tempo. Estamos contentes. Estamos a obter os resultados que sempre quisemos.
R— Passar a fase de grupos da Liga dos Campeões em primeiro lugar estava nas previsões?
BS — Foi uma surpresa, considerando que o grupo era muito equilibrado e o nível das equipas muito semelhante. O objetivo sempre foi passar: conseguimos ser primeiros, melhor ainda. Agora, esperamos passar o Arsenal. Não será fácil, sendo uma grande equipa. Trabalharemos como na fase de grupos, para passar a eliminatória. Se conseguirmos, pensareinos no passo seguinte. Ainda não analisámos o Arsenal, que tem dos melhores jogadores do Mundo.
R —A nível individual, contabiliza 23 jogos realizados, três golos e uma assistência. De acordo com o que esperava?
BS — Quando cheguei, o objetivo era trabalhar para jogar, não sabendo se isso aconteceria. Estou a conseguir e está a ser muito bom, quase perfeito.
R— Foi fundamental o conhecimento que Leonardo Jardim tinha de si?
BS – Sim, muito importante. Além disso, a equipa tem outros jogadores portugueses, pelo que a adaptação foi mais fácil, ajudou muito. No inicio, a mudança “bateu-me” um pouco. Mas tornou-se bastante fácil, porque houve muitas pessoas que me ajudaram. Foram fantásticos comigo!
R – Foi um salto enorme, da 2ª. liga portugusa para o principal campeonato francês…
BS – E ainda por cima considerando as exigências do campeonato francês, que é muito físico. De qualquer forma, o Monaco tem jogadores técnicos, o que me facilitou bastante.
R – Chegou ao Mónaco por empréstimo, mas há dias o Benfica comunicou a sua transferência em definitivo, por 15,7 milhões de euros…
BS – Cheguei emprestado e com contrato com o Benfiea até 2019. Sabia que tudo podia acontecer. Agora estou no Monaco e quero justificar o investimento, dar tudo pelo clube.
R – Foi informado da decisão de venda?
BS – Não, ninguém falou comigo. De certa forma, acabou por ser uma surpresa. Como disse, não sabia o que ia acontecer. Mas foi bom para mim, a nível desportivo e, sem dúvida, o melhor passo. Foi muito bom ter ficado no Mónaco, que confiou em mim e me deu oportunidade de jogar a um nível muito alto, Senti essa confiança do clube, dos dirigentes, da equipa técnica.
R – Jardim era o treinador de que precisava nesta fase da carreira?
BS – É reconhecido como um treinador que aposta em jovens jogadores. Tem-me ajudado muito e estou-lhe muito grato por isso.
R – Com a venda ao Mónaco, fecha-se um capitulo, o Benfica, e assim já não pode regressar, como dizia em outubro, em entrevista a record…
BS – Tenho contrato com Mónaco até 2019. Passei 12 anos no Benfica e é um clube que me diz muito. Sou benfiquista! No entanto, espero um dia voltar, pois adorava jogar na equipa principal. Agora não é o momento, estou muito contente no Mónaco.
R – Sai com mágoa por não ter mostrado todo o seu potencial na equipa principal do Benfica?
BS – Não sinto mágoa. Um miúdo, jogador e benfiquista, quando cresce no clube, quer chegará equipa principal. Não consegui mas estou contente pelo meu trajeto no Benfica, que foi muito bom.
R – Essa confiança que diz ter recebi-do em França não a teve no Benfica?
BS- Nos escalões deformação, recebi muita confiança das pessoas do Benfica. Mas a época passada, quando cheguei ao meu segundo ano de sénior, senti que não teria o meu espaço no Benfica, nem a confiança que queria. No Monaco senti-a e, como tal, fiz o quisera melhor para mim. Foi o passo certo, sem dúvida.
R-Apesar da distância, continua a acompanhar o clube onde se formou como jogador?
BS – Sim, claro! O Benfica é o meu clube e desejo que ganhe todos os títulos possíveis. O Benfica continua forte. Leva seis pontos de avanço para o FC Porto e espero no final da época poder celebrar mais um titulo. Se tudo correr normalmente, será campeão.
R – Esta época, estamos a assistir ao lançamento de mais um jogador da formação, Gonçalo Guedes, depois de João Teixeira, na pré-época. Surpreendido com a sua ascensão?
BS- Aos jovens do Benfica, que estão a afirmar-se, desejo-lhes a maior sorte. O clube tem escolas de formação muito boas e o que mais desejo é que façam parte da equipa principal e dêem muitas alegrias ao clube. Mas não estou surpreendido, visto tratar-se de um jogador muito bom. Dois anos mais novo do que eu e, quando era juvenil, já integrava os juniores, a minha equipa, e fazia a diferença. Espero que tenha um futuro brilhante e desejo-lhe tudo de bom. Tem capacidade para se impor no plantel principal e faço votos para que lhe sejam dadas oportunidades. Após a estreia, enviei-lhe uma mensagem a felicitá-lo. Não tenho tanto contacto com ele como com o João Teixeira, que é da minha idade, Também chegará à equipa principal e dará muitas alegrias se lhe forem dadas as oportunidades certas.
R – Continuam a sair jogadores da formação, como Rochinha, Fábio Cardoso, Rúben Pinto…
BS- O Benfica tem uma formação muito forte, mas os jogadores, quando chegam a certa idade, têm de procurar desafios, A equipa B é boa para primeiro ano de sénior, para fazer a transição mas depois precisam de novos desafios.
R- Sentiu alguma mudança na formação como centro de estágio?
BS – Quando cheguei ao Benfica, com 7 anos, a formação, não sendo fraca, não era das melhores em Portugal. Com o centro de estágio, o clube tem feito uma aposta a esse nível, possuindo condições perfeitas para criar jogadores. O que falta é conseguir aproveitá-los.
R – Em quem aposta para ser uma grande referência no futuro?
BS- Dos que conheço, há jogadores, muito bons, que podem fazer a diferença. João Teixeira, Gonçalo Guedes, Renato Sanches são jogadores muito bons e um dia poderão integrar a equipa principal.
R – Pela equipa principal dos encarnados, somou 31 minutos a temporada passada. Ainda foi a tempo de se sagrar campeão nacional. Momento único?
BS- Foi um privilégio ter jogado, ainda que tenham sido apenas três desafios, um em cada competição, fazer parte daquela festa e ganhar títulos pelo meu clube. No currículo, tenho os três títulos.
R – Guardou algo especial dessas conquistas?
BS – Guardei a camisola do meu primeiro jogo pela equipa A do Benfica [Cinfães, Taça de Portugal].
R – A utilização no Mónaco dá-lhe legitimidade para pensar na Seleção?
BS – O objetivo de qualquer jogador é chegar à Seleção. Espero consegui-lo, embora esteja tranquilo e nada ansioso.
R – A Seleção está no caminho do apuramento para o Europeu, apôs arranque em falso…
BS – Sim, estão no bom caminho. E muito importante que o faça. Seria desilusão não estar na fase final. Todos nós esperamos que possa lá estar, E sim, sonho ser convocado para o Europeu.
R – Para já, tem a Seleção sub-21…
BS – Fizemos um apuramento brilhante, vencendo todos os jogos. Espera-mos fazer um Europeu muito bom, chegando o mais longe possível, ou seja, tentar ganhá-lo. E uma boa geração. Esperamos que esta geração consiga fazer a passagem para a equipa A e assegurar o futuro da Seleção.
